segunda-feira, 28 de julho de 2025

Resenha: "O Louco, O Mensageiro e O Andarilho"

julho 28, 2025 0 Comments
O LOUCO, O MENSAGEIRO E O ANDARILHO
Autor:
 Khalil Gibran
Editora: Lafonte
Número de páginas: 160
Nota: 3,6/5 ⭐


Minha filha, nós somos os infinitamente pequenos e os infinitamente grandes e somos o caminho entre os dois.

 

Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de três obras, mas cuja edição lida por mim reúne as três em um só livro: "O Louco (suas parábolas e poemas), O Mensageiro e O Andarilho", de Khalil Gibran. Peguei emprestado de um amigo meu da faculdade e a experiência foi boa e agradável!


Por que disputar o que seremos / quando nem sabemos o que somos?


Os três livros trazem textos curtos (parábolas e poesias, mais especificamente) que levantam reflexões sobre a vida e as coisas que a cercam: sentimentos (como o amor, a alegria, a tristeza, entre outros), atitudes, questionamentos... Creio que seria um ótimo livro de cabeceira, desses que se lê aos pouquinhos antes de dormir, possíveis de serem lidos fora de ordem (embora eu não tenha feito isso) e através dos quais refletimos sobre as coisas que envolvem nossa existência. Além disso, embora contenha textos escritos há bastante tempo, estes seguem relevantes e pertinentes na atualidade. Das três obras, a que mais gostei foi "O Mensageiro"!




Entre meus textos favoritos, destacam-se "Derrota", que me fez lembrar da música "O Vencedor", dos Los Hermanos, "Críticos", que me fez pensar sobre a questão da revitimização (que é quando uma vítima, ao denunciar o que sofreu, torna-se vítima novamente - de julgamentos, por exemplo), "A útima vigília", em que o Mensgaeiro reflete sobre o amor e que foi um dos textos mais bonitos dos três livros, "O louco" (presente no livro "O Andarilho"), entre tantos outros! Foi uma leitura interessante e está recomendada! :)


Derrota, minha Derrota, minha solidão e meu distanciamento; 

Você é mais cara a mim do que mil triunfos,

E mais doce para o meu coração do que toda a glória do mundo.

 


sábado, 19 de julho de 2025

Resenha: "Vou te receitar um gato"

julho 19, 2025 0 Comments
VOU TE RECEITAR UM GATO
Autora:
 Syou Ishida
Editora: Intrínseca 
Número de páginas: 224
Nota: 3,5/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de uma leitura que fiz no mês de maio e terminei no comecinho de junho, mas não tinha escrito ainda: "Vou te receitar um gato", de Syou Ishida. Trata-se de um livro do gênero healing fiction, ou seja, ficção de cura, que vem fazendo certo sucesso de uns tempos pra cá. Para quem não sabe, o gênero busca retratar histórias aconchegantes e emocionais, que visam causar bem-estar a quem lê, sendo muito comum lá no Japão. 


A obra retrata cinco histórias de pessoas que buscaram ajuda na Clínica Kokoro, um espaço que fornece atendimento psiquiátrico e é mantido pelos excêntricos médico Nike e a enfermeira Chitose. O lugar é envolto por uma atmosfera de mistério e estranheza, localizado em um beco escuro e aparecendo somente para as pessoas que realmente precisam encontrá-lo. Lá, o doutor Nike receita gatinhos como método terapêutico em vez dos tradicionais remédios, surpreendendo os pacientes. É claro que, na vida real, gatos não curam problemas emocionais, mas certamente ajudam a lidar com eles. No universo criado por Syou Ishida, entretanto, eles são carregados de certa "magia" e transformam profundamente a vida e as questões emocionais dos pacientes da Clínica Kokoro. 


Nem sempre o tempo e a intensidade do amor são proporcionais. Há companheiros que se tornam essenciais na nossa vida, sejam eles humanos ou gatos. Podemos passar um dia ou um ano com eles. Podemos nunca mais vê-los de novo. Ainda assim, eles sempre serão importantes para nós.


