quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

"La La Land": sonhos, música e a infinitude de amores finitos

LA LA LAND
Elenco principal:
 Emma Stone, Ryan Gosling, Jonh Legend
Diretor: Damien Chazelle
Classificação indicativa: Livre
Ano: 2016
Onde assistir: HBO Max, Star+, Globoplay, Paramount+
Nota: 4,8/5⭐


Oi, pessoal! Hoje irei falar sobre "La La Land", famoso romance musical que fez a limpa no Oscar de 2017. Adianto desde já que este texto conterá spoilers, porque o foco dele é falar sobre a minha visão do longa-metragem.

Conheço o filme desde a época do Oscar, e inclusive já havia tentado assisti-lo outras duas vezes. Tentei assisti-lo nas outras vezes por causa da música "City Os Stars", uma das mais marcantes e a mais famosa do longa, pela qual era completamente obcecada em 2018. No entanto, apesar de amar a canção e volta e meia eu ainda escutá-la, não terminei de assistir ao filme nenhuma das duas vezes em que tentei assisti-lo. Na primeira, larguei antes da metade. Na segunda, até tinha passado um pouco do meio, mas larguei do mesmo jeito e pelo mesmo motivo: estava achando chato. Isso foi por volta de 2018/2019. Passaram-se anos desde então, e, embora no começo minha opinião sobre "La La Land" fosse: "Eu achei o filme tão ruim que não consegui terminar de vê-lo nenhuma vez", com o passar do tempo esta opinião foi se transformando em um: "Ok, eu não gostei das outras vezes, mas um dia darei mais uma chance e irei até o fim para ter uma opinião concreta". Pois bem. Segunda-feira (hoje é quinta) eu fui até o final. E, sinceramente? Eu não me arrependo. Valeu a pena dar essa nova chance à "La La Land" e ter esperado um bom tempo para tentar assisti-lo novamente, até porque a percepção que temos sobre as coisas mudam e, mesmo que eu tivesse ido até o final das outras vezes, talvez eu nem tivesse gostado. É uma questão de compreensão e perspectiva. Ir até o final, no entanto, foi crucial para que eu gostasse do longa, mas falarei mais sobre isso adiante. Enfim. Talvez seja um filme superestimado, como muita gente diz, mas isso sinceramente pouco me importa. Eu gostei, ele me cativou e me emocionou, e é por isso que senti necessidade de escrever sobre ele aqui. 


Já estava pensando em assisti-lo inteiro há um tempinho, mas o pontapé mesmo foi uma cena lá do final do filme, que apareceu pra mim no Instagram e eu nunca tinha chegado a assistir. Achei interessante e percebi que era a hora de eu dar outra chance à "La La Land". Outros fatores que influenciaram foram as músicas, obviamente, e a fotografia. Eu não ligava para esse último aspecto antigamente, mas agora é algo no qual eu gosto de prestar atenção. Aliás, a fotografia aqui é belíssima, e, em alguns momentos, eu diria inclusive poética.



Antes de começar a falar mais sobre a minha opinião de fato, agora que eu já vi ao filme inteirinho, vou escrever uma breve sinopse. "La La Land" acompanha os protagonistas Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling) enquanto correm atrás de seus sonhos em plena Los Angeles. Ela trabalha como atendente em uma cafeteria e deseja ser atriz, sempre realizando testes de elenco. O problema é que ninguém nunca realmente enxerga seu potencial e ela não é aceita em papéis. Já Sebastian é pianista e tem o sonho de abrir um clube de jazz bem-sucedido na cidade. Para se sustentar, no entanto, ele precisa tocar em locais que não o deixam se expressar criativamente, tocando o que mandam enquanto ninguém realmente se importa, o que faz com que ele se sinta frustrado. Ambos se conhecem quando Mia, ao voltar a pé de uma festa, passa por uma espécie de restaurante e escuta uma música sendo tocada no piano, o que chama a sua atenção (é a música tema dos dois). Ela decide entrar no lugar, encontrando Sebastian e sendo a única pessoa ali realmente prestando atenção ao que ele toca. Esse encontro, no entanto, não é bem-sucedido, pois Sebastian é demitido por não tocar as músicas que o chefe havia pedido. Irritado, ele passa direto por Mia e a ignora. Porém, os protagonistas se reencontram em uma festa, onde puderam recomeçar e se conhecerem melhor. A partir daí, o filme vai desenvolvendo o relacionamento de ambos, ao mesmo tempo em que eles perseguem os próprios sonhos e incentivam um ao outro. Aliás, o nome completo do longa em português é: "La La Land: Cantando Estações", porque a história de Mia e Sebastian é contada e dividida através das estações do ano. 


