SIMPLES ASSIM Autora: Martha Medeiros Editora: L&PM Número de páginas: 240 Nota: 4/5 |
Ele é uma reunião de crônicas da autora, publicadas originalmente nos jornais "O Globo" e "Zero hora", e é um convite para refletirmos sobre questões cotidianas, sobre como complicamos coisas que deveriam ser fáceis.
Como qualquer livro de crônicas, pude me identificar com algumas e concordar com o ponto de vista da autora, como também há certa coisas que discordo, como na crônica "Mulheres cabeludas". Nesta crônica, Martha apresenta o fato de que algumas mulheres estão lutando pelo direito de não se depilarem. Em seguida, ela afirma que nós, na verdade, já temos esse direito, o que é verídico, mas a questão aqui não é você ser presa por não se depilar (como a mesma afirma adiante), mas poder fazer isso sem ser julgada pela sociedade. Em um certo parágrafo ela diz que "Buscar a feminilidade não nos torna submissas, escravas, reféns, nem nada que faça retroceder as conquistas estimuladas por Simone de Beauvoir e turma.", o que eu concordo. Só que, no parágrafo seguinte ela diz que os homens deveriam sim, continuar se depilando, e termina a crônica dizendo: "Ninguém disse que para sermos livres teríamos que voltar a selva", como se para os homens deixar os pelos fosse aceitável, mas para as mulheres isso seria como voltar aos tempos das cavernas. Esse é o ponto, e é exatamente aí que eu discordo. Porém, o bom das crônicas é que elas podem gerar reflexão, mesmo que você discorde delas (como foi o meu eu caso com esta daqui).
O livro foi autografado por Martha Medeiros, para a minha mãe |
Martha Medeiros fala bastante sobre suas viagens, filmes e livros que a marcaram, feminismo e a forma como ela enxerga o mundo, o que é muito interessante.
Há crônicas que eu gostei bastante, como "Mulher escrevendo enquanto toma chá", "O que você vai ser quando crescer?", "Oba, a fila não anda", "Uma casa em frente ao mar", "Plano-sequência",etc. Porém, minha favorita de todas foi "Plano-sequência", onde autora reproduz, no texto, a ideia de um filme que não houve pausas durante a gravação. A crônica foi escrita em apenas um parágrafo, onde a autora emendava um assunto ao outro, sem pontos finais. Eu gostei bastante porque foi escrita de forma criativa, e ela apresentou diversos assuntos interessantes de serem abordados e debatidos, como a questão do aborto e a adoção de crianças por casais homoafetivos. A seguir, um trecho da crônica, que eu gostei bastante:
[...] A questão do aborto, discussão que se ampara em um sentimentalismo barato, mulher nenhuma levará uma gestação adiante se ela não quiser, nenhuma jamais levou, nossas avós abortavam, nossas bisavós abortavam, e a mulher de amanhã também abortará, sendo crime ou não, ou seja, criminalizar é apenas uma forma de punir essa mulher, obrigá-la a procedimentos clandestinos, uma hipocrisia a mais num país que se recusa a deixar a religião de lado para pensar de forma menos passional e mais sintonizada com seu tempo
É um bom livro para ler durante a quarentena, ou quando você está procurando algo leve e interessante, para que possamos refletir sobre a vida com graça. Recomendo!
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