domingo, 28 de dezembro de 2025

Resenha: "Admirável Mundo Novo"

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
Autor:
 Aldous Huxley
Editora: Biblioteca Azul
Número de páginas: 312
Nota: 5/5⭐❤


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Admirável Mundo Novo", primeiro livro de ficção científica que leio e uma das principais distopias já escritas, do inglês Aldous Huxley. Comprei lá no FASC (Festival de Artes de São Cristóvão), no estandezinho do Sebo do Silva (que também tem na UFS), por um preço bom e em um estado super conservado - sério, parece novinho em folha! Além disso, era um livro que estava na minha lista há um tempinho, então foi ótimo encontrá-lo à venda (e, devo dizer, ele não me decepcionou nem um pouco - muito pelo contrário!). Pouco sabia da história, apenas que era uma distopia e que havia uma droga relevante na narrativa chamada "soma" (por causa da música dos Strokes, claro KKKKK E é muito legal reescutar a música agora depois de ter lido o livro, pois percebo melhor como ela se encaixa à narrativa!!). E só sabia disso. Então, para mim, foi uma experiência surpreendente e diferente de tudo o que li antes, e creio que tenha sido o livro que mais gostei de ler esse ano. Pelo menos, certamente, um dos que mais gostei. 


- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.


"Admirável Mundo Novo", como mencionei antes, é uma distopia, e foi publicada em 1932. Sua narrativa acompanha uma realidade futurística em que a passagem de tempo é medida pela existência de Henry Ford - sim, o cara da linha de produção, dos carros e de tudo o mais - na Terra (e não pela existência de Cristo, como fazemos atualmente). Assim, o livro se passa no ano 632 depois de Ford, e a sociedade é extremamente desenvolvida em termos tecnológicos, sendo dividida em castas e possuindo uma série de outras particularidades que irei detalhar melhor. 


Uma dessas particularidades diz respeito justamente à "fabricação" de seres humanos, tarefa realizada em verdadeiras linhas de montagem e com uma série de interferências científicas. Isto porque, como falei anteriormente, a sociedade é dividida em castas: Alpha, Beta, Gama, Delta e Ípsilon, respectivamente, da mais privilegiada até a base social. Desse modo, cada indivíduo é "produzido" de acordo com a casta a qual ele pertence, fazendo com que eles apresentem diferenças físicas (como o tamanho) e mentais, a partir da manipulação biológica. Posteriormente, quando o indivíduo é decantado (pois não há mais nascimentos), ele passa a infância e a adolescência sendo psicologicamente condicionado para adotar determinados comportamentos e pensar de determinada forma, sendo usada, para isso, algumas técnicas, como hipnopedia - ou seja, a aprendizagem pelo sono, em que são repetidas frases durante anos e anos enquanto a pessoa dorme, para que ela absorva tais informações inconscientemente e as reproduza como se fossem verdades absolutas. Como o Administrador do "Admirável Mundo Novo" mesmo disse, "Cremos nas coisas porque somos condicionados a crer nelas".


Sessenta e duas mil repetições fazem uma verdade.


Além disso, há também a soma, droga cujo uso é constantemente incentivado, e que permite ao ser humano desvincular-se de sua própria realidade e parar, pelo menos enquanto seu efeito durar, de ter "emoções negativas" - ou, simplesmente, tudo aquilo que não seja felicidade ou excitação. É uma felicidade fabricada e falsa, um escapismo encapsulado de uso universalizado. Ademais, a sociedade também é pautada no consumismo, na hiperestimulação dos sentidos, na padronização dos seres humanos - condenando-se, aliás, a individualidade - e em relações vazias e efêmeras, uma vez que tudo aquilo que é duradouro e intenso é abominado em nome da "estabilidade" social.  Inclusive, os valores morais incentivam a constante prática de sexo (e o contrário disso seria imoral), o culto à figura de Ford, o consumo de soma, etc. As religiões, os museus, a literatura mais antiga e crítica, pais e mães - tudo isto foi abolido. Existe, porém uma Reserva Selvagem, local que não foi alcançado pela "civilização". Lá ainda existe religião, pai e mãe, monogamia, etc. Entretanto, é um ambiente extremamente violento e longe de ser um ideal a ser alcançado. 


