sábado, 21 de dezembro de 2024

Resenha: "Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos"

dezembro 21, 2024 0 Comments
Título: Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos
Autores: Pedro Brito (roteiro) e João Fazenda (desenhos)
Editora: Comic Heart e A Seita 
Número de páginas: 122
Nota: 3/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha do livro "Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos", que comprei na livraria Bertrand (localizada no centro de Lisboa e detentora do título de mais antiga do mundo pelo Guinness World Records)! A obra é uma história em quadrinhos bem curtinha, que dá para ler em apenas um dia. Uma coisa que achei interessante é que, lá em Portugal, chamam história em quadrinhos de banda desenhada. Quando eu vi o termo pela primeira vez, enquanto folheava a obra, fiquei sem entender e tive que pesquisar no Google o que significava kkkkk Porque aqui no Brasil, se você chegar em alguém e usar o termo "banda desenhada" (BD), não fará sentido porque costumamos relacionar "banda" à música. Ou talvez faça sentido - caso alguém pense no Gorillaz. Enfim!


Carimbo dizendo que este livro foi adquirido na Bertrand


Admito que comprei este livro influenciada pelo título, que é bastante impactante. A história em si deixou a desejar, na minha opinião. Nesse sentido, o enredo acompanha Tomás, um escritor passando por uma fase de bloqueio criativo e que precisa desenvolver um argumento (roteiro) para uma história em quadrinhos ilustrada por seu amigo. Ele é casado com Elsa, artista contemporânea buscando reconhecimento e espaço em galerias. Além disso, o casamento de ambos enfrenta uma séria crise, com constantes desentendimentos e brigas. No entanto, a realidade de Tomás muda quando ele encontra uma plantinha esquisita sendo vendida por uma senhorinha e decide comprá-la. Ao levar a planta para casa, ela faz com que ele tenha sonhos e pesadelos, e em um desses sonhos ele avista uma bela mulher cuja identidade o escritor desconhece. Esse episódio acaba inspirando Tomás, ao mesmo tempo em que aguça a sua curiosidade sobre quem seria a misteriosa senhora que lhe vendeu a planta e, principalmente, sobre quem seria a mulher que apareceu em seu sonho. 


Entretanto, tudo acontece muito rápido, de forma superficial, e não me conectei com a história, nem com os personagens. Na verdade, achei todos meio irritantes. O que gostei mesmo foram os desenhos, muito bem trabalhados, belos e fluidos. O quadrinho trabalha com duas cores, o preto e o vermelho, e a combinação de ambas é feita de forma bonita e criativa. Também gostei de alguns diálogos, mas de forma geral, não creio que seja um quadrinho que valha a pena. Toda a dinâmica é apresentada de maneira rasa, sem espaço para nos conectarmos com os personagens em um nível mais pessoal. Eles são apenas chatos e desinteressantes. Também gostaria que a "mulher dos sonhos" tivesse ganhado um desenvolvimento na história, pois ela não teve nenhum. Ela é apenas a mulher do sonho. E bonita. A sua personalidade é a mesma de uma caixa de papelão. Não sei se foi intenção do autor deixá-la assim, "misteriosa", mas ela só aparece como se fosse uma mulher perfeita que poderá ajudar o protagonista a resolver seus problemas. É conveniente, raso e desestimulante. Qual é a graça de uma personagem com a profundidade de um pires cujo únicos méritos apresentados são ser bonita e ter uma ligação misteriosa (desvendada ao longo da leitura) com o protagonista? Aliás, nem o protagonista da história cativa.


Ademais, a edição conta com uma entrevista realizada com o escritor e o ilustrador da obra, e é interessante lê-la para saber mais sobre eles e sobre a história que construíram juntos. O livro conta também com alguns esboços da história e das ilustrações, coisa que gosto muito de ver em livros de história em quadrinhos, pois permite que conheçamos melhor o processo de realização da obra. Por fim, há também um epílogo sobre o livro, escrito por Pedro Moura.



