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PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS Autor: Rubem Alves Editora: Paidós Número de páginas: 176 Nota: 4,5/5 ⭐ |
Deus é como o vento. Sentimos na pele quando ele passa, ouvimos a sua música nas folhas das árvores e o seu assobio nas gretas das portas. Mas não sabemos de onde vem nem para onde vai. Na flauta, o vento se transforma em melodia. Mas não é possível engarrafá-lo. No entanto, as religiões tentam engarrafá-lo em lugares fechados a que elas dão o nome de 'Casa de Deus'. Mas se Deus mora numa casa, estará ele ausente do resto do mundo? Vento engarrafado não sopra...
Essa semana fiz a leitura de "Perguntaram-me se acredito em Deus", obra que nasceu a partir de uma indagação feita a Rubem Alves, autor do livro, ao final de um debate sobre educação promovido em 2007. Assim, somos permeados por uma narrativa poética e muito bonita que busca levantar reflexões acerca dessa pergunta que, acredito, já invadiu o pensamento de todos nós. É, portanto, um livro bastante espirituoso - e não necessariamente religioso, então pensei ser uma boa pedida para mim, pois gostaria de me conectar mais com meu lado espiritual, pois recentemente iniciei minha preparação para a crisma e porque o título da obra sempre me chamou a atenção.
Cada religião é um mosaico, um jeito de ajuntar os cacos. Cada religião é uma sonata: uma rede de temas. Escolhi os cacos de que mais gosto para fazer o meu mosaico, o meu livro de estórias, a minha sonata, o meu altar à beira do abismo.
Nesse sentido, "Perguntaram-me se acredito em Deus" reflete acerca da figura divina em 22 pequenos capítulos, abordando temas como o amor, a natureza e vários outros, através de trechos da Bíblia e de inúmeras poesias. Isso é feito por meio da figura de Mestre Benjamin, que reúne pessoas em sua tenda e conta estórias relacionadas à espiritualidade. Me conectei bastante com a visão de Deus apresentada no livro, e compartilho da concepção do autor. Muitos, por exemplo, acreditam que basta ir à Igreja todas as semanas e rezar constantemente para se estar conectado a Deus e para ser bom, mas isso não basta. Na realidade, não creio nem que seja necessário, embora seja válido, é claro. Há mais Deus naqueles que verdadeiramente praticam o bem e que buscam admirar as belezas da vida, que admitem os próprios erros e que buscam genuinamente evoluir, reconhecendo que a caminhada é mais bonita quando compartilhada. Mesmo que não acreditem em Deus, há Deus nessas pessoas. Inclusive, creio que seja um ótimo livro para todos, mesmo para aqueles que são ateus, por conta das temáticas universais retratadas e da forma como elas são desenvolvidas: com muita leveza e com uma linguagem encantadoramente singela e poética! Há, então, trechos bíblicos e trechos de poesias de autores como Alberto Caeiro (que muito aborda Deus em seus versos, como na poesia em que fala sobre o Deus criança - uma das minhas favoritas dele!), Cecília Meireles, Walt Withman (muito citado em "Sociedade do Poetas Mortos"), entre outros!
Tem um lindo poema de Emily Dickson, transcrito no livro, que acredito que sumariza bem a abordagem que ele faz de Deus:
Alguns guardam o Domingo indo à Igreja -
Eu o guardo ficando em casa -
Tendo um Sabiá como cantor -
E um Pomar por Santuário. -
Alguns guardam o Domingo em vestes brancas -
Mas eu só uso minhas Asas -
E ao invés do repicar dos sinos da Igreja,
nosso pássaro canta - na palmeira.
É Deus que está pregando, pregador admirável -
E o seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final -
eu o encontro o tempo todo no quintal.
Além disso, gostaria de destacar também a edição da editora Paidós. É belíssima! Chique e delicada, combina bastante com a narrativa apresentada. Há a presença de ilustrações que embelezam ainda mais o livro, combinando com determinados trechos que receberam destaque na edição.
"Perguntaram-me se acredito em Deus" é, portanto, uma leitura rápida e muito bonita, que vale bastante a pena! Recomendo muito :)
Ah, e se você tiver curiosidade para saber mais sobre o momento que fez com que esse livro nascesse, o momento em que Rubem Alves foi perguntado se ele acreditava em Deus, leia o texto que ele mesmo escreveu à Folha de São Paulo na época, sobre o episódio (acesse clicando aqui). Vale a pena! :)
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