Nesse contexto da narrativa, nós podemos acompanhar alguns personagens de relevância na história, destacando-se Bernard Marx, um Alpha de estatura mais baixa do que o usual e que não se encaixa, Lenina Crowne, uma Beta que está saindo com Bernard e que constantemente reproduz os conceitos daquele "Admirável Mundo Novo", e John, filho de uma Beta e que cresceu numa Reserva Selvagem, sendo muito excluído naquele ambiente, todavia. Dessa maneira, através especialmente desses três personagens, vamos descobrindo mais sobre aquela estranha sociedade, a partir de seus pensamentos, comportamentos, questionamentos... 

Algo que achei bastante curioso na obra é como Bernard, ao conhecer John e sua mãe, decide levá-los para a sociedade "civilizada" a fim de obter status e o reconhecimento que lhe fora negado e, uma vez tendo alcançado essas coisas, reproduz os mesmos comportamentos que antes abominava e criticava. Outrossim, o contato de John com aquela sociedade também é interessante de se observar, pois tudo aquilo lhe causa profunda estranheza e repugnância, gerando diversos momentos de choque entre aquele mundo e o personagem. 



Com relação à nossa própria sociedade, há de se observar semelhanças - infelizmente - com a que é detalhada na obra. A começar pelo óbvio: o consumismo. E é muito difícil escapar dele, porque, embora não tenhamos condicionamentos hipnopédicos tal como ocorre no livro, somos inundados por propaganda por todos os lados, dizendo-nos que devemos comprar isso e aquilo, cultivando em nós o sentimento de necessidade e de consumo sem um propósito real - a não ser o próprio consumo em si, e talvez o desejo de pertencer. Nesse cenário, há uma homogeneização da população, pois é incentivado o consumo das mesmas coisas, em todos os âmbitos (as mesmas músicas, os mesmos filmes, os mesmos produtos...) e é incentivada, a adoção dos mesmos comportamentos, do mesmo modo de pensar. Também nos deparamos com dinâmicas de relacionamentos cada vez mais efêmeras e utilitárias, com pessoas pulando de relação em relação com a facilidade e com o pesar com que se troca de roupa. Mas Bauman já falou melhor sobre isso do que eu, e tem uma obra dedicada inteiramente a essa questão - "Amor Líquido", que eu adquiri no ano passado e que só cheguei perto da metade, mas que tentarei fazer a leitura novamente em um futuro próximo. E a "soma"? O que é, senão, uma anestesia emocional? Tão buscada hoje em dia - e talvez, desde sempre - em escapismos simples e fáceis como nas redes sociais, onde ficamos tão imersos que chega a um ponto de estarmos perdidos ali, desconectados do que ocorre ao redor, inertes. 


A  felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento.


"Admirável Mundo Novo" foi lançado há quase 100 anos, mas permanece surpreendentemente atual. É impactante, criativo e muitíssimo bem escrito! Li algumas resenhas aqui na internet que diziam que a escrita da obra é "confusa", porque, em alguns momentos (e isso acontece com certa frequência ao longo do livro), o foco narrativo se alterna sem aviso prévio, de um parágrafo para outro. Isso é feito com mais ênfase e frenesi no final do terceiro capítulo, mas eu gostei desse efeito estilístico porque me lembrou um filme com cenas freneticamente alternadas hahaha! E, para ser sincera, não acho que isso torne a leitura difícil. Pelo contrário, achei a leitura bem tranquila em termos de escrita e de linguagem!


O livro ainda conta com um prefácio escrito pelo próprio autor em 1946, mas eu optei por ler ao final porque Aldou Huxley, dentre outras coisas, reflete sobre a própria obra e o que teria escrito de modo diferente - mas, quando tentei ler pela primeira vez, não estava entendendo direito porque, afinal, nem tinha iniciado o livro ainda! Então para mim foi mais proveitoso ler o prefácio quando eu terminei minha leitura da obra. Enfimm!


"Admirável Mundo Novo" é um livro muito bom e marcante, e recomendo bastante!!! Creio que acabou de se tornar um de meus favoritos!


- Prefiro ser eu mesmo - disse ele -; eu mesmo e desagradável. E não outro, por mais alegre que seja.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se de ser sempre gentil e respeitoso(a) nos comentários 😊 Obrigada pela visita!