Encerrando a resenha, reafirmo o que disse antes: não creio que seja um quadrinho que valha a pena. Foi uma experiência interessante mais pelas ilustrações, que de fato chamam a atenção e roubam a cena, e porque por meio do diálogo é possível entrar mais em contato com o vocabulário português cotidiano - e é divertido notar as diferenças no modo de falar, além de que as variações linguísticas de nossa língua são mesmo fascinantes. De qualquer modo, não recomendo "Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos", mas cada opinião é única e várias pessoas são fãs dessa história, então pode ser que você goste. Ou não. 


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Resenha: "Poetas de Lisboa"

dezembro 17, 2024 0 Comments
POETAS DE LISBOA
Autores:
  Luís de Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca e Fernando Pessoa
Ilustrador: André Carrilho
Editora: Shantarin
 Número de páginas: 192


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha do livro "Poetas de Lisboa", que comprei na Casa de Fernando Pessoa em minha viagem a Portugal. A obra é uma edição bilíngue espanhol-português. Também vi edições inglês-português e francês-português, mas não sei se há outras versões além dessas. Enfim! 


A coletânea em questão reúne, respectivamente, algumas poesias de Luís de Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca e Fernando Pessoa, nomes importantes da literatura portuguesa. Foi uma ótima oportunidade para entrar em contato com outros poetas, além de Pessoa, de quem eu já estava mais familiarizada. Além das poesias, o livro também conta com mini biografias (em espanhol, e embora eu não fale o idioma, a similaridade com o português ajuda bastante) dos poetas citados e ilustrações realizadas por André Carrilho, o que é muito interessante, pois permite que entendamos um pouco mais sobre quem escreveu aquelas palavras e nos faça compreendê-las um pouco melhor, ter uma perspectiva mais ampla sobre os poemas. Há também um prólogo, escrito por Pedro Serra, professor da Universidade de Salamanca, mas que também está em espanhol (num nível mais avançado, claramente, mas dá pra entender algumas coisas 😅). Além disso, há um poema de Alberto Caeiro (um dos principais heterônimos de Fernando Pessoa) que fala inteiramente sobre Cesário Verde, e ter entrado em contato com as poesias dele antes de ler o poema de Caeiro certamente ajudou a compreender os versos sob um olhar mais vasto!



Ler as poesias presentes no livro foi uma experiência enriquecedora, e já quero conferir outros poemas dos autores! Recomendo bastante caso você esteja buscando ler uma ótima coletânea poética ou conhecer um pouquinho, de forma introdutória, a literatura portuguesa :)


✿ ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS ✿


"Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste." - Luís de Camões


"Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
        Cor de azeitona escura
[...]
Posso sentir-te em fogo, escandecida, 
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
        Nas noites de Verão" - Impossível!, de Cesário Verde

"Fui ontem visitar o jardinzinho agreste,
Aonde tanta vez a lua nos beijou,
E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste [...]" - Flores Velhas, de Cesário Verde

"De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... - 
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou..." - Quase, de Mário de Sá-Carneiro

"(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
[...]
Desceu-me  n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo" - Dispersão, de Mário de Sá-Carneiro





"Abre os olhos e encara a vida!" - A uma rapariga, de Florbela Espanca 

"Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu não te dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!" - Os versos que te fiz, de Florbela Espanca 

"Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade s sou feliz." - Alberto Caeiro 

"Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
        O que não pode ver-se.

Porque tão longe ir pôr o que está perto - 
O dia real que vemos? No mesmo hausto
Em que vivemos, morremos. Colhe
        O dia, porque és ele" - Ricardo Reis

"A criança que fui chora na estrada .
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou." - Fernando Pessoa

"Outra vez te revejo, 
Com o coração menos meu, a alma menos minha" - Lisbon Revisited (1926), de Álvaro de Campos

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Sobre a minha visita à Casa de Fernando Pessoa!

novembro 29, 2024 0 Comments
A fachada do museu! Essa foto foi tirada por minha mãe, e os pontinhos-pessoas contidos nela são eu e meu pai.


