TOMATES VERDES FRITOS Autora: Fannie Flagg Editora: Globo Número de páginas: 432 Nota: 4,5/5 ⭐ |
Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Tomates Verdes Fritos no Café da Parada do Apito" (título grande kkk), que li neste mês de dezembro. Conheci a história por meio do filme da década de 90 (creio que a maioria das pessoas também), e, ao descobrir que tinha livro, tratei de colocar logo na lista. O livro é ainda melhor que o filme, mas o longa foi uma adaptação fiel, de qualquer forma. Claro, vááários detalhes foram deixados de fora, mas isso já é de se esperar. Além disso, por meio da obra literária, conhecemos mais a fundo a história dos coadjuvantes (alguns deles que nem existem no filme), e isso é algo muito interessante, pois permite que sejamos ainda mais cativados pelos personagens.
Li a obra rapidamente, em menos de 1 semana (fui dormir 2 dias seguidos 1h da manhã porque não conseguia parar de ler, e foi a primeira vez que eu fiz algo do tipo). Isso se deve à história extremamente cativante e dinâmica, de linguagem fluida e simples e a seus capítulos curtos.
A história "Tomates Verdes Fritos" se situa no Alabama, no sul dos Estados Unidos, entre o começo do século XX e os anos 80, e os capítulos se passam na Parada do Apito, pequena cidade do Alabama, e em Rose Terrace, uma casa de repouso. Assim, eles alternam entre épocas e lugares, havendo também os capítulos que são uma espécie de jornalzinho da Parada do Apito, fazendo com que o leitor se sinta ainda mais inserido naquele ambiente. Aliás, esse jornalzinho, chamado de "Semanário Weems" e escrito por uma moradora local, é um ponto alto do livro, pois são bastante engraçados, ajudando a dar mais leveza à história.
Nos anos 80, a história acompanha Evelyn Couch, uma mulher de meia-idade depressiva na época da menopausa, insatisfeita com seu casamento e consigo mesma, e Ninny Threadgoode, uma senhorinha que vive momentaneamente em Rose Terrace, pois ela decidiu acompanhar a sua amiga até que ela se acostumasse com o local. Evelyn frequentava a casa de repouso para visitar a sua sogra, e, enquanto o marido conversa com a mãe no quarto, ela ficava esperando na sala de visitas. Foi lá que ela conheceu Ninny, que começou a contar para Evelyn histórias das pessoas que viviam na Parada do Apito, lugar em que ela passou toda a sua vida. Assim, somos teletransportados à cidadezinha não apenas por meio dos capítulos dedicados a ela, mas também por meio das histórias que Ninny conta. Dessa forma, Evelyn e Ninny rapidamente desenvolvem um forte laço de amizade, que impacta positivamente a vida das duas, sendo muito bonito poder acompanhar a evolução delas em decorrência desse laço criado. Além disso, a amizade de ambas é muito importante para o desenvolvimento pessoal delas, assim como as histórias contadas por Ninny, que ajudam Evelyn a refletir sobre a própria vida e a evoluir.
Já na Parada do Apito, somos apresentados a vários personagens, como toda a família Threadgoode, Ruth, Sipsey, Big George, Eva, Smokey Solitário, Onzell, entre tantos outros. Acompanhamos, especialmente, Idge Threadgoode, cunhada de Ninny, e Ruth, pois são as proprietárias do Café da Parada do Apito, cujo um dos pratos de destaque eram tomates verdes fritos (daí o título). Li várias resenhas, antes de ler o livro, que diziam que Idge e Ruth mantinham um relacionamento homossexual, mas, ao concluir a leitura, fiquei me questionando com relação a isso, porque era algo bastante implícito. Eu estranhei porque todos tratavam o relacionamento das duas de forma bastante compreensiva para a época (esta marcada pelo forte preconceito). Dando uma pesquisada e lendo a opinião de outros leitores, vi que a autora nunca havia afirmado que se tratava de um relacionamento homossexual, mas, ao ler o livro, vemos que a o amor das duas ia além da amizade. Até mesmo a forma como as pessoas ao redor e o livro tratavam o relacionamento das duas fazia parecer que se tratava de um casal. Então, sim, eu acredito que Idge e Ruth realmente eram um casal lésbico. Assim, ao meu ver, elas nutriam um amor romântico uma pela outra, mas, em decorrência da época em que a história se passa, e talvez também por conta da época em que foi escrita (final dos anos 80), isso foi apresentado de forma implícita e elas não assumiram o relacionamento homossexual. Enfim.
