quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Solidão e amor em tempos de inteligência artificial ("Ela")

outubro 11, 2023 0 Comments
ELA
Diretor:
 Spike Jonze
Elenco Principal: Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Amy Adams Rooney Mara 
Ano de lançamento: 2013
Onde assistir: Netflix
Nota: 4,5/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje assisti ao filme "Ela", de Spike Jonze, que estava há anos na minha lista. Bom, ontem à noite finalmente dei o play nele e hoje pela manhã terminei de assisti-lo (faltei à escola porque estou doente. Maldita gripe). O filme é, sem sombra de dúvidas, um romance bastante peculiar. 


O longa se passa em um futuro não-tão-distante-assim e acompanha o solitário Theodore Twombly, interpretado brilhantemente por Joaquin Phoenix, cujo casamento terminou recentemente. Além disso, ele trabalha escrevendo cartas para diversas pessoas: namorados, familiares, amigos, etc, e é bastante reconhecido por seu trabalho. Logo no começo do filme, Theodore decide comprar e instalar um Sistema Operacional em seu computador, Samantha, que recebe a voz de Scarlett Johansson. Os dois desenvolvem uma amizade e, com o passar do tempo, desenvolvem um romance, o que levanta uma série de questionamentos. Os sentimentos de Samantha são genuínos ou seu amor é apenas uma resposta aos sentimentos de Theodore, pois foi programada para mimetizar os sentimentos humanos? 


No começo do filme eu pensei: "caramba, Theodore está tão carente que se apaixonou por uma inteligência artificial", mas, enquanto os minutos passavam, fui, surpreendentemente, sendo cativada pelo peculiar casal. Samantha é tão verossímil que chega a ser assustador. E fica claro que o que Theodore sente não se resume à carência: ele realmente se encanta e se apaixona por Samantha. Os sentimentos dela, por sua vez, também não parecem irreais, muito pelo contrário. "Ela" no entanto, não se preocupa em responder se os sentimentos de Samantha são verdadeiros ou não. Talvez não precise, justamente para gerar reflexão a quem assiste. De qualquer forma, é espantoso o quanto o sistema operacional transborda genuinidade, chegando a parecer realmente um ser humano. Porém, é preciso lembrar: o sistema operacional não é humano, por mais que pareça com um. 



Aliás, algo importante a ser mencionado, é o quanto o futuro do longa não chega a ser distópico, pelo menos na minha opinião. O mundo não está se acabando, a tecnologia não destruiu a humanidade. Na verdade, o futuro de "Ela" parece bastante com os dias atuais. O tempo inteiro as pessoas estão falando sozinhas com seus computadores, imersas em meio à tecnologia, alheias aquilo ao redor. Parece o presente, não? Quantos de nós nos perdemos nas telas de nossos celulares por horas e nos esquecemos da vida real? Ademais, no futuro do filme, as pessoas se tornam amigas (e até namoradas, como o caso de Theodore) da inteligência artificial. Isso também não me parece muito distante, mas não deixa de ser assustador. A solidão se torna tão presente na sociedade que recorrer a relacionamentos com os computadores acaba se tornando uma prática comum, como uma tentativa de preencher o vazio que carregam no peito. As pessoas estão tão conectadas à tecnologia que o contato humano, real, é reduzido. Acho no mínimo triste, porém não impossível de acontecer. 


Acho que estamos todos em busca de amor, de compreensão, de reciprocidade. Em "Ela", todavia, é possível preencher esse vazio com uma inteligência artificial super avançada. Mas isso não real. A inteligência artificial foi programada para servir e imitar os seres humanos. Ela não é humana. Samantha desenvolve uma consciência própria, mas quanto daquilo ali é realmente Samantha e quanto daquilo é apenas programação? Como eu disse no começo desse texto, eu fui cativada pelo romance de Theodore e Samantha, porque Samantha parece real e é realmente encantadora e tudo em torno deles parece real. Mas não é. Theodore queria ser compreendido e amado, e uma inteligência artificial foi capaz de lhe dar isso, sem os desafios e complexidades de um relacionamento verdadeiro, pois o objetivo da IA é servi-lo, agradá-lo. O sistema operacional se molda para atender as necessidades de quem o usa, e Theodore necessitava de amor. No fim, Theodore amou e sentiu-se amado. 


Em determinado momento do filme, Samantha e Theodore estão passeando, e o seguinte diálogo se desenrola (eu, particularmente, adorei ele):


Théo: O que você está fazendo?

Samantha: Estou só observando o mundo... e compondo uma nova peça de piano.

Théo: Ah, é? Posso ouvi-la? 

Samantha: Hum-rum. 

A música começa a tocar.

Theo: Essa é sobre o quê?

Samantha: Estava pensando... Como nós não temos fotos da gente, achei que essa música poderia ser como uma fotografia que registre este momento de nossa vida juntos. 

Theo: Gostei da nossa fotografia. Consigo te ver nela. 

Samantha: Eu estou. 


Eis a música, que é simplesmente belíssima:


O filme também conta com outra música muito marcante, The Moon Song, que eu já conhecia antes mesmo de assisti-lo.


Outra passagem que gostei muito é quando Theodore decide escrever uma carta para sua ex-esposa (Rooney Mara):


Querida Catherine, 

Estou aqui pensando em tudo pelo qual eu gostaria de me desculpar. Por toda a dor que causamos um ao outro. Toda a culpa que eu te atribuí. Por tudo que eu precisava que você fosse ou que você dissesse. Sinto muito por isso. Sempre vou te amar, porque nós amadurecemos juntos, e você me ajudou a fazer de mim quem eu sou. Eu só queria que você soubesse que sempre haverá uma parte sua em mim e que sou grato por isso. Quem quer que você venha a se tornar e onde quer que você esteja no mundo, estarei te mandando amor. Você será sempre minha amiga. 

Com amor,

Theodore


"Ela" é um longa-metragem que levanta diversos questionamentos, como apontei, valendo bastante a pena. É melancólico, sensível, tem um bela trilha sonora e a fotografia é simplesmente impecável! Recomendo fortemente ❤


Na minha humilde opinião, Joaquin Phoenix está uma gracinha neste filme. Este é apenas mais um motivo para assisti-lo (eu acho uma razão super válida, aliás).