Oi, pessoal! Recentemente, estive em Lisboa com meus pais, e, em nosso primeiro dia na cidade, visitamos a Casa de Fernando Pessoa, local em que ele viveu durante os 15  últimos anos de sua vida e onde podemos conhecer um pouco de sua trajetória e de sua obra. Nessa postagem, irei falar um pouco sobre a minha experiência!


Fomos a pé, no dia 16 de novembro, pois ficava bem pertinho do nosso hotel. Pudemos conhecer um pouco das ruas de Lisboa, com ares de antiguidade e charme. As ruas próximas da Casa possuem luzes amareladas, que são acesas à noite e tornam tudo ainda mais encantado. Vale a pena dar uma passeada pelos arredores também! Enfim, estou apaixonada pela cidade, e a Casa de Fernando Pessoa foi literalmente a primeira coisa que visitei lá. E devo dizer: fiquei completamente extasiada!


A exposição é dividida em 3 pisos, e ainda há o térreo. O térreo abriga a lojinha e a recepção, onde compramos os ingressos para fazer a visitação. Em seguida, entramos no elevador e fomos para o último andar. 

Depois de pagarmos os ingressos, cada um de nós pegou esse guia de visita, para nos ajudar a explorar melhor o museu. Foto tirada pela minha mãe.

Lá, podemos conhecer mais sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos: a história deles, suas poesias e biografias. São 3 heterônimos: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, todos com características próprias que os distinguem uns dos outros e do próprio Fernando Pessoa. Lá, aprendi que os heterônimos propriamente ditos são apenas estes 3 pois possuem uma biografia completa, com local, data de nascimento e morte, e os outros (que também são citados e explicados) são criações de Fernando Pessoa, mas não chegam a ser completamente heterônimos por não possuírem biografia completa. Eu não fazia a mínima ideia dessa informação, pois ela não é difundida, e achei bastante interessante. Nesse andar também se encontra quadros de Fernando Pessoa e a sua máquina de escrever, além de um espaço com espelhos em todas as direções, em que possível ver vários "vocês" e, em uma parede, a indagação: "Quantos sou?". Além disso, há poltronas com headphones ligados a uma tela (parecida com um tablet) apoiada nas poltronas, contendo textos de Fernando Pessoa e de seus heterônimos, para você poder ler e ouvir. Achei muito massa! Eu escutei e li um texto do próprio Pessoa sobre seus heterônimos e os belíssimos poemas "Apontamento" (que já conhecia e gostava), de Álvaro de Campos, e "Quando eu não te tinha", que eu ainda não conhecia e de autoria de Alberto Caeiro.


"Não me arrependo do que fui outrora / Porque ainda o sou. / Só  me arrependo de outrora não ter te amado" - Trecho de Quando eu não te tinha

 


 

No segundo andar, entramos em contato com alguns livros da biblioteca pessoal de Fernando Pessoa e com variadas edições de suas obras, publicadas em diversos países e línguas diferentes. 


Foto tirada pela minha mãe


No primeiro andar, mergulhamos ainda mais na biografia pessoal do escritor. Conhecemos um pouco de sua família, entramos em contato com objetos pessoais (como cadernos, seus famosos óculos, entre outros) e vemos retratos seus tirados ao longo da vida (desde que ele era um bebê até as fotografias tiradas em seus últimos dias de vida). Há, ainda, uma recriação como era seu quarto naquela casa e também podemos assistir, em uma tela e usando headphones, à uma entrevista com uma sobrinha de Fernando Pessoa, que morou com ele no lugar. Ela conta como o era o local na época, como era sua convivência com o tio e qual era a sua perspectiva sobre ele, a partir de um relato permeado por suas memórias. Vale muito a pena parar para assistir, pois podemos conhecer uma perspectiva subjetiva do escritor que é também muito interessante e curiosa. 


"I know not what tomorrow will bring" ("Eu não sei o que o amanhã trará"), última frase escrita por Fernando Pessoa, no hospital em que ele foi antes de vir a falecer.