Idgie é uma personagem um tanto fechada emocionalmente, especialmente depois do falecimento de seu irmão mais velho, Buddy. No entanto, quando Ruth vai passar o verão na casa dos Threadgoode, pois ela foi mandada para lá pra cuidar de algumas atividades da igreja local, Idge se abre mais, e é gratificante acompanhar o impacto que essa relação gera em ambas (assim como ocorre com Ninny e Evelyn). Ruth, por outro lado, estava noiva de Frank Bennett, um homem extremamente abusivo. A partir disso, vemos como a relação das duas se desenvolve, mesmo em meio a tantas dificuldades. Vínculo muito bonito, por sinal, marcado pelo companheirismo, respeito e apoio mútuo. Assim, com o passar dos anos, elas abrem um Café na Parada do Apito, importante pano de fundo de vários eventos da história, como já citado nesta resenha. Além disso, elas também criam um filho juntas, fruto do relacionamento abusivo de Ruth com Frank.
A obra também aborda outros temas super importantes, como o tratamento recebido pelas mulheres na época e o impacto que a Grande Depressão (Crise de 29) gerou entre as pessoas, por meio da ótica dos habitantes da Parada do Apito. Esse pano de fundo histórico torna o enredo ainda mais instigante.
Além disso, no final da obra encontramos algumas receitas de Sipsey, que fazia as comidas do Café. Isso é algo bem legal, e permite que o leitor se conecte ainda mais à história e ao ambiente criado.
Na edição do livro, encontrei alguns erros ortográficos, mas nada que atrapalhe de maneira significativa a leitura. No entanto, algo que me incomodou um pouco foi a situação temporal, mas, também, nada que atrapalhe muito. Por exemplo: no decorrer da leitura, vemos que determinado fato ocorreu em um ano X, mas, depois, o livro afirma que ocorreu em ano Y. Darei um exemplo mais concreto, mas, como é um spoiler, pule para o parágrafo seguinte se não quiser lê-lo. (SPOILER 🚨) O livro afirma, inicialmente, que Ruth faleceu em 7 de fevereiro de 1947, mas, depois, vemos no livro que na sua lápide consta o ano de 1946 (o que não faz sentido, já que ela foi enterrada poucos dias depois ao de sua morte, em 1947). Além disso, em outra passagem, que se passa em outubro de 1947, Idge fala de Ruth ao filho delas, dizendo que ele "está preocupando sua mãe [Ruth] e eu [Idge]", ou seja, como se ela ainda estivesse viva (o filho não a corrige). ( FIM DO SPOILER 🚨)
Eis outra coisa que me incomodou: em dado momento da história, Evelyn cria, em sua cabeça, Towanda, sua versão super-heroína, que representa a sua raiva e as suas mágoas acumuladas por tanto tempo, já que ela não se permitia sentir tudo isso. Assim que imagina a personagem, ela pensa no que faria no mundo para que ele se tornasse um lugar melhor, e, dessa forma, o livro cita diversos debates relevantes e importantes, como a questão da pornografia, da igualdade de homens e mulheres no cenário político, entre outros. Dessa forma, quando eu estava perto de concluir o capítulo em que Towanda foi imaginada, eu estava me sentindo super inspirada, até que eu leio a seguinte frase: “[...] Towanda varreu todo o Oriente Médio a fim de evitar uma Terceira Guerra Mundial.”. Eu parei de ler imediatamente (voltei só uns 15-20 min depois). Que frase absurda!
CURIOSIDADE ALEATÓRIA: A autora do livro, Fannie Flagg também é atriz, e fez uma pequena participação em Grease, um dos meus filmes favoritos! :D
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