sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Sobre a minha visita à Casa de Fernando Pessoa!

novembro 29, 2024 0 Comments
A fachada do museu! Essa foto foi tirada por minha mãe, e os pontinhos-pessoas contidos nela são eu e meu pai.


Oi, pessoal! Recentemente, estive em Lisboa com meus pais, e, em nosso primeiro dia na cidade, visitamos a Casa de Fernando Pessoa, local em que ele viveu durante os 15  últimos anos de sua vida e onde podemos conhecer um pouco de sua trajetória e de sua obra. Nessa postagem, irei falar um pouco sobre a minha experiência!


Fomos à pé, no dia 16 de novembro, pois ficava bem pertinho do nosso hotel. Pudemos conhecer um pouco das ruas de Lisboa, com ares de antiguidade e charme. As ruas próximas da Casa possuem luzes amareladas, que são acesas à noite e tornam tudo ainda mais encantado. Vale a pena dar uma passeada pelos arredores também! Enfim, estou apaixonada pela cidade, e a Casa de Fernando Pessoa foi literalmente a primeira coisa que visitei lá. E devo dizer: fiquei completamente extasiada!


A exposição é dividida em 3 pisos, e ainda há o térreo. O térreo abriga a lojinha e a recepção, onde compramos os ingressos para fazer a visitação. Em seguida, entramos no elevador e fomos para o último andar. 

Depois de pagarmos os ingressos, cada um de nós pegou esse guia de visita, para nos ajudar a explorar melhor o museu. Foto tirada pela minha mãe.

Lá, podemos conhecer mais sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos: a história deles, suas poesias e biografias. São 3 heterônimos: Aberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, todos com características próprias que os distinguem uns dos outros e do próprio Fernando Pessoa. Lá, aprendi que os heterônimos propriamente ditos são apenas estes 3 pois possuem uma biografia completa, com local, data de nascimento e morte, e os outros (que também são citados e explicados) são criações de Fernando Pessoa, mas não chegam a ser completamente heterônimos por não possuírem biografia completa. Eu não fazia a mínima ideia dessa informação, pois ela não é difundida, e achei bastante interessante. Nesse andar também se encontra quadros de Fernando Pessoa e a sua máquina de escrever, além de um espaço com espelhos em todas as direções, em que possível ver vários "vocês" e, em uma parede, a indagação: "Quantos sou?". Além disso, há poltronas com headphones ligado a uma tela (parecida com um tablet) apoiada na poltrona, contendo textos de Fernando Pessoa e de seus heterônimos, para você poder ler e ouvir. Achei muito massa! Eu escutei e li um texto do próprio pessoa sobre seus heterônimos e os belíssimos poemas "Apontamento" (que já conhecia e gostava), de Álvaro de Campos, e "Quando eu não te tinha", que eu ainda não conhecia e de autoria de Alberto Caeiro.


"Não me arrependo do que fui outrora / Porque ainda o sou. / Só  me arrependo de outrora não ter te amado" - Trecho de Quando eu não te tinha

 


 

No segundo andar, entramos em contato com alguns livros da biblioteca pessoal de Fernando Pessoa e com variadas edições de suas obras, publicadas em diversos países e línguas diferentes. 

Foto tirada pela minha mãe


No primeiro andar, mergulhamos ainda mais na biografia pessoal do escritor. Conhecemos um pouco de sua família, entramos em contato com objetos pessoais (como cadernos, seus famosos óculos, entre outros) e vemos retratos seus tirados ao longo da vida (desde que ele era um bebê até as fotografias tiradas em seus últimos dias de vida). Há, ainda, uma recriação como era seu quarto naquela casa e também podemos assistir, em uma tela e usando headphones, à uma entrevista com uma sobrinha de Fernando Pessoa, que morou com ele naquela casa. Ela conta como o era o local na época, como era sua convivência com o tio e qual era a sua perspectiva sobre ele, a partir de um relato permeado por suas memórias. Vale muito a pena parar para assistir, pois podemos conhecer uma perspectiva subjetiva do escritor que é também muito interessante e curiosa. 


"I know not what tomorrow will bring" ("Eu não sei o que o amanhã trará"), última frase escrita por Fernando Pessoa, no hospital em que ele foi antes de vir a falecer.