Para finalizar a nossa visita, descemos novamente para o térreo, onde fizemos uma festa com as lembrancinhas. Eu comprei uma lindíssima bolsa (tipo uma ecobag mais elaborada, embora tivesem ecobags "normais" também) com uma citação de Alberto Caeiro: "Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do mundo", um caderno da cor preta com a citação "Tenho escrito mais versos que verdade.", de Álvaro de Campos, (mas existem váááárias opções) e o livro "Poetas de Lisboa", obra que reúne algumas poesias de escritores portugueses em edições bilíngue (eu escolhi a espanhol-português, porque, mesmo que não fale a língua espanhola, lembra o português, e eu nem reparei se tinha em inglês). Enfim! Tem diversos livros, bonequinhos de Fernando Pessoa (minha mãe comprou um muito fofo!), imãs, bolsas, cadernos, canetas, canecas, etc. 


A Casa também conta com uma biblioteca, em que é possível alugar os mas variados livros, mas quando eu fui tava fechada. Tudo bem, fica para a próxima! 

Se você estiver indo à Lisboa, recomendo muito que passe pela Case de Fernando Pessoa. Há também a Fundação José Saramago e a Livraria Bertrand (uma das mais antigas do mundo!), lugares que também visitei e amei. Aliás, em todo canto da cidade, você encontra livrarias, sebos e referências à literatura. Para os amantes dessa expressão, a visita à cidade é realmente uma pedida excelente! Recomendo demais!!


MAIS FOTOS!! 🌸📚

Lendo e ouvindo atentamente os textos de Pessoa! Flagra feito pela minha mãe.
 

Retratos de Fernando Pessoa! Foto tirada pela minha mãe. 



Foto tirada pela minha mãe ;)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Resenha: "Poesia Que Transforma"

novembro 13, 2024 0 Comments
POESIA QUE TRANSFORMA
AUTOR:
 Bráulio Bessa
EDITORA: Sextante
NÚMERO DE PÁGINAS: 192
NOTA: 4,5/5 ⭐


Recentemente, ganhei de aniversário o livro "Poesia Que Transforma", de Bráulio Bessa, e foi uma leitura que me acompanhou durante o final de setembro e o mês de outubro! Já tinha entrado em contato com alguns dos cordéis do Bráulio, através do programa Encontro, - quando ainda era apresentado por Fátima Bernardes - mas nunca cheguei a acompanhá-lo de fato. Então, receber este livro foi uma ótima oportunidade de poder conhecer mais de suas poesias! E devo dizer que foi um presente que chegou em boa hora, uma vez que a preparação para o ENEM (especialmente no último mês) é uma loucura, e as palavras de Bráulio Bessa são cheias de compreensão, reflexão e de uma bonita simplicidade que acalenta a alma. 


Gosto de comparar a poesia a um abraço, que consegue  fazer um carinho na alma sem nem saber qual é a dor que você está sentindo. A poesia se adapta à sua dor. É um abraço cego e despretensioso, como quem diz: "Venha! Tá doendo? Pois deixe eu dar um arrocho, que vai lhe fazer bem.". 

 

Por meio de pouco menos que 200 páginas, podemos mergulhar em uma série de cordéis e ilustrações sobre os mais variados temas: família, amor, recomeço, sonhos, desigualdades, entre tantos outros. Além disso, Bráulio também escreve alguns textos contando um pouco de sua vida, como alcançou a fama, sua relação com sua cidade (Alto Santo, no interior do Ceará), sua família, etc, permitindo que conheçamos uma parte de sua trajetória, o que é bastante interessante. Ao final da obra, também foi disponibilizado alguns depoimentos de leitores que contam como a poesia de Bráulio Bessa impactou a vida deles, e acho que deve ser muito gratificante para um escritor ter acesso a esse tipo de coisa! Como já sugere o título, a poesia realmente transforma ❤ 


Foi uma boa leitura., leve e agradável! Recomendo!! 🥰❤




ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS ⭐

"Nem sempre engatar a ré
significa voltar" - Recomece, página 17    

"Acredite que sonhar
também é compreender   
que nem sempre o que se sonha
é o melhor pra você
e que não realizar
nem sempre será sofrer" - Sonhar, página 31