Assim, podemos acompanhar a história um homem bastante insatisfeito com seu trabalho, um ambiente que o desgasta diariamente, a de um homem ranzinza que aprende a ser mais gentil com as pessoas, a de uma mãe bastante dura com sua filha que se reconecta com ela, a de uma empresária extremamente perfeccionista e controladora que precisa aprender a encarar as coisas com mais leveza e, por fim, a de uma gueixa cuja gatinha havia fugido e que precisava lidar com o luto por tê-la perdido. Através das brincadeiras, das bagunças, do afeto e das situações proporcionados pelos gatos, os protagonistas descobrem mais sobre si mesmos e ressignificam a própria forma de encarar a vida. Além disso, à medida que conhecemos mais sobre os personagens, mergulhamos na história da própria Clínica Kokoro e vamos "desvendando-a" com o passar das páginas. 



Apesar de não ter sido uma leitura memorável ou algo do tipo, foi uma boa pedida para passar o tempo. É um livro curtinho, agradável e leve, e creio que seria um ótimo presente para quem ama gatos (eu estou inclusa nesse pacote)!


domingo, 13 de julho de 2025

Resenha: "Verônica e os pinguins"

julho 13, 2025 0 Comments
VERÔNICA E OS PINGUINS
Autora:
 Hazel Prior
Editora: Gutenberg
Número de páginas: 352
Nota: 3,8/5 ⭐


Oi, pessoal! Ontem concluí a leitura de "Verônica e os pinguins", livro que peguei emprestado da Biblioteca Central da UFS, minha universidade. Estava buscando algo levinho e descontraído, e no processo, quando vi a lombada de "Verônica e os Pinguins", reconheci que se tratava de uma edição da TAG. Para quem não sabe, - e comentei anos atrás sobre o tema no blog - a TAG é um clube de assinaturas literário, em que cada mês você recebe um livro surpresa em sua casa junto de alguns mimos. Eu nunca assinei, mas acho bem interessante. Quando vi que a UFS tinha umas edições da TAG (pois os assinantes recebem edições exclusivas dos livros) fiquei curiosa e dei uma olhada. Foi assim que cheguei até "Verônica e os Pinguins", obra que desconhecia completamente e que decidi ler porque gostei da sinopse (simples assim!).


O livro acompanha Verônica McCreedy, uma senhora com 85 anos de idade, milionária, solitária e muito ranzinza.  Ao refletir sobre a própria vida e a proximidade de sua morte, Verônica decide avaliar o destino de sua fortuna após o seu falecimento, pois não queria deixar tudo para o governo. Assim, procura saber se possui algum descendente vivo, uma vez que seu filho foi adotado por outra família e era falecido há anos, descobrindo a existência de Patrick, seu neto. Em meio à tal descoberta, a protagonista também passa a assistir um programa de televisão que acompanha um grupo de cientistas estudando pinguins na Antártica. Apaixonada pelos animaizinhos, preocupada com o risco de extinção que sofrem e após um encontro mal-sucedido com Patrick, Verônica pensa que seria bom deixar seus milhões de dinheiro nas mãos do projeto que estuda os pinguins. Antes de tomar sua decisão definitiva, porém, a senhora vai até a Antártica para verificar se vale a pena deixar sua herança com os cientistas, mesmo com as contraindicações de todos - as quais, vale destacar, ela não dá a mínima. Envolta por três cientistas, um monte de pinguins fofos, um neto recém-descoberto e um passado difícil e doloroso com o qual precisará lidar, Verônica vai, enfim, se permitir criar vínculos com as pessoas e aprender a recomeçar.


A vida pode ser generosa. Pode curar o coração e sussurrar que é sempre possível recomeçar, que nunca é tarde demais para fazer a diferença. Pode mostrar que há muitas, muitas coisas pelas quais vale a pena viver. E uma dessas coisas, uma das coisas mais alegres e inesperadas de todas, são os pinguins. 