Para finalizar a nossa visita, descemos novamente para o térreo, onde fizemos outra festa com as lembrancinhas. Eu comprei uma lindíssima bolsa (tipo uma ecobag mais elaborada, embora tivesem ecobags "normais" também) com uma citação de Alberto Caeiro: "Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do mundo", um caderno da cor preta com a citação "Tenho escrito mais versos que verdade.", de Álvaro de Campos, (mas existem váááárias opções) e o livro "Poetas de Lisboa", obra que reúne algumas poesias de escritores portugueses em edições bilíngue (eu escolhi a espanhol-português, porque, mesmo que não fale a língua espanhola, lembra o português, e eu nem reparei se tinha em inglês). Enfim! Tem diversos livros, bonequinhos de Fernando Pessoa (minha mãe comprou um muito fofo!), imãs, bolsas, cadernos, canetas, canecas, etc. 


A Casa também conta com uma biblioteca, em que é possível alugar os mas variados livros, mas quando eu fui tava fechada. Tudo bem, fica para a próxima! 

Se você estiver indo à Lisboa, recomendo muito que passe pela Case de Fernando Pessoa. Há também a Fundação José Saramago e a Livraria Bertrand (uma das mais antigas do mundo!), lugares que também visitei e amei. Aliás, em todo canto da cidade, você encontra livrarias, sebos e referências à literatura. Para os amantes dessa expressão, a visita à cidade é realmente uma pedida excelente! Recomendo demais!!


MAIS FOTOS!! 🌸📚

Lendo e ouvindo atentamente os textos de Pessoa! Flagra feito pela minha mãe.
 

Retratos de Fernando Pessoa! Foto tirada pela minha mãe. 





Foto tirada pela minha mãe ;)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Resenha: "Poesia Que Transforma"

novembro 13, 2024 0 Comments
POESIA QUE TRANSFORMA
AUTOR:
 Bráulio Bessa
EDITORA: Sextante
NÚMERO DE PÁGINAS: 192
NOTA: 4,5/5 ⭐


Recentemente, ganhei de aniversário o livro "Poesia Que Transforma", de Bráulio Bessa, e foi uma leitura que me acompanhou durante o final de setembro e o mês de outubro! Já tinha entrado em contato com alguns dos cordéis do Bráulio, através do programa Encontro, - quando ainda era apresentado por Fátima Bernardes - mas nunca cheguei a acompanhá-lo de fato. Então, receber este livro foi uma ótima oportunidade de poder conhecer mais de suas poesias! E devo dizer que foi um presente que chegou em boa hora, uma vez que a preparação para o ENEM (especialmente no último mês) é uma loucura, e as palavras de Bráulio Bessa são cheias de compreensão, reflexão e de uma bonita simplicidade que acalenta a alma. 


Gosto de comparar a poesia a um abraço, que consegue  fazer um carinho na alma sem nem saber qual é a dor que você está sentindo. A poesia se adapta à sua dor. É um abraço cego e despretensioso, como quem diz: "Venha! Tá doendo? Pois deixe eu dar um arrocho, que vai lhe fazer bem.". 

 

Por meio de pouco menos que 200 páginas, podemos mergulhar em uma série de cordéis e ilustrações sobre os mais variados temas: família, amor, recomeço, sonhos, desigualdades, entre tantos outros. Além disso, Bráulio também escreve alguns textos contando um pouco de sua vida, como alcançou a fama, sua relação com sua cidade (Alto Santo, no interior do Ceará), sua família, etc, permitindo que conheçamos uma parte de sua trajetória, o que é bastante interessante. Ao final da obra, também foi disponibilizado alguns depoimentos de leitores que contam como a poesia de Bráulio Bessa impactou a vida deles, e acho que deve ser muito gratificante para um escritor ter acesso a esse tipo de coisa! Como já sugere o título, a poesia realmente transforma ❤ 


Foi uma boa leitura., leve e agradável! Recomendo!! 🥰❤




ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS ⭐

"Nem sempre engatar a ré
significa voltar" - Recomece, página 17    

"Acredite que sonhar
também é compreender   
que nem sempre o que se sonha
é o melhor pra você
e que não realizar
nem sempre será sofrer" - Sonhar, página 31

"O tempo é um segredo,
acredite, é muito cedo
pra dizer: Tarde demais" - Nunca é tarde, página 40

"talvez fosse o meu destino
nascido pra escrever
aquilo que faz bater
um coração nordestino"  - Coração Nordestino, página 49 

"Por ser inteira em pedaços,
por ser lar e por se lida,
por ser mil em uma só,
por ser sempre repartida,
por ser um pedaço de Deus
me dando um pedaço de vida" - Mãe, página 103

"O tempo não muda os olhos
mas mudou o meu olhar [...]" - Pai: de desconhecido à eterno, página 162