"O tempo é um segredo,
acredite, é muito cedo
pra dizer: Tarde demais" - Nunca é tarde, página 40

"talvez fosse o meu destino
nascido pra escrever
aquilo que faz bater
um coração nordestino"  - Coração Nordestino, página 49 

"Por ser inteira em pedaços,
por ser lar e por se lida,
por ser mil em uma só,
por ser sempre repartida,
por ser um pedaço de Deus
me dando um pedaço de vida" - Mãe, página 103

"O tempo não muda os olhos
mas mudou o meu olhar [...]" - Pai: de desconhecido à eterno, página 162

MORREU MARIA PREÁ          


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Sobre "Ainda Estou Aqui", novo filme de Walter Salles

novembro 11, 2024 0 Comments
AINDA ESTOU AQUI
Diretor:
 Walter Salles
Elenco principal: Fernanda Torres, Selton Mello, Valentina Herszage, Bárbara Luz, Guilherme Silveira, Luiza Kosovski, Cora Mora, Antonio Saboia, Maria Monoella, Marjorie Estiano, Gabriela Carneiro da Cunha, Olivia Torres, Fernanda Montenegro
Nota: 5/5 ⭐


Sábado fui ao cinema com meus pais para ver o novo filme de Walter Salles (que dirigiu Central do Brasil, um dos meus filmes favoritos, Terra Estrangeira, e tantas outras obras), "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Saí da sala de cinema chorando e estou completamente impactada! O longa é baseado em livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva - ainda não li, mas quero muito! Enfim. 

Antes de tudo, gostaria de salientar que a resenha que aqui publico é uma adaptação do que escrevi lá no Letterboxd (rede social focada em filmes, que já comentei tantas vezes por aqui), com uns pensamentos a mais.


O longa retrata a família Paiva em plena Ditadura Militar. Nos primeiros minutos do filme, podemos acompanhar um pouco de seu cotidiano: as brincadeiras, as festas com os amigos, as idas à praia... No entanto, o tom do filme muda quando Rubens Paiva (Selton Mello), pai e marido amoroso, ex-deputado e engenheiro, é sequestrado por militares, para, logo em seguida, ser torturado e assassinado. Após isso, vemos a luta de Eunice Paiva (interpretada brilhantemente por Fernanda Torres) em busca de justiça e em busca de se reerguer, mostrando-se uma figura muito resiliente. Assim, "Ainda Estou Aqui" é um retrato da Ditadura Militar, um retrato de tantas famílias brasileiras que vivenciaram os horrores daquele período, um retrato do Brasil, que ressoa de forma poderosa em todos nós. É a nossa própria história em tela. História esta negada vergonhosamente pelo próprio país. 


Em vários momentos do longa, questionei-me como há tantas pessoas que negam as atrocidades da Ditadura, que desejam o seu retorno e como há tantos militares que saíram impunes dos horrores cometidos e seguem assim até os dias de hoje. É lamentável e vergonhoso o quanto o Brasil empurra para debaixo do tapete as questões relacionadas à Ditadura Militar, amenizando-as e ignorando-as, portando-se como um país sem memória. Quase como se não tivesse ocorrido nada, como se o que ocorreu não tivesse importância, como se tivéssemos que esquecer aqueles tempos sombrios. Mas o esquecimento é condenar o país à alienação e ao retrocesso. Esquecer é dar voz a quem minimiza e enaltece tais horrores, como um tal presidente eleito que fazia arminhas com as mãos e adorava fazer piadas com as vítimas da Ditadura, com as torturas e com os assassinatos. Esquecer é retroceder eternamente. Então, é simplesmente urgente manter a memória do país acessa, para não repetir os horrores do passado e para honrar aqueles que lutaram por um Brasil justo e digno. E "Ainda Estou Aqui" faz isso com maestria. 




