Resenha: "Éramos seis"
ÉRAMOS SEIS Autora: Maria José Dupré Editora: Ática Número de páginas: 293 Nota: 5/5⭐ |
Oi, pessoal! Sei que andei um pouco sumida por aqui, mas foi porque eu estava muito atarefada com as coisas da escola (mas agora estou de férias, uhuu!).
Bom... em outubro, eu li "Éramos Seis", livro que peguei emprestado da minha avó. A obra já serviu de inspiração para diversas novelas (a mais recente é a de 2019, com Glória Pires, e foi a única adaptação que eu assisti até agora). O livro, lançado em 1943, é um clássico da literatura brasileira, e é, de fato, muito bom!
"Éramos seis" nos apresenta a história de Dona Lola e de sua família, a partir das memórias da mesma. O enredo se passa entre as décadas de 1910 e 1930, e é interessante ver as diferenças da época em comparação com os dias atuais, ver como era o cotidiano da época. O livro, que se passa em São Paulo, retrata, por exemplo, a Revolução Constitucionalista de 1932, e como isso impactou as famílias da época, a partir do sensível olhar de Dona Lola. É muito legal ver o retrato de eventos históricos por uma perspectiva mais íntima, mesmo que não seja de forma aprofundada (como ocorre nos livros de História). Além disso, o enredo não é extraordinário. É simples e cotidiano, mas a narrativa não é repetitiva e cansativa em nenhum momento. Talvez seja na simplicidade que vivam as coisas mais belas (e Éramos Seis está aí para provar exatamente isso). Esse é um livro para sentir, e irei falar mais sobre isso no decorrer desta resenha.
Por meio da obra, podemos acompanhar as vivências da família Lemos, formada por Dona Lola, Júlio, e seus 4 filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel. Lola e Júlio precisam dar muito de si para conseguir pagar as prestações da casa em que moram, cujo valor foi dividido para ser pago em 10 anos. A forma como a autora retrata o sentimento de angústia de Dona Lola com relação ao pagamento da casa é muito sensível, e ela consegue passar esse sentimento para o leitor também, que se vê torcendo pela família. Além da questão da casa, há também a questão da criação dos filhos, tão diferentes entre si. Podemos, também, acompanhar a relação de Lola com sua mãe e suas irmãs, Clotilde e Olga, que vivem no interior, com a sua tia rica, Emília, e com sua vizinha e melhor amiga, dona Genu.
Júlio, como um homem de sua época, reproduzia diversos comportamentos machistas, além de que ele era muito arrogante com relação aos filhos (menos Isabel, que era a sua favorita), sobrecarregando Lola no papel de educadora e constantemente afirmando sua autoridade dentro de casa. Não é um personagem fácil de se gostar, mas ele também teve seus momentos de baixar a guarda. Isso é algo que eu gosto bastante nesse livro: os personagens são humanos, e correspondem à realidade. Nem mesmo Dona Lola, a protagonista, é perfeita. Ela é apenas humana. Eu gosto desse realismo retratado por Maria José Dupré.
Outro personagem complexo da trama (talvez o mais complexo, na minha opinião) é Alfredo. Ao longo da narrativa, ele tomou diversas atitudes problemáticas, mas é difícil não simpatizar com ele, talvez porque somos apresentados a ele pela perspectiva de Dona Lola, uma mãe. Então, de certa forma, o olhar que direcionamos a Alfredo também é um olhar materno. Já Carlos, o filho mais velho, é extremamente responsável, e o melhor filho para Dona Lola. No entanto, ele também não é perfeito (ninguém no livro é), sendo um tanto estressado e tendo uma relação bastante conturbada com Alfredo. Julinho é responsável e calmo, sendo também considerado por Dona Lola um de seus melhores filhos. Isabel, a caçula, é mimada e superficial, mas se impõe e defende com unhas e dentes aquilo em que ela acredita, sendo um tanto teimosa e cabeça-dura. É interessante ver essa mudança de postura entre ela e Dona Lola, que é mais submissa (quando estava lendo o livro, assisti a uma resenha sobre ele, do canal "Ler Antes de Morrer", em que a moça fala sobre isso no início do vídeo. Eu, então, me atentei para essa diferença de comportamento ao longo da leitura, e é interessante notar isso).
"Éramos Seis" é uma obra extremante melancólica, extremamente sensível, extremamente humana. A forma como a autora retrata os sentimentos dos personagens é bela, e, durante a leitura, realmente somos tocados por esses sentimentos, como se fossem nossos, como se as memórias de Dona Lola fossem as nossas memórias. Eu amo a capacidade que um livro tem de despertar tantas coisas em nós, e eu amei tudo que esse livro despertou em mim. Toda a empatia, toda a melancolia. Creio que "Éramos Seis" tenha sido a minha melhor leitura de 2021 - até agora, claro. Enfim, eu recomendo muito! Uma obra para tocar a sua alma e para levar consigo para a vida.
Sobrecapa da novela de 2019 |