É uma obra interessante, com uma história um tanto água com açúcar (o que, é claro, não é nenhum demérito!), que, embora não surpreenda e seja um tanto superficial em certos aspectos (mas falarei mais sobre isso adiante), me entreteve, me arrancou risadas sinceras e me fez torcer pelo destino dos personagens, especialmente pelo de Verônica. Li e assisti algumas resenhas aqui na internet e um comentário comum foi que acharam o começo do livro enfadonho, maçante, pois foca em retratar a rotina de Verônica. Eu, entretanto, não me incomodei com esse início, pois considerei interessante como a autora abordou o cotidiano de uma pessoa idosa e seus dilemas. Além disso, a leitura é permeada por comentários sarcásticos de Verônica, que, embora seja uma senhorinha ranzinza, teimosa e, admito, um pouco irritante, me divertiram e me fizeram rir genuinamente. É legal poder testemunhar como a viagem para a Antártica derrete seu coração de gelo (desculpe-me pelo trocadilho brega, foi mais forte do que eu) e faz a protagonista colocar a própria vida em perspectiva e recomeçar, mesmo no alto de seus oitenta anos e após uma série de tristes acontecimentos que moldaram profundamente seu modo de ser. Dessa forma, "Verônica e os Pinguins" é um livro com gostinho de esperança!


[...] A senhora não acha que, conforme os anos passam, a pessoa se torna menos obcecada consigo mesma e se preocupa mais com os outros? À medida que a gente envelhece, é como se a capacidade para o amor crescesse.


Como mencionei, considerei a obra superficial em determinados aspectos. Com exceção de Verônica, sinto que os outros personagens da história foram pouco desenvolvidos, inclusive seu neto Patrick, que narra diversos capítulos da obra e que, apesar disso, creio que tenha recebido um desenvolvimento mediano. Ademais, considerei o final da obra corrido: os fatos ocorrem rápido demais e os problemas desaparecem com a mesma velocidade com que surgem. Acredito, portanto, que o final poderia ter recebido um desenvolvimento melhor, com mais detalhes sobre o que ocorria. Um específico romance (não irei nomear entre quais personagens, para não dar spoilers), que acontece no final da obra, por exemplo, floresce do nada como se fosse o maior amor do mundo e isso me deixou um tanto incomodada, pois parece tudo muito conveniente e pouco convincente. De qualquer modo, apesar  desses pesares, creio ter sido uma boa leitura. 


"Verônica e os Pinguins" é um livro agradável, divertido e sensível. Uma boa pedida para quem busca algo leve, um tanto clichê e que seja encantador! No fim das contas, olha só, sentirei falta dos pinguins!


domingo, 6 de julho de 2025

Resenha: "Poemas de Alberto Caeiro"

julho 06, 2025 0 Comments
POEMAS DE ALBERTO CAEIRO
Autor:
 Fernando Pessoa
Editora: L&PM
Número de páginas: 144
Nota: 5/5 ⭐❤


Oi, pessoal! Dia três desse mês concluí a leitura de "Poemas de Alberto Caeiro", publicado em edição de bolso pela editora L&PM e que reúne poesias de um dos mais famosos heterônimos de Fernando Pessoa. Caeiro é considerado o mestre dos heterônimos e do próprio Pessoa, sendo também o "poeta da Natureza", constantemente exaltada em seus versos (que muito me encantam e que me encantaram, mais uma vez!). Peguei emprestado da minha mãe, que possui uma coleção de livros do autor - para a minha felicidade. 


Esta edição está bastante organizada, possuindo dois textos de apresentação: um sobre Fernando Pessoa de um modo geral, com breves apresentações sobre Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis - seus três principais heterônimos - e o outro sobre, especificamente, Caeiro. Além disso, as poesias são acompanhadas de notas de rodapé que ampliam a visão apresentada nos versos. Tais detalhes tornam a leitura ainda mais rica e permite que conheçamos melhor a obra do autor - ortônimo e heterônimo -, nos fazendo compreender melhor seus poemas. Ao final, há, ainda, uma cronologia que relata, brevemente, eventos marcantes de sua vida. Por fim, a edição também é dividida em três partes: "O Guardador de Rebanhos", "O Pastor Amoroso" e "Poemas Inconjuntos". 