Além disso, as atuações de todo o elenco são impecáveis, e aqui destaco a de Fernanda Torres. Impossível não se comover com a jornada de Eunice em sua luta por justiça e com o cuidado que demonstra com os filhos e com o marido. A atriz transparece tão bem os sentimentos de Eunice que parece que estamos vendo a própria em tela: sua angústia, sua tristeza, sua força e seu amor. Também é perceptível a dedicação na produção do filme, que está presente até nos detalhes, como nas fotografias da família Paiva, fielmente recriadas pelo elenco, nas ótimas atuações, na trilha sonora setentista que muito combinou com o filme, entre outras coisas...


Muito se fala de "Ainda Estou Aqui" pelas premiações que levou e pelo potencial de ganhar o Oscar. No entanto, independentemente de qualquer premiação, este é um filme que merece ser visto. É a nossa história. É o cinema como uma ferramenta potente de arte que desperta nossos sentidos e que mantém viva nossas memórias. É o cinema brasileiro vivíssimo e brilhando. É preciso recordar para não esquecer, recordar para não repetir. Porque, parafraseando outro filme brasileiro, Uma História de Amor e Fúria, "O que a gente vive é resultado do que aconteceu no passado. Viver sem conhecer o passado é viver no escuro.".


quinta-feira, 27 de junho de 2024

Resenha: "A Vida Submarina", de Ana Martins Marques

junho 27, 2024 0 Comments
A VIDA SUBMARINA
Autora:
 Ana Martins Marques
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 144
Nota: 4/5⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de um livro de poesia que li recentemente: "A Vida Submarina", de Ana Martins Marques. A primeira vez que ouvi falar na autora foi graças a uma questão do ENEM do ano passado, cujo texto-base era uma poesia de sua autoria, "Migalhas". O poema chamou a minha atenção pela forma como ele foi construído, aparentemente simples, um tanto cru, e que conseguia capturar gestos e atitudes do cotidiano de modo a mostrar a significância presente na situação narrada. Desde então, o poema não saiu da minha cabeça, e já o reli várias vezes! Um tempo depois, tive a oportunidade de ler outra poesia da autora, desta vez através do Instagram - novamente, tive a minha atenção capturada. E  me lembrei de seu outro poema que havia lido. Pesquisei, então, a origem de "Migalhas", e foi assim que fui parar no livro "A Vida Submarina", sua obra de estreia na literatura.  


O poema que me trouxe até aqui!


O livro é dividido em sete partes, e por meio delas Ana aborda temas como o fazer poético, amor, entre outros, de forma criativa. Por exemplo: na segunda parte do livro, "Arquitetura de Interiores", a autora usa itens e cômodos da casa de forma poética, construindo a poesia em torno de palavras que remetem ao lar. Além disso, a obra é bem curtinha e pode ser lida rapidamente, sendo preenchida com poemas sensíveis e belos. Foi uma ótima oportunidade de conhecer poesias novas da autora e, através delas, refletir sobre a vida, o mundo ao redor e o mundo interior também. Inclusive, essa é uma das coisas que mais me fascinam na poesia: como ela coloca em evidência o aparentemente banal, dando uma maior dimensão àquilo que nos cerca. 


"A Vida Submarina" é um bom livro, que vale a pena conferir! Recomendo ;) 

P.S: Acho muito massa como eu vou conhecendo autores e obras através do ENEM! Sabe, tem muita coisa bacana naquele monte de questão e textos embaralhados. 


🌸 ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸


"A confusão é sempre
enredar-se em si mesmo" - Caixa de Costura

"Quem me dera fazer com o poema
uma fogueira que ardesse só para ti" - Fogueira

"neste mesmo quarto
há muito tempo
você me ensinou 
novamente a nudez
e então chamamos isso de amor
mas era exagero" - Quarto

"seu vestido de verão
sem você dentro
não é um vestido de verão
porque no vestido o verão
era você" - Guarda-roupa

"Quem me queimou assim
foi o sol
ou o desejo?" - Casa de Praia

"sentamos lado a lado e de repente 
estamos rindo entregues de novo
ao hábito feliz das palavras" - Diário (verão de 2007): dia 20

