sábado, 25 de novembro de 2023

Dica de filme: "Verão de 85"

novembro 25, 2023 0 Comments

VERÃO DE 85 (ÉTE 85)
Diretor:
 François Ozon
Elenco principal: Benjamin Voisin, Félix Lefebvre, Philippine Velge, Valeria Bruni Tedeschi, Melvil Poupaud, Isabelle Nanty, Bruno Lochet
Classificação indicativa: 14 anos
Ano: 2020
Onde assistir: Telecine * Apple TV
Nota: 4,8/5 ⭐

Oi, pessoal! Hoje irei indicar um filme que assisti recentemente no Telecine, "Verão de 85" (coincidentemente, foi o 85° filme que vi este ano, de acordo com as minhas anotações). O longa superou as minhas expectativas, tem uma história interessante, uma bela fotografia e uma trilha sonora bem agradável também. 


"Verão de 85" acompanha uma breve história de amor que ocorreu na Normandia, litoral da França, durante o verão de 1985. A história se desenrola entre flashbacks ensolarados e um presente de tons frios e melancólicos, ficando claro que há algo de errado no ar. 

Logo no início, somos apresentados a Alexis (Félix Lefebvre), protagonista e narrador da história. Ele está dirigindo um barquinho, mas, após uma tempestade, o barco acaba virando. Desesperado e sem saber como agir, Alexis é socorrido por David (Benjamin Voisin), e os dois se tornam amigos instantaneamente. Entretanto, Alexis logo anuncia em sua narração que David está morto no presente, e então ficamos nos questionando o porquê dessa tragédia. No momentos atual, o filme mostra que Alexis está sendo julgado por causa de um crime relacionado à morte de David, situação que é esclarecida à medida que o longa avança. Os telespectadores, então, embarcam nessa relação de amor que culmina em um triste fim, se perguntando o que poderia ter acontecido.



Depois de ser resgatado por David, Alexis e ele passam a sair juntos. Assim, a relação de amizade logo se transforma em um romance. Inclusive, Alexis até passa a trabalhar na loja de artigos marítimos da mãe de David. Em determinado momento, também vale dizer, David propõe um pacto a Alexis: se um deles morresse, o outro deveria dançar sobre o túmulo do que se foi. A contragosto, Alexis acaba aceitando a proposta, e, após a morte de David, está determinado a cumprir com sua palavra. 


No presente, Alexis precisa lidar ao mesmo tempo com o luto e com acontecimento que culminou em seu julgamento. Dessa forma, o rapaz possui uma enorme dificuldade de falar sobre o ocorrido, se negando a fazê-lo quando a assistente social pede que narre os acometimentos para que ela possa ajudá-lo. Então, Alexis conta com a ajuda de seu professor de literatura, que propõe a ele que escreva sobre o assunto para conseguir lidar melhor com seus sentimentos e para conseguir contar a história à assistente social. 


Além disso, algo que certamente merece destaque e que eu gostei muito é a bela maneira como "Verão de 85" nos mostra os momentos de Alexis e David: a simplicidade e naturalidade nos gestos e nos olhares e a beleza da intimidade através de planos fechados. A fotografia e a caracterização oitentista das personagens estão fantásticas, e realmente chamaram a minha atenção!  




É interessante observar o relacionamento de Alexis e David e a diferença com que cada um enxerga a relação na qual estão envolvidos. Alexis se apaixona intensamente pelo amigo, enquanto David encara o relacionamento como uma efêmera diversão, e é claro que essa diferença de perspectivas resulta em mágoas. Essa diferença de expectativas. Outra questão levantada pelo longa é sobre o quão bem conheciam um ao outro e sobre o quanto Alexis era apaixonado por uma idealização de David, através de um diálogo que Alexis teve com sua amiga Kate (Philippine Velge). Quantos de nós não inventamos nossos amores, projetamos nossas visões sobre o outro? 


Créditos: @cinemalgbt via Instagram


"Verão de 85" é uma excelente e reflexiva pedida, que retrata a singeleza aa sexualidade, dos amores e da juventude de forma instigante e belíssima. Está mais do que recomendado! 