MORREU MARIA PREÁ          


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Sobre "Ainda Estou Aqui", novo filme de Walter Salles

novembro 11, 2024 0 Comments
AINDA ESTOU AQUI
Diretor:
 Walter Salles
Elenco principal: Fernanda Torres, Selton Mello, Valentina Herszage, Bárbara Luz, Guilherme Silveira, Luiza Kosovski, Cora Mora, Antonio Saboia, Maria Monoella, Marjorie Estiano, Gabriela Carneiro da Cunha, Olivia Torres, Fernanda Montenegro
Nota: 5/5 ⭐


Sábado fui ao cinema com meus pais para ver o novo filme de Walter Salles (que dirigiu Central do Brasil, um dos meus filmes favoritos, Terra Estrangeira, e tantas outras obras), "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Saí da sala de cinema chorando e estou completamente impactada! O longa é baseado em livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva - ainda não li, mas quero muito! Enfim. 

Antes de tudo, gostaria de salientar que a resenha que aqui publico é uma adaptação do que escrevi lá no Letterboxd (rede social focada em filmes, que já comentei tantas vezes por aqui), com uns pensamentos a mais.


O longa retrata a família Paiva em plena Ditadura Militar. Nos primeiros minutos do filme, podemos acompanhar um pouco de seu cotidiano: as brincadeiras, as festas com os amigos, as idas à praia... No entanto, o tom do filme muda quando Rubens Paiva (Selton Mello), pai e marido amoroso, ex-deputado e engenheiro, é sequestrado por militares, para, logo em seguida, ser torturado e assassinado. Após isso, vemos a luta de Eunice Paiva (interpretada brilhantemente por Fernanda Torres) em busca de justiça e em busca de se reerguer, mostrando-se uma figura muito resiliente. Assim, "Ainda Estou Aqui" é um retrato da Ditadura Militar, um retrato de tantas famílias brasileiras que vivenciaram os horrores daquele período, um retrato do Brasil, que ressoa de forma poderosa em todos nós. É a nossa própria história em tela. História esta negada vergonhosamente pelo próprio país. 


Em vários momentos do longa, questionei-me como há tantas pessoas que negam as atrocidades da Ditadura, que desejam o seu retorno e como há tantos militares que saíram impunes dos horrores cometidos e seguem assim até os dias de hoje. É lamentável e vergonhoso o quanto o Brasil empurra para debaixo do tapete as questões relacionadas à Ditadura Militar, amenizando-as e ignorando-as, portando-se como um país sem memória. Quase como se não tivesse ocorrido nada, como se o que ocorreu não tivesse importância, como se tivéssemos que esquecer aqueles tempos sombrios. Mas o esquecimento é condenar o país à alienação e ao retrocesso. Esquecer é dar voz a quem minimiza e enaltece tais horrores, como um tal presidente eleito que fazia arminhas com as mãos e adorava fazer piadas com as vítimas da Ditadura, com as torturas e com os assassinatos. Esquecer é retroceder eternamente. Então, é simplesmente urgente manter a memória do país acessa, para não repetir os horrores do passado e para honrar aqueles que lutaram por um Brasil justo e digno. E "Ainda Estou Aqui" faz isso com maestria. 




Além disso, as atuações de todo o elenco são impecáveis, e aqui destaco a de Fernanda Torres. Impossível não se comover com a jornada de Eunice em sua luta por justiça e com o cuidado que demonstra com os filhos e com o marido. A atriz transparece tão bem os sentimentos de Eunice que parece que estamos vendo a própria em tela: sua angústia, sua tristeza, sua força e seu amor. Também é perceptível a dedicação na produção do filme, que está presente até nos detalhes, como nas fotografias da família Paiva, fielmente recriadas pelo elenco, nas ótimas atuações, na trilha sonora setentista que muito combinou com o filme, entre outras coisas...


Muito se fala de "Ainda Estou Aqui" pelas premiações que levou e pelo potencial de ganhar o Oscar. No entanto, independentemente de qualquer premiação, este é um filme que merece ser visto. É a nossa história. É o cinema como uma ferramenta potente de arte que desperta nossos sentidos e que mantém viva nossas memórias. É o cinema brasileiro vivíssimo e brilhando. É preciso recordar para não esquecer, recordar para não repetir. Porque, parafraseando outro filme brasileiro, Uma História de Amor e Fúria, "O que a gente vive é resultado do que aconteceu no passado. Viver sem conhecer no passado é viver no escuro.".