"foi neste momento então que eu 
deveria ter dito
o que hoje
porém
seria ridículo dizer" - Nirvana


"Também 
a quem fica
cabe uma paisagem nova
e a travessia insone do desconhecido
e a alegria difícil da descoberta" - A Viagem

"a boca ascende-se como um coração,
como um coração as mãos se armam de incêndios." - Novembro

"Num dia
em que não havia nada
no teu corpo me deste
abrigo" - Memória (II)

"O relógio na parede
marca as horas que não vivi" - Papel de Escritório 

"Dançando
desenho
o desejo
da dança" - Dez Desenhos Escritos

"o seu corpo é um país desconhecido
que não sei como visitar" - Hospitalidade

"Sorrimos e acrescentamos palavras à paisagem,
no entanto ninguém percebe o meu coração
ardendo
por baixo das flores do vestido" - Figo


terça-feira, 30 de abril de 2024

Resenha: "Fernando Pessoa: Poesias"

abril 30, 2024 2 Comments
FERNANDO PESSOA: POESIAS
Autor:
 Fernando Pessoa
Número de páginas: 144
Editora: L&PM
Nota: 4,7/5 ⭐


Oi, pessoal! Faz tempo que não apareço por aqui... é porque agora estou no terceiro ano do Ensino Médio, então minha vida está bem corrida e meu tempo, consequentemente, um tanto escasso. De qualquer forma, cá estou eu novamente! :) 

Hoje irei falar sobre uma coletânea de poesias de Fernando Pessoa que peguei emprestada da minha mãe. Em apenas 144 páginas, o livro reúne vários poemas, incluindo os lançados sob alguns dos heterônimos do autor português. 


Já havia lido alguns poemas de Fernando Pessoa ao longo da vida, mas  nunca havia parado para lê-los com mais afinco. Interessei-me mais quando vi este livro no consultório da minha médica e li alguns textos, que chamaram a minha atenção pela maneira como Fernando Pessoa fala sobre os sentimentos, sobre vivências e sobre a morte, com certo pessimismo e com bastante honestidade. Passado um tempinho, notei que a minha mãe tinha o mesmo livro que vi no consultório da minha médica, então peguei emprestado e, durante 1 mês, as poesias me fizeram companhia - mas algumas, sei bem, continuarão a ressoar dentro de mim. 


Além dos temas já citados, Pessoa também fala bastante sobre as navegações portuguesas, como em um de seus poemas mais famosos, "Mar Português". Outros famosos poemas também estão presentes na coletânea, como "Tabacaria" (um de meus favoritos) e "Poema em Linha Reta" (que também se enquadra nessa categoria). Mas gostei de vários, como "O Menino Da Sua Mãe", "Apontamento" e outros sem título! Ficava sempre relendo meus versos favoritos, e alguns ainda ecoam em minha mente, de tão bonitos que são. Também é fácil se identificar com as palavras de Fernando Pessoa, pois são bastante sinceras, e acho muito bonita essa sinceridade e essa ousadia em expor a própria alma.


Enfim! Gostei bastante da experiência. Se você for ler, vai lendo aos pouquinhos, pra apreciar. Recomendo muito a leitura! ❤ 


🌸 ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸


"Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto" - Página 29

"Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido" - Página 35

"E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta, 
porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta" - A Casa Branca Nau Preta, página 58

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?" - Tabacaria, página 64

"Tenho sonhado mais do que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais
humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre 'o que não nasceu pra isso' " - Tabacaria, página 65

"Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu" - Apontamento, página 76

"Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida" - Aniversário, Página 78

"Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado" - Realidade, página 82

"E os meus pensamentos são todos sensações" - Página 93


"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão - 
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados 
Como para os que não o são.
Sentir é estar distraído" - Página 101

"Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim. 
[...]
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
[...]
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é" - Página 102

"Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre" - Página 105

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui. Põe quanto és
No mínimo que fazes
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive." - Página 117