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Resenha: "Eu nasci pra isso"

novembro 24, 2023 0 Comments
EU NASCI PRA ISSO
Autora:
 Alice Oseman
Editora: Seguinte
Número de páginas: 368
Nota: 4/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Eu nasci pra isso", de Alice Oseman (mesma autora de Heartstopper)! Li em 1 semana (terminei ontem) e foi uma experiência agradável :)


O livro acompanha Angel Rahimi e Jimmy Kaga-Ricci, sendo narrado em primeira pessoa e alternando entre o ponto de vista dos dois. Angel é super fã do Ark, banda de rock que está dominando o mundo, e a acompanha desde que o Ark tinha começado a postar vídeos tocando no YouTube, quando os membros tinham acabado de entrar na adolescência. Assim, Angel viaja a Londres para assistir ao show da banda e passar a semana na cidade, ficando hospedada na casa da avó de sua amiga virtual, Juliet, que conhece graças ao interesse em comum pelo Ark. Angel fica super animada para passar a semana se dedicando ao Ark ao lado de Juliet, além de ficar feliz porque estava finalmente conhecendo a amiga com quem falava há anos na internet. No entanto, seus planos são frustrados quando ela descobre que Juliet chamou Mac para passar a semana com elas também. Mac é um amigo virtual de Juliet, e também estava indo ao show do Ark. 


Em vários momentos me identifiquei com Angel e sua paixão pelo Ark, pois sou super fã do Arctic Monkeys e do Coldplay e adoro acompanhá-los! Entretanto, devo admitir que em certas passagens da narrativa eu achei a personagem um tanto chatinha e implicante, mas dá pra relevar. Algo perceptível em Angel é a forma como ela usa a banda para se distrair de seus problemas pessoais. Ela se agarra a essa paixão com todas as suas forças pois é por causa da banda que Angel acredita que ainda há algo de bom no mundo. Para ela, o Ark é perfeito, e a vida de seus integrantes é perfeita. Então, enquanto tudo estiver bem com o Ark, tudo ficará bem com ela. Eu creio que muitas pessoas podem acabar se identificando com Angel nesse aspecto também, pois nossas paixões realmente nos ajudam a atravessar a vida, mas precisamos entender que ela não se resume a nossas paixões, e essa é uma das lições da obra. 



Do outro lado da moeda temos Jimmy Kaga-Ricci, um dos membros da famosa boyband, junto de seus amigos Lister Bird e Rowan Omondi. Através de seu ponto de vista, conhecemos a loucura dos bastidores da vida pessoal da banda e o cotidiano frenético que levam. Além disso, Jimmy sofre seriamente de ansiedade, e toda a fama e a vida corrida apenas pioram o quadro. Para ser sincera, gostei mais de acompanhar o ponto de vista de Jimmy porque me permitiu refletir melhor sobre a vida que os famosos levam, e nem sempre eles passam por situações agradáveis em decorrência da fama: a falta de privacidade, o assédio constante, a saudade de casa, a vida desassossegada e de aparências... Essa questão faz Jimmy refletir sobre a própria carreira e sobre os caminhos que a banda está levando. Afinal, o Ark é um verdadeiro sonho para ele, mas a fama está custando a sua saúde mental, a sua felicidade. É muito interessante ver que para os fãs tudo parece perfeito, mas a realidade muitas vezes é  completamente diferente. Além de Jimmy, Lister e Rowan também precisavam lidar com seus problemas pessoais, como o fato de que Lister é alcóolatra e Rowan está em um relacionamento fadado ao fim. 


- Todo mundo é normal, não acham? - Bliss comenta. - Tipo, todo mundo é normal, todo mundo é esquisito, todo mundo só está tentando tocar a própria vida, manter a calma, seguir em frente. E se agarrar a qualquer coisa que lhes permita continuar.

- É - digo.

- É por isso que as pessoas entram em fandoms, formam bandas e tal. Só querem se agarrar ao que faz com que se sintam bem. Mesmo que seja tudo uma grande mentira. 

 

Gostei muito de ver como Alice Oseman contrasta a visão de Jimmy com a visão de Angel, pois nos permite ver o lado do famoso e o lado do fã. Mas eles não se resumem a isso: os dois tem as suas questões, as suas personalidades. Em determinado momento, os caminhos de ambos se cruzam, porém eu não irei dizer como, obviamente. Ah, e quando eu comprei o livro eu pensei que seria um romance, mas não é nada disso (isso não me decepcionou, é claro). Enfim! Outra coisa que gostei muito foi a forte representatividade presente na história. Angel, por exemplo, é mulçumana e Jimmy é um homem trans (inclusive, acho que esse é o primeiro livro que leio protagonizado por uma pessoa trans). Todavia, essas coisas são apenas detalhes de quem eles são, uma pequena parte de um enorme universo. Não é tudo. Alice Oseman retrata seus personagens de forma muito natural, como de fato é. Angel não se limita a ser mulçumana e Jimmy não se limita a ser trans, eles são muito mais do que uma parte de suas características. "Eu nasci pra isso" também faz várias referências bacanas, como ao Radiohead e ao The Killers, entre outras. O livro foi escrito em 2018 (embora tenha sido lançado no Brasil somente esse ano), mas poderia facilmente ter sido escrito em 2023 mesmo. 


