Resenha: "Poemas de Alberto Caeiro"
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POEMAS DE ALBERTO CAEIRO Autor: Fernando Pessoa Editora: L&PM Número de páginas: 144 Nota: 5/5 ⭐❤ |
Oi, pessoal! Dia três desse mês concluí a leitura de "Poemas de Alberto Caeiro", publicado em edição de bolso pela editora L&PM e que reúne poesias de um dos mais famosos heterônimos de Fernando Pessoa. Caeiro é considerado o mestre dos heterônimos e do próprio Pessoa, sendo também o "poeta da Natureza", constantemente exaltada em seus versos (que muito me encantam e que me encantaram, mais uma vez!). Peguei emprestado da minha mãe, que possui uma coleção de livros do autor - para a minha felicidade.
Esta edição está bastante organizada, possuindo dois textos de apresentação: um sobre Fernando Pessoa de um modo geral, com breves apresentações sobre Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis - seus três principais heterônimos - e o outro sobre, especificamente, Caeiro. Além disso, as poesias são acompanhadas de notas de rodapé que ampliam a visão apresentada nos versos. Tais detalhes tornam a leitura ainda mais rica e permite que conheçamos melhor a obra do autor - ortônimo e heterônimo -, nos fazendo compreender melhor seus poemas. Ao final, há, ainda, uma cronologia que relata, brevemente, eventos marcantes de sua vida. Por fim, a edição também é dividida em três partes: "O Guardador de Rebanhos", "O Pastor Amoroso" e "Poemas Inconjuntos".
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com meus sonhos.
Vira uns de perna para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
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Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Na segunda parte da obra, "O Pastor Amoroso", temos a oportunidade de ler as poesias românticas de Alberto Caeiro, que, apaixonado, transforma suas convicções. Se antes ele recusava o ato de pensar, agora pensa sobre a pessoa amada, embora não seja correspondido. É a parte mais breve do livro, mas não menos interessante. Aqui, embora dedique suas poesias a quem ama, o autor continua a valorizar a natureza e a conectar-se com ela.
Tem o cabelo de um louro amarelo de trigo ao sol claro,
E boca quando fala diz coisas que não só as palavras
Sorri, e os dentes são limpos como as pedras do rio.
Na terceira e última parte, "Poemas Inconjuntos", Caeiro retorna àquele que era antes das vivências contidas em "O Pastor Amoroso". Os poemas continuam sensíveis, exaltando o natural, aquilo que realmente é e as sensações. Muitos dos meus poemas favoritos estão aqui, como "Quando vier a primavera", que considero tão bonito que decorei na íntegra. Ademais, pude conhecer mais poesias que gostei bastante, como "Na noite de S. João para além do muro" e outras!
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres estivessem me pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e sentindo pena...