(Texto escrito por mim em 23 de julho de 2020)
Recentemente, alguns questionamentos surgiram ao meu redor acerca da representatividade na literatura. Questionei-me sobre isso depois de terminar de ler "Conectadas", da escritora nacional Clara Alves. É um romance LGBTQIA+ bem fofinho! Me pus apensar: quantos livros LGBTQIA+ existem por aí? E quantos deles eu li? Quantos livros apresentam como protagonistas minorias (que não são representadas de forma estereotipada)? Qual seria o papel da literatura nessa história? Esse texto nada mais é, cara leitora (o), uma reflexão minha acerca do tema.
Primeiro, preciso deixar claro sobre o que significa essa palavra: representatividade. Nada mais é do que ter todas as pessoas, com suas peculiaridades de ser, sendo representadas. É a diversidade na mídia e em todos os cantos, sendo importante não apenas para a comunidade LGBTQIA+, mas também para as pessoas negras, mulheres (quando elas não sexualizadas, por exemplo), indígenas, mulçumanos, pessoas com deficiência, etc. Em outras palavras, são as minorias sendo representadas de forma coerente, sem estereótipo. Estereótipos estes que, quando espalhados, afetam a percepção que a própria sociedade possui acerca das pessoas, da vida, etc. Por exemplo, quem nunca se deparou com o estereótipo de que Nordeste é só seca? Ou Norte é apenas mato? Ou o de que todo gay é afeminado? Sendo que, quando um gay afeminado é representado, vemos uma perspectiva totalmente distorcida sobre ele, que geralmente é apresentado na posição de "melhor amigo gay", sendo este o seu único papel e valor na história.
Reduzir as pessoas a estereótipos é completamente injusto e fora da realidade. Quando esses esterótipos são espalhados pela própria mídia, que afeta (e muito) a perspectiva que as pessoas têm acerca da sociedade, fica ainda mais difícil se desvencilhar deles, já que são tão naturalizados na nossa sociedade. Por serem naturalizados, são poucos aqueles que questionam os danos que esse estereótipos difundem, sendo um debate que necessita de muita escuta. Não adianta nada você dizer: "eu sou uma pessoa muito mente aberta", se você não escuta quando as minorias falam e se expressam. É, no mínimo, hipócrita. Por isso, quando alguma minoria for falar da representatividade para você, de suas próprias lutas, escute. Procure saber, é sempre primordial!
Agora chegamos a um outro ponto: por que a representatividade é tão importante para as minorias? Bom, primeiro, posso te dar a resposta mais óbvia: "porque essa pessoa se sente representada, ué", mas vai muito além disso. Quando lemos algo, nos imaginamos naquele mundo, nos identificamos com os personagens, nos sentimos representados. Quando um LGBTQIA+, por exemplo, lê um livro com um protagonista LGBTQIA+, ele se identifica com aquilo, e isso é muito importante, pois ajuda a pessoa a se aceitar como ela é, e a ter orgulho de sua prórpria identidade. Além disso, a representatividade ajuda a naturalizar o que já é normal, mas não é vista dessa forma pela sociedade. Por exemplo, ler histórias com protagonistas negros ajuda os brancos a saírem um pouco da prórpria bolha, e conhecerem a realidade dessas pessoas. Por isso que muitos dizem (inclusive eu): ler gera empatia. A partir da leitura, nos conectamos com a história daqueles personagens, suas lutas e seus anseios. Quando esses protagonistas são minorias? Entramos em contato com parte de sua realidade, mesmo que seja uma história de ficção. Saímos de nossos casulos e olhamos para as vivências de outras pessoas. Passamos a enxergá-las.
Não encontramos muitos livros por aí que falem da realidade da mulher negra na nossa sociedade racista e patriarcal, nem muitos que falem sobre a realidade dos refugiados no nosso mundo segregacionista e com manias de se achar a última cereja do bolo. Com mais livros abordando esses temas claramente pouco discutidos, creio que a sociedade consiga avançar mais rapidamente.
Representatividade importa, e os livros são a nossa arma mais poderosa. Lembre-se disto.
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