segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Sobre "Ainda Estou Aqui", novo filme de Walter Salles

AINDA ESTOU AQUI
Diretor:
 Walter Salles
Elenco principal: Fernanda Torres, Selton Mello, Valentina Herszage, Bárbara Luz, Guilherme Silveira, Luiza Kosovski, Cora Mora, Antonio Saboia, Maria Monoella, Marjorie Estiano, Gabriela Carneiro da Cunha, Olivia Torres, Fernanda Montenegro
Nota: 5/5 ⭐


Sábado fui ao cinema com meus pais para ver o novo filme de Walter Salles (que dirigiu Central do Brasil, um dos meus filmes favoritos, Terra Estrangeira, e tantas outras obras), "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Saí da sala de cinema chorando e estou completamente impactada! O longa é baseado em livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva - ainda não li, mas quero muito! Enfim. 

Antes de tudo, gostaria de salientar que a resenha que aqui publico é uma adaptação do que escrevi lá no Letterboxd (rede social focada em filmes, que já comentei tantas vezes por aqui), com uns pensamentos a mais.


O longa retrata a família Paiva em plena Ditadura Militar. Nos primeiros minutos do filme, podemos acompanhar um pouco de seu cotidiano: as brincadeiras, as festas com os amigos, as idas à praia... No entanto, o tom do filme muda quando Rubens Paiva (Selton Mello), pai e marido amoroso, ex-deputado e engenheiro, é sequestrado por militares, para, logo em seguida, ser torturado e assassinado. Após isso, vemos a luta de Eunice Paiva (interpretada brilhantemente por Fernanda Torres) em busca de justiça e em busca de se reerguer, mostrando-se uma figura muito resiliente. Assim, "Ainda Estou Aqui" é um retrato da Ditadura Militar, um retrato de tantas famílias brasileiras que vivenciaram os horrores daquele período, um retrato do Brasil, que ressoa de forma poderosa em todos nós. É a nossa própria história em tela. História esta negada vergonhosamente pelo próprio país. 


Em vários momentos do longa, questionei-me como há tantas pessoas que negam as atrocidades da Ditadura, que desejam o seu retorno e como há tantos militares que saíram impunes dos horrores cometidos e seguem assim até os dias de hoje. É lamentável e vergonhoso o quanto o Brasil empurra para debaixo do tapete as questões relacionadas à Ditadura Militar, amenizando-as e ignorando-as, portando-se como um país sem memória. Quase como se não tivesse ocorrido nada, como se o que ocorreu não tivesse importância, como se tivéssemos que esquecer aqueles tempos sombrios. Mas o esquecimento é condenar o país à alienação e ao retrocesso. Esquecer é dar voz a quem minimiza e enaltece tais horrores, como um tal presidente eleito que fazia arminhas com as mãos e adorava fazer piadas com as vítimas da Ditadura, com as torturas e com os assassinatos. Esquecer é retroceder eternamente. Então, é simplesmente urgente manter a memória do país acessa, para não repetir os horrores do passado e para honrar aqueles que lutaram por um Brasil justo e digno. E "Ainda Estou Aqui" faz isso com maestria. 




Além disso, as atuações de todo o elenco são impecáveis, e aqui destaco a de Fernanda Torres. Impossível não se comover com a jornada de Eunice em sua luta por justiça e com o cuidado que demonstra com os filhos e com o marido. A atriz transparece tão bem os sentimentos de Eunice que parece que estamos vendo a própria em tela: sua angústia, sua tristeza, sua força e seu amor. Também é perceptível a dedicação na produção do filme, que está presente até nos detalhes, como nas fotografias da família Paiva, fielmente recriadas pelo elenco, nas ótimas atuações, na trilha sonora setentista que muito combinou com o filme, entre outras coisas...


Muito se fala de "Ainda Estou Aqui" pelas premiações que levou e pelo potencial de ganhar o Oscar. No entanto, independentemente de qualquer premiação, este é um filme que merece ser visto. É a nossa história. É o cinema como uma ferramenta potente de arte que desperta nossos sentidos e que mantém viva nossas memórias. É o cinema brasileiro vivíssimo e brilhando. É preciso recordar para não esquecer, recordar para não repetir. Porque, parafraseando outro filme brasileiro, Uma História de Amor e Fúria, "O que a gente vive é resultado do que aconteceu no passado. Viver sem conhecer no passado é viver no escuro.".


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