domingo, 12 de outubro de 2025

Resenha: "Cecília Meireles: Antologia Poética"

CECÍLIA MEIRELES: ANTOLOGIA POÉTICA
Autora:
 Cecília Meireles
Editora: Global
Número de páginas: 336
Nota: 4,4/5 ⭐

Entre a morte e a eternidade, o amor,

essa memória para sempre. 


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de uma antologia poética de Cecília Meireles, publicada originalmente em 1963. Ganhei de presente de uma amiga minha em meu aniversário de 18 anos (ou seja, no ano passado) e cheguei a ler até a metade, mas acabei deixando de lado e "guardando para a posterioridade" pois chegou em uma parte (que irei detalhar melhor ao longo desta resenha) que eu não estava gostando, mas, ao mesmo tempo, não queria abandonar o livro porque havia poesias muito boas. Mês passado, então, reiniciei a leitura e, hoje, conclui-a  :)


Dito isso, o livro é dividido em 15 partes, que reúnem poemas publicados em obras anteriores de Cecília Meireles (como Viagem, um de seus livros mais famosos, e Romanceiro da Inconfidência, que concentra muitas poesias, é a maior parte da antologia e foi justamente a que eu menos gostei - e que me fez inicialmente abandonar a leitura hahaha). Além disso, também estão reunidos alguns poemas inéditos que gostei bastante! 


Cecília Meireles tem um modo de escrever muito bonito e uma melancolia particular, que se mostra presente em grande parte dos poemas apresentados. Gosto muito das poesias em que ela descreve cenas banais, pois ela o faz de forma sensível e significativa, transformando-as em "algo a mais", fazendo-as ultrapassar o mero espaço da banalidade. É o que ocorre, por exemplo, em "Eco", no qual Cecília descreve a cena de um animal num morro, que late e ouve o próprio eco (e é literalmente isso, mas ela escreve de uma maneira tão linda), em "Arlequim", em que ela retrata uma sala com grande delicadeza, e a cena se torna nítida na memória como se estivéssemos ali e em "Epigrama nº 5", em que a autora fala sobre uma gota de orvalho na folha ("E a folha é um pequeno deserto / para a imensidão do ato").

Também gostei bastante da série de poemas "Elegia", que Cecília escreve em homenagem à sua falecida avó, que a criou. O afeto em suas palavras é palpável, assim como o luto expresso em seus versos. 


Mas não era só isso, o crepúsculo:

faltam os teus dois braços numa janela, sobre flores,

e em tuas mãos o teu rosto,

aprendendo com as nuvens a sorte das transformações.


Faltam os teus olhos com ilhas, mares, viagens, povos,

tua boca, onde a passagem da vida

tinha deixado uma doçura triste,

que dispensava palavras.


[...]


Tudo em ti era uma ausência que se demorava:

uma despedida pronta a cumprir-se. 



Há um trecho de um dos poemas ("Desenho"), que não figuram na série de elegias, que me lembrou da minha própria avó, e senti aqueles dizeres como se fossem sobre ela, e senti a ternura com a qual Cecília escreveu. 


E minha avó cantava e cosia. Cantava

canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.

E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos

e palavras de amor em minha roupa escritas.


Ademais, ressalta-se que as temáticas das poesias são diversas. Em Romanceiro da Inconfidência, por exemplo, Cecília retrata (como já é possível supor a partir do título), cenas da Inconfidência Mineira. São poemas históricos bastante ricos, reconheço, porém achei tremendamente chatos. Como são muitas poesias (e, para piorar, são longas), a impressão que tive em dado momento era que essa parte da antologia era infinita - mas não é, claro (ainda bem). Para não dizer que desgostei completamente dessa parte da obra, houve alguns versos que curti - uma minoria de versos (como este aqui: "Ai, palavras! Ai, palavras! / que estranha potência a vossa! / Todo o sentido da vida / principia à vossa porta.").

Temos também poesias escritas em viagens, como é o caso de Poemas Escritos na Índia, poesias mais introspectivas (que eu adoro), em que Cecília reflete sobre os próprios sentimentos e sua existência, etc. 


Um dos poemas inéditos da antologia, e também um dos que mais gostei


Desse modo, a antologia é bastante completa e, portanto, rica. Foi uma ótima leitura, através da qual pude reler alguns poemas famosos que já gostava - como Motivo e Retrato - e conhecer tantos outros e me encantar, refletindo acerca do mundo que me cerca e acerca de mim mesma. Vale citar, também, que no final da obra também podemos ler uma cronologia com eventos importantes da vida de Cecília, permitindo que conheçamos melhor a trajetória dessa grande poetisa brasileira. 


Enquanto eu lia, inclusive, tive a ideia de recortar algumas fotos de revistas de fotografia da minha mãe e escrever uns versos de Cecília nelas. Fiz em duas, porque minha mãe descobriu - e me barrou - antes que eu pudesse fazer em mais hahaha! Mas acho que ficou bem legal, vou inserir aqui :)




ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸

(Porque foram muitas)

"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta" - Motivo

"É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos." - Aceitação

"O pensamento é triste; o amor, insuficiente;
e eu quero sempre mais do que vem nos milagres." - Explicação

"Aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira" - Desenho

"Pois vivemos do que perdura,

não do que fomos." - 5º motivo da Rosa

"Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos" - Ar livre

"Leonoreta,
fin'roseta,
longe vai teu vulto amado.
Porém resiste ao meu lado
o espaço que ocuparias" - Amor em Leonoreta III

"Abraçava-me à noite nítida,

à exata noite que aparece e desaparece no seu justo limite,

à noite que existe e não existe,

e murmurava aos seus ouvidos sucessivos:

'Não quero mais dormir, nunca mais... nunca...' E a noite

levava meus olhos e meu pensamento,

levava-os, entre as estrelas antigas,

entre as estrelas nascentes,

- e eram muito menores

que as letras das palavras do meu grito." - Doze Noturnos da Holanda (DEZ)



"De longe te hei de amar,

- da tranquila distância

em que o amor é saudade

e o desejo, constância.


Do divino lugar

onde o bem da existência

é ser eternidade

e parecer ausência."


"Sonhamos ser. Mas ai, quem somos,

entre essa alucinada gente?"  - Metal Rosicler (36)


"Rios de serenata 

para o mar levarão

o que morre, o que mata 

e o que é recordação" - Metal Rosicler (46)


"Tristes ainda seremos por muito tempo,

embora de uma nobre tristeza,

nós, os que o sol e a lua

todos os dias encontram,

no espelho do silêncio refletidos,

neste longo exercício de alma" - Neste longo exercício de alma

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se de ser sempre gentil e respeitoso(a) nos comentários 😊 Obrigada pela visita!