domingo, 6 de julho de 2025

Resenha: "Poemas de Alberto Caeiro"

POEMAS DE ALBERTO CAEIRO
Autor:
 Fernando Pessoa
Editora: L&PM
Número de páginas: 144
Nota: 5/5 ⭐❤


Oi, pessoal! Dia três desse mês concluí a leitura de "Poemas de Alberto Caeiro", publicado em edição de bolso pela editora L&PM e que reúne poesias de um dos mais famosos heterônimos de Fernando Pessoa. Caeiro é considerado o mestre dos heterônimos e do próprio Pessoa, sendo também o "poeta da Natureza", constantemente exaltada em seus versos (que muito me encantam e que me encantaram, mais uma vez!). Peguei emprestado da minha mãe, que possui uma coleção de livros do autor - para a minha felicidade. 


Esta edição está bastante organizada, possuindo dois textos de apresentação: um sobre Fernando Pessoa de um modo geral, com breves apresentações sobre Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis - seus três principais heterônimos - e o outro sobre, especificamente, Caeiro. Além disso, as poesias são acompanhadas de notas de rodapé que ampliam a visão apresentada nos versos. Tais detalhes tornam a leitura ainda mais rica e permite que conheçamos melhor a obra do autor - ortônimo e heterônimo -, nos fazendo compreender melhor seus poemas. Ao final, há, ainda, uma cronologia que relata, brevemente, eventos marcantes de sua vida. Por fim, a edição também é dividida em três partes: "O Guardador de Rebanhos", "O Pastor Amoroso" e "Poemas Inconjuntos". 




Em "O Guardador de Rebanhos", temos a oportunidade de ler poemas que Fernando Pessoa escreveu, sob a identidade de Alberto Caeiro, em 8 de março de 1914, o "dia triunfal" em que ele criou seus três grandes heterônimos. Nesses poemas, o mestre da Natureza reflete sobre o mundo natural que o cerca e aquele que carrega dentro de si, negando o ato de pensar e valorizando as sensações e aquilo que se pode ver e ouvir (como ele mesmo diz: "E os meus pensamentos são todos sensações"). São poesias sensíveis e belas, algumas que já conhecia e já amava, e outras que passei a conhecer e a amar. É o caso, por exemplo, do poema II, que possui um verso que nunca esqueço e que carrego em meu coração: "Sinto-me nascido a cada momento/Para a eterna novidade do mundo". Tenho até uma ecobag com esta frase estampada, que comprei em minha visita à Casa de Fernando Pessoa em minha viagem à Lisboa no ano passado! O meu poema favorito desta primeira parte (e talvez do livro todo), entretanto, foi um que nunca antes havia lido, o poema VIII. Nele, Alberto Caeiro reflete sobre o Menino Jesus, que vive com Caeiro em sua aldeia. Há uma terna descrição da infância de Jesus como criança, ao mesmo tempo em que se humaniza a figura divina de Cristo de uma forma muito linda e poética. 


Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com meus sonhos. 

Vira uns de perna para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate as palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono. 

-----------------------------

Quando eu morrer, filhinho, 

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo 

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

Para eu tornar a adormecer. 

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é.


Na segunda parte da obra, "O Pastor Amoroso", temos a oportunidade de ler as poesias românticas de Alberto Caeiro, que, apaixonado, transforma suas convicções. Se antes ele recusava o ato de pensar, agora pensa sobre a pessoa amada, embora não seja correspondido. É a parte mais breve do livro, mas não menos interessante. Aqui, embora dedique suas poesias a quem ama, o autor continua a valorizar a natureza e a conectar-se com ela.


Tem o cabelo de um louro amarelo de trigo ao sol claro,

E boca quando fala diz coisas que não só as palavras

Sorri, e os dentes são limpos como as pedras do rio.


Na terceira e última parte, "Poemas Inconjuntos", Caeiro retorna àquele que era antes das vivências contidas em "O Pastor Amoroso". Os poemas continuam sensíveis, exaltando o natural, aquilo que realmente é e as sensações. Muitos dos meus poemas favoritos estão aqui, como "Quando vier a primavera", que considero tão bonito que decorei na íntegra. Ademais, pude conhecer mais poesias que gostei bastante, como "Na noite de S. João para além do muro" e outras!


Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,

Não há nada mais simples. 

Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.

Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.



Por tudo que disse aqui, recomendo bastante a leitura deste livro! É sempre uma boa experiência ler Fernando Pessoa, e poder conhecer melhor as poesias de Alberto Caeiro também o foi. Se tiver interesse, pode ler também as resenhas de "Fernando Pessoa: Poesias", pequena antologia poética que me introduziu à sua obra, de "Poetas de Lisboa", que reúne poesias suas e de outros grandes poetas portugueses, e, por fim, a postagem que fiz relatando minha visita à sua casa (esta aqui!). Até a próxima, pessoal ;)


Quem me dera que eu fosse o pó da estrada 

E que os pés dos pobres estivessem me pisando...


Quem me dera que eu fosse os rios que correm

E que as lavadeiras estivessem à minha beira...


Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio

E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...


Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro

E que ele me batesse e me estimasse...


Antes isso que ser o que atravessa a vida

Olhando para trás de si e sentindo pena...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se de ser sempre gentil e respeitoso(a) nos comentários 😊 Obrigada pela visita!