sábado, 22 de novembro de 2025

Resenha: "Antologia Poética", de Anna Akhmátova

ANTOLOGIA POÉTICA 
Autora:
 Anna Akhmátova
Editora: L&PM
Número de páginas: 208
Nota: 4/5 ⭐


Na inconsciência dos dias me esqueci de como os anos fluem / e não posso mais voltar atrás.


Oi, pessoal! Recentemente terminei de ler "Antologia Poética", que reúne alguns poemas da escritora russa Anna Akhmátova. Peguei esse livro no consultório de minha alergista, que possui um projeto bem legal em que você pode levar um livro e trocar por outro ;) Minha mãe estava olhando os livros, quando, um pouco distante, vi a capa deste e pensei em se tratar de uma fotografia de Virginia Woolf. Ao pedir para olhar o livro e vê-lo mais de perto, percebi que na verdade era um livro de poesias de Anna Akhmátova, que nunca tinha ouvido falar antes (na verdade, nunca havia ouvido falar nada sobre poesia russa!), então achei uma ótima oportunidade para conhecê-la. 

Descobri, então, que Akhmátova é um dos maiores nomes de poesia russa, tendo redefinido a forma como mulheres escreviam seus poemas (antes dela, costumavam se espelhar nos poetas homens e na forma como eles escreviam). 


Seus poemas são bastante marcados pelo contexto de sua vida e da realidade vivenciada pela Rússia no período em que eles foram escritos (Primeira e Segunda Guerras Mundiais e a paralela ascensão da União Soviética). Bastante marcada pela morte de seu primeiro marido na guerra, pela prisão do filho e pela morte do terceiro marido num campo de concentração, tais sofrimentos estão também expressos em seus versos, censurados durante o regime stalinista. É uma realidade completamente diferente da minha, - mais distante ainda porque é um contexto histórico muito destoante do brasileiro - mas as notas ao final da obra me ajudaram a me situar no contexto apresentado nos poemas e a compreendê-los melhor! Há também uma enorme apresentação no começo do livro, muito bem escrita por Lauro Machado Coelho (responsável também pelas notas, seleção e organização dos poemas), mas admito que só a li quando concluí a leitura das poesias. De qualquer forma, vale bastante a pena, pois passamos a conhecer mais da vida da autora e, consequentemente, de suas próprias poesias. 


Todos nós somos um pouco hóspedes desta vida. / Viver é apenas um pequeno hábito.



De um modo geral, Anna escreve poemas curtos (com algumas poucas exceções), através dos quais ela conseguiu exprimir seus sentimentos de forma simples, mais "direta", e, em certos momentos, também cortante. Assim, vale frisar que ela é uma das principais representantes do acmeísmo, movimento literário que surgiu na Rússia no princípio do século XX, em oposição ao Simbolismo e ao Futurismo, cujas características também estão expressas em seus poemas - como as que citei anteriormente. A poetisa se debruça, pois, sobre a própria vida e sobre aquilo que a cerca, retratando as angústias pessoais e as vivenciadas coletivamente em razão das guerras, das diversas mortes e de perseguições na URSS, desenhando a Rússia de parte do século XX em seus versos. Alguns poemas seus, por exemplo, descrevem suas dores como uma mãe que se vê forçosamente afastada de seu filho, preso e cujo destino era incerto e nebuloso - assim como também ocorreu com muitas mães e filhos naquela época. 


Houve um tempo em que só sorriam

os mortos, felizes em seu repouso.

E como um apêndice supérfluo, balançava

Leningrado [atual São Petersburgo], pendurada às suas prisões.

E quando, enlouquecidos pelo sofrimento,

os regimentos de condenados iam embora,

para eles as locomotivas cantavam

sua aguda canção de despedida.

As estrelas da morte pairavam sobre nós e a Rússia inocente torcia-se de dor

sob as botas ensanguentadas 

e os pneus das Marias Pretas [nome popular dado aos carros usados pela polícia política stalinista, como indica as notas ao final do livro]


Foi uma experiência interessante poder conhecer mais uma poetisa e me debruçar sobre suas palavras! Recomendo!


Mais alguns versos favoritos 🌸


"Como um canudinho, bebes toda a minha alma.
Eu sei, o sabor é amargo, inebriante"

"A verdadeira ternura não se confunde 
com coisa alguma. É silenciosa.
Em vão envolves com cuidado 
os meus ombros e meu colo nesta estola.
Em vão palavras carinhosas
dizes sobre o nosso primeiro amor.
Como conheço bem esses insistentes
e insatisfeitos olhares teus"


"Assim, estrangeira ao céu e à terra,
eu vivo e já não canto mais.
É como se afastasses minha alma peregrina
tanto do inferno quanto do céu."

"Tudo o que era antes espontâneo
tudo o que era tão fácil de dar -
o ardor da alma, o som das preces, 
a graça da primeira canção

- tudo fugiu como fumaça,
apodreceu no fundo do espelho..."

"Não me deitarei, ai de mim, em meu próprio túmulo. 
Mas, às vezes, o vento brincalhão da primavera,
ou certas combinações de palavras em um livro,
ou o sorriso de alguém suscita em mim,
de repente, essa vida que nunca aconteceu.
Neste ano, houve tais e tais coisas,
naquele ano, aquelas outras: viajar, ver, pensar
e lembrar, e entrar em um novo amor
como dentro de um espelho, com a leve consciência
da traição e de que, ontem, ainda não estava ali
aquela ruga.
……………………………………….
Mas se eu pudesse observar de fora
a pessoa que hoje sou,
aí sim, aprenderia finalmente o que é a inveja."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se de ser sempre gentil e respeitoso(a) nos comentários 😊 Obrigada pela visita!