quarta-feira, 22 de junho de 2022

Resenha: "A Diferença Invisível"

A DIFERENÇA INVISÍVEL
Autoras:
 Julie Dachez e Mademoiselle Caroline
Número de páginas: 192
Editora: Nemo
Nota: 4,5/5⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "A Diferença Invisível", minha segunda leitura das férias. O livro, que é uma história em quadrinhos, estava na minha lista há cerca de 1 ano (ou quase isso), então finalmente pude lê-lo! =)


A obra autobiográfica de Julie Dachez (responsável pelo roteiro) e Mademoiselle Caroline (responsável pela adaptação do roteiro e pelo desenho) acompanha Marguerite, uma mulher de 27 anos que tem Autismo. O livro inicia antes de a protagonista ser diagnosticada, mostrando a sua rotina e as suas experiências. As sequências de quadros que mostram a sua rotina é repetitiva, assim como seu próprio cotidiano. Como dito pela narradora do quadrinho (que não é Marguerite, mas outra personagem da obra): "Essa repetição de fatos talvez possa te cansar, mas a rotina faz Marguerite se sentir segura.". Além disso, a protagonista também enfrenta constantes desafios no trabalho, em que o barulho do ambiente a deixa constantemente ansiosa e as exigências para que ela seja mais sociável são constantes. Essas exigências são feitas até mesmo fora do ambiente de trabalho, seja pelo seu namorado, pela sua família ou por suas amizades. Ela tenta, se expondo a situações que a deixam esgotada e extremamente desconfortável, tendo inclusive crises quando os acontecimentos fogem bastante da sua rotina ou quando ela precisa lidar com barulhos e outras coisas que a deixam incomodada. Preocupada com os próprios comportamentos, Marguerite decide pesquisar no Google a razão de se sentir assim, encontrando relatos de diversas pessoas com Síndrome de Asperger e se identificando com eles. 

A partir disso, ela passa a pesquisar mais sobre a Síndrome e a procurar profissionais que possam diagnosticá-la. Quando ela recebe o seu diagnóstico, a sua vida muda, e ela passa a compreender e a respeitar os seus limites. É muito legal a forma como Marguerite lida com isso, se sentindo mais livre. 


Comparação da forma como as cores foram aplicadas


Algo que considero bastante interessante é a forma como as cores são aplicadas: a vida de Marguerite, antes do diagnóstico, possui como tons principais o preto, o branco e o cinza, além do vermelho para representar situações de estresse, e o azul, que aparece em sua casa, representando a calmaria e segurança que seu lar lhe transmite. Depois do diagnóstico, a sua vida ganha mais cor, e as páginas se tornam bastante coloridas. O traço de Mademoiselle Caroline transmite leveza e é bastante agradável e bonito! Sabemos que Marguerite representa Julie Dachez, mas a ilustradora também aparece na história, tendo um papel importante. Não direi quem ela é no livro, porque foi uma surpresa para mim, e eu achei muito bacana a maneira como ela foi inserida na história e como foi a feita "a revelação". Depois que terminei o livro, fui folheá-lo novamente e notei algumas pistas sobre quem seria Mademoiselle Caroline na obra. 


Além disso, há um prefácio falando um pouco sobre a Síndrome de Asperger, focado na questão das mulheres com a Síndrome, uma vez que a protagonista a apresenta e os casos de autismo no sexo feminino são, infelizmente, subdiagnosticados. Isso ocorre porque mulheres com autismo conseguem esconder as suas particularidades mais facilmente do que os homens, imitando os comportamentos sociais considerados adequados pela sociedade (como olhar uma pessoa nos olhos quando está falando com ela). Outra causa desse cenário é a falta de estudo e representação acerca do autismo em mulheres (sempre homens brancos...). Assim, obras como "A Diferença Invisível" são muito importantes para nos alertar sobre a existência dessa realidade e também para que a sociedade possa compreender melhor o cotidiano de uma pessoa com autismo, aumentando a empatia. O final da obra também se aprofunda um pouco no comportamento de pessoas com Asperger, falando sobre as características da síndrome, estratégias de adaptação e a apresentação de obras que falam sobre ela. 


Desenho de Hans Asperger


A única coisa que me deixou meio incomodada nisso tudo foi a representação de Hans Asperger (responsável  por descrever a Síndrome pela primeira vez. Por isso ela recebe o nome dele). Ele recebeu uma ilustração fofa, em que ele está rodeado de crianças e parece bonzinho. No entanto, ele cooperou com nazistas e apoiava o regime. Não merecia ilustração fofa. Esse link aborda essa questão com mais detalhes, e creio que valha a pena conferir: https://tismoo.us/ciencia/por-que-algumas-pessoas-defendem-que-o-termo-asperger-seja-abandonado/


De qualquer forma, a HQ é muito boa, leve e agradável! É uma leitura bem rápida, que nos ensina muitas coisas. Recomendo! <3



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