Dito isso, posso começar a falar melhor sobre o que penso de "La La Land", agora que o assisti de fato. O começo dele é realmente chatinho, não vou mentir. Eu pensei em largá-lo (sim, de novo!), mas desta vez eu estava determinada a ir até o fim. Alguns números musicais me deixaram um tanto impaciente, mas isso ocorreu mais na primeira metade. Além disso, é uma questão do gênero, que eu não costumo assistir, então busquei relevar. Afinal, as músicas são boas e a maior parte das cenas de dança são agradáveis de ver. Ainda bem que não é o tipo de musical que tem uma música e uma dança a cada 2 minutos e que é simplesmente insuportável de ver (senão eu creio que não teria conseguido resistir e relevar e largaria pela terceira vez). Alguns números musicais eu achei um pouco desnecessários, sim, mas nada que atrapalhe o rendimento da história. Como eu disse: dá pra relevar esses mais chatinhos. Há várias cenas que são bem legais, como a que Mia e Sebastian cantam e dançam juntos sobre os próprios sentimentos quando ainda estão se conhecendo e ela está usando um vestido amarelo. E, óbvio, não posso deixar de citar a própria "City Of Stars" e a música tema dos protagonistas, que aparecem diversas vezes ao longo do enredo para ajudar a construi-lo.




O filme foi me cativar de verdade na metade do verão (o filme começa pelo inverno). E é justamente quando vamos chegando ao final que o começo, que inicialmente eu considerei chato, passa a fazer mais sentido, porque agora nós temos a perspectiva do todo. É quando eu parei pra refletir sobre o que vi em tela, e sobre como é um filme bonito de acordo com o que foi trilhado.


"La La Land" ultrapassa o romance, sendo um filme sobre acreditar e perseguir nossos sonhos, sobre os impactos que outras pessoas podem ter em nossas vidas e, claro, sobre o amor. Aliás, a visão que o longa trás sobre o amor é interessante e diferente do que estamos acostumados a ver, o que torna tudo ainda mais instigante. O filme mostra que o relacionamento de Mia e Sebastian, embora não tenha durado para sempre, foi muito importante para o crescimento e evolução de ambos, de forma que ultrapassa a finitude da relação deles e impacta na vida dos dois para sempre. Ele, de certa forma, ressignifica o discurso do "não era pra ser", que existe quando relacionamentos terminam. Era pra ser, mas não era pra ser eterno. E tudo bem. Isso não quer dizer que não foi significativo. Mia e Sebastian, como casal, terminaram, mas o afeto e a relevância que ambos tiveram na vida um do outro permaneceram ali. O relacionamento deles não fazia mais sentido de acordo com o caminho que eles estavam trilhando, de acordo com o contexto das próprias vidas. Eles seguiram em frente, mas é nítido como o amor continuou a existir (e eu não estou falando necessariamente do amor romântico). 


A sequência final é simplesmente linda e genial. Mia se tornou uma atriz bem famosa, casou-se com um outro homem e teve uma filha com ele. Sebastian finalmente abriu seu clube, e se tornou bem sucedido em sua carreira. Assim, os dois estavam bem felizes com os caminhos que encontraram e trilharam. Eles se reencontram, cinco anos depois do término, no clube de Sebastian, enquanto ele se apresentava e Mia e seu marido o assistiam. Enquanto ele tocava a música tema dos dois no piano, quando a vê na plateia, "La La Land" mostra como a vida deles teria sido se eles tivessem continuado juntos, mas, para isso, as circunstâncias teriam de ter sido outras. Mas não foram, porque elas são o que são. É um pouco triste, quando você para pra pensar, e vou ser sincera: chorei. Dessa forma, voltamos à realidade. Sebastian termina de tocar, e Mia e o marido vão embora do clube, mas antes, Mia e Sebastian trocam olhares genuínos. Não porque querem reviver o passado, mas pela grandiosidade que tiverem na vida um do outro, que os levaram a estarem onde estavam. É uma cena singela, mas que tem um significado enorme. É como se pudéssemos sentir o sentimento deles, como se transbordasse para além da tela. Para isso, no entanto, não foi necessária nenhuma palavra, pois o filme fala por si só, assim como os gestos, os olhares e a canção. 

Então, o longa termina, deixando-me com lágrimas nos olhos e um nó entalado na garganta pela beleza do que eu acabei de ver e sentir. Como bem disse Vinícius de Moraes no "Soneto de Fidelidade", especialmente em seu trecho mais famoso: "Eu possa me dizer do amor (que tive)\Que não seja imortal, posto que é chama\ Mas que seja infinito enquanto dure". 



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