domingo, 19 de janeiro de 2025

Resenha: "Poemas", de Wisława Szymborska

POEMAS
Autora:
 Wisława Szymborska
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 168
Nota: 4,8/5 ⭐

Prefiro o ridículo de escrever poemas \ ao ridículo de não escrevê-los. - "Possibilidades"

 

Oi, pessoal! Como vocês sabem, eu amo ler poesias, e ano passado foi este o gênero literário com o qual eu mais entrei em contato. Esse ano, o primeiro livro do gênero que eu li foi "Poemas", primeira coletânea de poesias da escritora polonesa vencedora do Nobel de 1996, Wisława Szymborska, publicado pela Companhia das Letras e organizado e traduzido por Regina Przybycien. Nunca tinha lido nada da autora, nem ouvido falar dela, mas estava buscando livros de poesia para adquirir e a Amazon recomendou "Para meu coração num domingo", terceira coletânea da escritora publicada pela editora. Porém o livro estava com um preço salgado, e, assim, acabei descobrindo "Poemas", que estava com o preço melhor. Nos comentários de avaliação, muitas pessoas o recomendavam e alguém até tinha postado uma poesia publicada na obra, "A Vida na Hora", que logo chamou a minha atenção e me motivou a comprar o livro. Dessa maneira, pude conhecer mais uma brilhante poetisa e entrar em contato com palavras que me comoveram e me fizeram refletir acerca da vida e da política.


E o quer que eu faça, \ vai se transformar pra sempre naquilo que fiz - "A Vida na Hora"

 

"Poemas" apresenta prefácio de Regina Przybycien, que introduz a obra falando um pouco sobre o estilo de escrita de Wisława e sua vida, sobre o contexto histórico pelo qual a Polônia passava e como isso pode ter exercido influência sobre suas poesias, além de fazer comparações com outros escritores poloneses, dissertar brevemente sobre o processo de tradução do livro e sobre alguns poemas. Recomendo fortemente que o prefácio seja lido, pois o contexto apresentado enriquece a experiência de leitura e nos permite compreender melhor as palavras de Wisława. Por exemplo: um dos poemas da coletânea é "A Mulher de Lot", que "retoma a história bíblica da destruição de Sodoma. A mulher de Lot, a quem a Bíblia dedica apenas um curto versículo dizendo que ela se voltou para cidade e foi transformada numa estátua de sal, passou a ser, na tradição popular, um símbolo da curiosidade feminina. No poema a personagem toma a palavra para explicar suas razões para ter olhado para trás enquanto fugia de Sodoma. [...]". Eu nem conhecia essa história, e teria ficado perdida se não fosse a explanação do prefácio! Quando li o poema, ele tomou, portanto, uma dimensão maior do que ele tomaria se eu não tivesse tal informação prévia. Desse modo, o prefácio é bem rico e bem escrito, complementando bem a obra. 



Em seguida, nos deparamos com os poemas em si. A linguagem de Wisława é simples, até um tanto crua, e evoca uma série de reflexões acerca de aspectos da vida cotidiana e acerca da vida política.  Alguns poemas me deixaram tão impactada que tive que parar de ler por uns segundos para refletir até retomar a leitura, como "O terrorista, ele observa", poesia que narra o momento de espera de um terrorista enquanto a bomba que ele armou não explode e "Certa Gente", que narra a trajetória de pessoas refugiadas. Outros poemas que gostei muito foram o já citado "A vida na hora", através do qual a autora compara a vida à uma peça de teatro improvisada, e "Possibilidades", em que Wisława descreve algumas de suas preferências sobre os mais diversos assuntos, e com o qual me identifiquei bastante. Há outras poesias também, é claro, que figuram entre minhas favoritas, como "Filhos da época", em que a escritora chama atenção para o fato de que todos os aspectos da nossa vida são aspectos políticos, e "A curta vida dos nossos antepassados", cujo conteúdo é autoexplicativo, mas não a sua maneira de construir o poema. E há outros que infelizmente não coloquei aqui, senão a resenha inteira seria só citando poesias hahaha!


Somos filhos da época \ e a época é política. [...] \\ Querendo ou não querendo, \ teus genes têm um passado político, \ tua pele, um matiz político, \ teus olhos, um aspecto político. \\ O que você diz tem ressonância \ o que silencia tem um eco \ de um jeito ou de outro político. - "Filhos da Época"

  

Dessa forma, gostei bastante da experiência e recomendo para todos aqueles que gostam de poesia, para quem busca reflexões sobre a nossa existência e para quem se atrai por versos politizados e altamente conscientes. Certamente quero ler as outras coletâneas da autora publicadas aqui no Brasil! Além disso, no final do livro, estão dispostos os poemas em seu idioma original, o polonês, e imagino que livros dessa língua não sejam comuns em nosso território, então, para quem estuda o idioma, está aí uma boa oportunidade para colocá-lo em prática! 



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