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CECÍLIA MEIRELES: ANTOLOGIA POÉTICA Autora: Cecília Meireles Editora: Global Número de páginas: 336 Nota: 4,4/5 ⭐ |
Entre a morte e a eternidade, o amor,
essa memória para sempre.
Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de uma antologia poética de Cecília Meireles, publicada originalmente em 1963. Ganhei de presente de uma amiga minha em meu aniversário de 18 anos (ou seja, no ano passado) e cheguei a ler até a metade, mas acabei deixando de lado e "guardando para a posterioridade" pois chegou em uma parte (que irei detalhar melhor ao longo desta resenha) que eu não estava gostando, mas, ao mesmo tempo, não queria abandonar o livro porque havia poesias muito boas. Mês passado, então, reiniciei a leitura e, hoje, conclui-a :)
Dito isso, o livro é dividido em 15 partes, que reúnem poemas publicados em obras anteriores de Cecília Meireles (como Viagem, um de seus livros mais famosos, e Romanceiro da Inconfidência, que concentra muitas poesias, é a maior parte da antologia e foi justamente a que eu menos gostei - e que me fez inicialmente abandonar a leitura hahaha). Além disso, também estão reunidos alguns poemas inéditos que gostei bastante!
Cecília Meireles tem um modo de escrever muito bonito e uma melancolia particular, que se mostra presente em grande parte dos poemas apresentados. Gosto muito das poesias em que ela descreve cenas banais, pois ela o faz de forma sensível e significativa, transformando-as em "algo a mais", fazendo-as ultrapassar o mero espaço da banalidade. É o que ocorre, por exemplo, em "Eco", no qual Cecília descreve a cena de um animal num morro, que late e ouve o próprio eco (e é literalmente isso, mas ela escreve de uma maneira tão linda), em "Arlequim", em que ela retrata uma sala com grande delicadeza, e a cena se torna nítida na memória como se estivéssemos ali e em "Epigrama nº 5", em que a autora fala sobre uma gota de orvalho na folha ("E a folha é um pequeno deserto / para a imensidão do ato").
Também gostei bastante da série de poemas "Elegia", que Cecília escreve em homenagem à sua falecida avó, que a criou. O afeto em suas palavras é palpável, assim como o luto expresso em seus versos.
Mas não era só isso, o crepúsculo:
faltam os teus dois braços numa janela, sobre flores,
e em tuas mãos o teu rosto,
aprendendo com as nuvens a sorte das transformações.
Faltam os teus olhos com ilhas, mares, viagens, povos,
tua boca, onde a passagem da vida
tinha deixado uma doçura triste,
que dispensava palavras.
[...]
Tudo em ti era uma ausência que se demorava:
uma despedida pronta a cumprir-se.
Há um trecho de um dos poemas ("Desenho"), que não figuram na série de elegias, que me lembrou da minha própria avó, e senti aqueles dizeres como se fossem sobre ela, e senti a ternura com a qual Cecília escreveu.
E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.
Ademais, ressalta-se que as temáticas das poesias são diversas. Em Romanceiro da Inconfidência, por exemplo, Cecília retrata (como já é possível supor a partir do título), cenas da Inconfidência Mineira. São poemas históricos bastante ricos, reconheço, porém achei tremendamente chatos. Como são muitas poesias (e, para piorar, são longas), a impressão que tive em dado momento era que essa parte da antologia era infinita - mas não é, claro (ainda bem). Para não dizer que desgostei completamente dessa parte da obra, houve alguns versos que curti - uma minoria de versos (como este aqui: "Ai, palavras! Ai, palavras! / que estranha potência a vossa! / Todo o sentido da vida / principia à vossa porta.").
Temos também poesias escritas em viagens, como é o caso de Poemas Escritos na Índia, poesias mais introspectivas (que eu adoro), em que Cecília reflete sobre os próprios sentimentos e sua existência, etc.
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Um dos poemas inéditos da antologia, e também um dos que mais gostei |
Desse modo, a antologia é bastante completa e, portanto, rica. Foi uma ótima leitura, através da qual pude reler alguns poemas famosos que já gostava - como Motivo e Retrato - e conhecer tantos outros e me encantar, refletindo acerca do mundo que me cerca e acerca de mim mesma. Vale citar, também, que no final da obra também podemos ler uma cronologia com eventos importantes da vida de Cecília, permitindo que conheçamos melhor a trajetória dessa grande poetisa brasileira.
Enquanto eu lia, inclusive, tive a ideia de recortar algumas fotos de revistas de fotografia da minha mãe e escrever uns versos de Cecília nelas. Fiz em duas, porque minha mãe descobriu - e me barrou - antes que eu pudesse fazer em mais hahaha! Mas acho que ficou bem legal, vou inserir aqui :)
ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸
"Abraçava-me à noite nítida,
à exata noite que aparece e desaparece no seu justo limite,
à noite que existe e não existe,
e murmurava aos seus ouvidos sucessivos:
'Não quero mais dormir, nunca mais... nunca...' E a noite
levava meus olhos e meu pensamento,
levava-os, entre as estrelas antigas,
entre as estrelas nascentes,
- e eram muito menores
que as letras das palavras do meu grito." - Doze Noturnos da Holanda (DEZ)
"De longe te hei de amar,
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.
Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência."
"Sonhamos ser. Mas ai, quem somos,
entre essa alucinada gente?" - Metal Rosicler (36)
"Rios de serenata
para o mar levarão
o que morre, o que mata
e o que é recordação" - Metal Rosicler (46)
"Tristes ainda seremos por muito tempo,
embora de uma nobre tristeza,
nós, os que o sol e a lua
todos os dias encontram,
no espelho do silêncio refletidos,
neste longo exercício de alma" - Neste longo exercício de alma
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