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A MORTE DE IVAN ILITCH Autor: Lev Tolstói Editora: Editora 34 Número de páginas: 96 Nota: 4,5/5 ⭐ |
Oi, pessoal! Ontem terminei a leitura de "A morte de Ivan Ilitch", novela famosa do escritor russo Lev Tolstói. Peguei emprestado da minha mãe, pois estava imersa num tédio profundo - as aulas da faculdade iniciam-se apenas lá na metade de maio, então estou com muito tempo livre (o que é ótimo, na realidade). Para me distrair, minha mãe sugeriu alguns livros da estante dela, e assim chegamos em "A morte de Ivan Ilitch".
De início, admito que fiquei receosa em fazer essa leitura por se tratar de um clássico e ter em mim, mesmo que de forma inconsciente, a mentalidade - que reconheço equivocada, mas que se manifesta apesar dessa consciência - de que clássicos são livros difíceis de serem lidos e compreendidos. No entanto, quando minha mãe leu a sinopse da obra, me interessei e decidi que faria a leitura. Além disso, o livro é bastante curtinho (menos de 100 páginas!), o que já facilita. Surpreendentemente, foi uma leitura bastante tranquila e fácil de ser entendida, apresentando uma linguagem bastante acessível e uma história reflexiva realmente interessante. Agora estou com vontade de ler mais clássicos e de desmistificar tal pensamento equivocado! Ademais, a edição da Editora 34 ainda apresenta posfácio de seu tradutor, Boris Schnaiderman, e apêndice sobre a vida e obra de Tolstói, escrito por Paulo Rónai, que ajudam a dar maior dimensão e contexto para a obra.
"A morte de Ivan Ilitch" acompanha a vida do seu protagonista, que dá título à obra, e os seus momentos finais de existência, quando adoece gravemente e passa a refletir sobre a própria jornada, seus feitos e vivências. Ivan Ilitch era alguém que vivia de aparências, acreditando que fazer o que a sociedade esperava dele fosse o ideal a ser alcançado, fosse a fonte de sua felicidade, capaz de lhe fornecer uma vida "leve, agradável, alegre e sempre decente e aprovada pela sociedade". Assim, dedicou-se intensamente ao trabalho, alcançando um alto cargo, casou-se por pura conveniência (casar não por amor, mas porque o casamento é socialmente bem visto e incentivado), entre outras coisas. Todavia, ao sofrer uma queda e adoecer progressivamente após o acidente, Ivan questiona-se se esse modo de viver o fez realmente feliz, refletindo sobre suas escolhas e tentando lidar com a inevitável chegada da morte. Encontra amparo no seu criado Guérassim, enquanto para Ivan a presença de todos os outros aumenta o seu sofrimento, irritando-o as mentiras acerca de seu estado de saúde - como se fosse menos grave do que realmente é - e encontrando apoio somente em Guérassim.
Muitos aspectos do livro chamaram a minha atenção. Seu primeiro capítulo, por exemplo, retrata o velório de Ivan Ilitch, o impacto de sua morte na vida daqueles que conviveram com ele. E, entretanto, as pessoas estavam mais animadas com a perspectiva de ascenderem de posição na carreia em decorrência da vaga que Ivan Ilitch liberou ao falecer do que com a morte dele, além de pensarem "antes ele do que eu". Em outra parte da narrativa, quando podemos acompanhar as reflexões de Ivan em seus últimos momentos de vida, o seguinte trecho também me marcou:
O doutor dizia que os sofrimentos físicos dele eram terríveis, e dizia verdade; mas os seus sofrimentos morais eram mais terríveis que os físicos, e nisso consistia a sua tortura maior.
A obra, portanto, é um convite à reflexão acerca do modo como estamos levando a nossa vida. Ao final de tudo - e haverá um final, a única certeza, ironicamente, da vida - terá valido a pena? Viver visando agradar a sociedade é, realmente, uma forma de viver genuinamente satisfatória e valorosa? Nessa viagem sem retorno, como estamos vivendo? Como bem disse Wisława Szymborska, em seu poema A Vida na Hora, "Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes/ ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez! / Mas já se avizinha a sexta-feira com um roteiro que não conheço". E, desse modo, "A morte de Ivan Ilitch" é um livro que, mesmo após mais de 100 anos de publicação, permanece perfeitamente atual e capaz de refletir a sociedade, mesmo que a do século XXI. Afinal, a morte, e consequentemente, - de forma aparentemente paradoxal - também a vida, são questões intrínsecas à existência, seja no século XIX, seja no século XXI. E para sempre.
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