Em "O Guardador de Rebanhos", temos a oportunidade de ler poemas que Fernando Pessoa escreveu, sob a identidade de Alberto Caeiro, em 8 de março de 1914, o "dia triunfal" em que ele criou seus três grandes heterônimos. Nesses poemas, o mestre da Natureza reflete sobre o mundo natural que o cerca e aquele que carrega dentro de si, negando o ato de pensar e valorizando as sensações e aquilo que se pode ver e ouvir (como ele mesmo diz: "E os meus pensamentos são todos sensações"). São poesias sensíveis e belas, algumas que já conhecia e já amava, e outras que passei a conhecer e a amar. É o caso, por exemplo, do poema II, que possui um verso que nunca esqueço e que carrego em meu coração: "Sinto-me nascido a cada momento/Para a eterna novidade do mundo". Tenho até uma ecobag com esta frase estampada, que comprei em minha visita à Casa de Fernando Pessoa em minha viagem à Lisboa no ano passado! O meu poema favorito desta primeira parte (e talvez do livro todo), entretanto, foi um que nunca antes havia lido, o poema VIII. Nele, Alberto Caeiro reflete sobre o Menino Jesus, que vive com Caeiro em sua aldeia. Há uma terna descrição da infância de Jesus como criança, ao mesmo tempo em que se humaniza a figura divina de Cristo de uma forma muito linda e poética. 


Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com meus sonhos. 

Vira uns de perna para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate as palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono. 

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Quando eu morrer, filhinho, 

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo 

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

Para eu tornar a adormecer. 

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é.


Na segunda parte da obra, "O Pastor Amoroso", temos a oportunidade de ler as poesias românticas de Alberto Caeiro, que, apaixonado, transforma suas convicções. Se antes ele recusava o ato de pensar, agora pensa sobre a pessoa amada, embora não seja correspondido. É a parte mais breve do livro, mas não menos interessante. Aqui, embora dedique suas poesias a quem ama, o autor continua a valorizar a natureza e a conectar-se com ela.


Tem o cabelo de um louro amarelo de trigo ao sol claro,

E a boca quando fala diz coisas que não só as palavras

Sorri, e os dentes são limpos como as pedras do rio.


Na terceira e última parte, "Poemas Inconjuntos", Caeiro retorna àquele que era antes das vivências contidas em "O Pastor Amoroso". Os poemas continuam sensíveis, exaltando o natural, aquilo que realmente é e as sensações. Muitos dos meus poemas favoritos estão aqui, como "Quando vier a primavera", que considero tão bonito que decorei na íntegra. Ademais, pude conhecer mais poesias que gostei bastante, como "Na noite de S. João para além do muro" e outras!


Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,

Não há nada mais simples. 

Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.

Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.



Por tudo que disse aqui, recomendo bastante a leitura deste livro! É sempre uma boa experiência ler Fernando Pessoa, e poder conhecer melhor as poesias de Alberto Caeiro também o foi. Se tiver interesse, pode ler também as resenhas de "Fernando Pessoa: Poesias", pequena antologia poética que me introduziu à sua obra, de "Poetas de Lisboa", que reúne poesias suas e de outros grandes poetas portugueses, e, por fim, a postagem que fiz relatando minha visita à sua casa (esta aqui!). Até a próxima, pessoal ;)


Quem me dera que eu fosse o pó da estrada 

E que os pés dos pobres estivessem me pisando...


Quem me dera que eu fosse os rios que correm

E que as lavadeiras estivessem à minha beira...


Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio

E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...


Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro

E que ele me batesse e me estimasse...


Antes isso que ser o que atravessa a vida

Olhando para trás de si e sentindo pena...