O livro vem com um marcador de páginas e eu também ganhei um pôster bem bonito (porque comprei a versão com brinde), que possui o desenho da capa. Já pendurei inclusive! Olha aqui 👇🏼



Enfim, recomendo! Foi uma leitura bem interessante e agradável ;)


terça-feira, 14 de novembro de 2023

Resenha: "O Amor Natural"

novembro 14, 2023 0 Comments
O AMOR NATURAL
Autor:
 Carlos Drummond de Andrade
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 112
Nota: 3,3/5⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha do livro "O Amor Natural", de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1992, 5 anos após a sua morte. Já conhecia alguns poemas dele, e inclusive a escola ensinou (bem superficialmente, claro) um pouco sobre ele, quando estudamos os Modernistas da geração de 30. Entretanto, nunca havia lido uma obra sua, e "O Amor Natural" foi a primeira delas. É claro que, não sendo uma grande conhecedora da obra de Drummond e das características do autor, receio que a minha resenha acabe sendo um tanto superficial. Talvez no futuro faça uma releitura. Enfim.

O autor reuniu as suas poesias eróticas neste livro, e pediu para que ele fosse publicado somente após a sua morte a fim de evitar escândalos e polêmicas. Assim, "O Amor Natural" foi publicado postumamente por seus descendentes. A edição que li conta ainda, com um posfácio escrito por Mariana Quadros, refletindo sobre "O Amor Natural": os poemas contidos nele, a visão de Drummond acerca da obra e a face revelada do autor nesse livro. Tem também uma pequena cronologia da vida do autor no final do livro, juntamente com fotos suas. 

 

Os poemas aqui reunidos, como já apontado, são eróticos, sutis. Entretanto, eu diria que alguns são até pornográficos, explícitos, escancarados. Fiquei bastante chocada!! Talvez choque até mesmo aqueles que estão acostumados com as poesias de Drummond. Isso não significa, obviamente, que os poemas não possuem qualidade ou que eu não tenha gostado. Eu gostei de uns, não gostei de outros, alguns eu nem gostei nem desgostei e outros eu nem compreendi plenamente.


Foi uma leitura interessante e instigante, mas classificaria minha experiência como mediana e não acho que tenha sido uma leitura marcante. De qualquer forma, acho que valeu a pena pois pude conhecer alguns poemas que gostei bastante, tais como, "Sob o Chuveiro Amar", "Em Teu Crespo Jardim, Anêmonas Castanhas", "No Pequeno Museu Sentimental" e "Era Bom Alisar Seu Traseiro Marmóreo". Outra poesia favorita é "O Chão É Cama", que já conhecia há um tempinho pois tinha visto uma postagem na internet que falava sobre "O Amor Natural" e transcrevia esse poema. 

Por fim, recomendo a obra para quem quer conhecer uma faceta Carlos Drummond de Andrade pouco comentada ou para quem está em busca desse tipo de leitura! ;)


🌸 TRECHOS FAVORITOS 🌸


"O chão é cama para o amor urgente" - O Chão é Cama


"Vou beijando a memória desses beijos." - No Pequeno Museu Sentimental


"Você meu mundo meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. Você meu andar meu ar meu comer meu descomer. Minha paz de espadas acesas" - Você Meu Mundo Meu Relógio de Não Marcar Horas


"Só a bunda existia, o resto era miragem" - Era Bom Alisar Seu Traseiro Marmóreo 


"Em teu crespo jardim, anêmonas castanhas

detêm a mão ansiosa: Devagar.

Cada pétala ou sépala seja lentamente

acariciada, céu; e a vista pouse,

beijo abstrato, antes do beijo ritual,

na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado." - Poema completo "Em Teu Crespo Jardim, Anêmonas Castanhas"