sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Resenha: "Cartas para a minha avó", de Djamila Ribeiro

 

CARTAS PARA A MINHA AVÓ
Autora:
Djamila Ribeiro
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 200
Nota: 4,8/5 ⭐️

Há uma enorme diferença entre acostumar-se e aceitar. Passei a aceitar sua ausência física e carregar sua força, e falo de você com lágrimas de alegria e gratidão pela oportunidade do encontro, mas nunca me acostumei com sua ausência. 


Olá, pessoal! Recentemente concluí a leitura do livro "Cartas para a minha avó", primeiro que leio da ativista e filósofa brasileira Djamila Ribeiro. Minha mãe pegou emprestado de uma amiga dela e, após terminar de lê-lo, disse que achava que eu iria gostar também (e foi o que de fato aconteceu!). A obra possui uma linguagem simples e bastante acessível, o que a torna bastante dinâmica e rápida de ser lida, uma vez que você nem sente o tempo passar. 


"Cartas para a minha avó", como o próprio nome indica, apresenta-se como uma série de correspondências de Djamila à sua falecida avó, Antônia. Através das cartas, então, Djamila rememora suas vivências e nos apresenta suas memórias, possibilitando que o leitor conheça mais sobre a autora: sua infância, sua adolescência, suas experiências como uma mulher negra, suas relações familiares, suas amizades, sua jornada acadêmica, sua espiritualidade... por isso, é a obra mais pessoal da autora, em que ela se revela e permite ao leitor descobrir um pouco de seu mundo. Aliás, gosto muito de ouvir (ou, nesse caso, ler) pessoas contando suas próprias histórias, porque sinto que sempre podemos aprender com a experiência do próximo e porque isso me retira - mesmo que por um breve instante - do universo particular no qual estou imersa e me permite enxergar outras realidades para além da minha. Me faz bem. Portanto, adentrar, mesmo que um pouquinho, no universo de Djamila, foi uma ótima experiência!


Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos [mulheres negras] subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?





A autora possui uma forma de escrever que cativa, pois, ao mesmo tempo em que é simples e direta, é também poética e reflexiva. Muitas coisas que li me impactaram e me fizeram pensar sobre experiências que não vivencio, como o racismo com o qual Djamila precisou (e precisa) lidar durante toda a sua vida. É muito fácil não pensar sobre determinado sintoma social quando não somos afetados por ele, então as memórias narradas pela escritora permitem, de forma bastante acessível e real, que nos coloquemos em seu lugar e pensemos sobre questões que marcam o imaginário popular e que, no entanto, muitas vezes passam despercebidas por nós. Além do racismo, Djamila também fala bastante sobre os machismos que sofreu ao longo de sua trajetória, sobre sua relação com a maternidade, sobre o luto, entre tantos outros temas. Entretanto, ela não narra apenas sobre si mesma: ela analisa também aqueles que a cercam, comentando bastante sobre como a mentalidade enraizada com relação ao que é ser mulher e ao que é ser uma pessoa negra impactou aqueles ao seu redor (como sua mãe, seu pai, sua própria avó...). Desse modo, ao escrever tais cartas, Djamila se reconecta com sua própria identidade e passa a ter um olhar mais gentil com relação ao seu passado e às vivências que teve. 


Penso que amar é ser suave com a diferença do outro.


Assim, "Cartas para a minha avó" apresenta-se como uma leitura bastante interessante e agradável, que recomendo bastante para aqueles que buscam algo rápido, bonito e reflexivo!




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se de ser sempre gentil e respeitoso(a) nos comentários 😊 Obrigada pela visita!