 

domingo, 29 de junho de 2025

Alguma canção já marcou a sua vida?

junho 29, 2025 0 Comments

AS CANÇÕES
Diretor:
 Eduardo Coutinho
Ano: 2011
Nota: 4,7/5 ⭐
Onde assistir: Netflix


"Documentário" nunca foi um gênero cinematográfico sobre o qual me debruçasse com frequência, embora vez ou outra algum chamasse a minha atenção e eu demonstrasse curiosidade sobre esse tipo de filme ou série. Entretanto, recentemente estou assistindo mais documentários do que o meu habitual, um atrás do outro - e querendo ver mais! Um dos responsáveis por isso é o diretor brasileiro Eduardo Coutinho. O primeiro filme que vi dele foi o maravilhoso "Jogo de Cena". O segundo e igualmente maravilhoso foi "Edifício Master". E o terceiro é aquele sobre o qual falo nesse texto: "As Canções", lançado em 2011. Mas não irei parar nele, pois em minha lista ainda há outras obras do diretor que pretendo visitar. 


Com relação aos três longas vistos por mim (até o presente momento), todos compartilham o fato de retratarem histórias de pessoas comuns, dessas histórias que cativam e atraem o nosso olhar pela sinceridade com que são narradas e pela vida que transbordam da tela. Poderiam, facilmente, ser de rostos que banalmente cruzamos nas ruas. Poderiam ser nossas também. E tudo é gravado de modo simples, talvez influenciado pela visão de que as histórias são maiores do que os filmes em si. E isso basta. 


"As Canções" retrata tais histórias através da relação das pessoas com músicas que marcaram as vidas delas. Nesse aspecto, me lembrei bastante de meus avós, pois muitas das canções cantadas (sim, cantadas!) pelas pessoas que relatam suas vivências são músicas que eles gostam e também cantam, como "Esmeralda". Assim, conhecemos um pouco daqueles indivíduos, que se revelam para as câmeras por meio da própria narrativa e das emoções que evocam com suas canções. Saudosamente, há quem chore, há quem sorria, e o telespectador sente um pouquinho também, do outro lado da tela. São histórias de amor (em sua maioria, românticas): há a mulher que nunca esqueceu um grande amor da juventude, o filho que escreveu uma belíssima canções em memória da relação com o falecido pai, o homem que reatou um relacionamento influenciado por uma música de Jorge Ben Jor, a mulher que lida com o divórcio de um importante amor, etc. Ouvir tais histórias é um ato de empatia, é ver beleza no aparentemente banal que a vida é, é mergulhar em 91 minutos de filme e nem sentir o tempo passar. 


Além de tudo isso, "As Canções" acaba por, talvez sem querer querendo, deixar reflexivo o telespectador acerca da própria vida, das pessoas ao redor e das músicas que carregamos no peito. É como se, indiretamente, fosse feita a quem assiste ao longa a mesma pergunta que fizeram na produção do documentário, buscando pessoas para participar do filme: "Alguma música já marcou a sua vida? Cante e conte a sua história". E isso nos deixa pensativos, também, sobre o poder da música em nossa vida, em nosso cotidiano. 


Engraçado que sei exatamente sobre qual música eu falaria se fosse participar do documentário: "Amor I Love You", da Marisa Monte. Não é minha música favorita dela, mas comecei a ouvir Marisa Monte por causa dessa canção, além de ter marcado muito a minha vida e ser, com certeza, a música que mais cantei. Ela me lembra da minha mãe (da minha família, como um todo), mas, especialmente, ela me lembra de mim mesma. Nunca esqueço a letra, por mais tempo que passe sem escutá-la. "Pássaro de Fogo", de Paula Fernandes, por sua vez, me lembra da minha infância e de meu avô, que sempre pedia que eu cantasse as duas músicas que citei pra ele... 


Outras canções também poderiam fazer parte da minha lista de músicas marcantes, como "Trouble", do Coldplay (uma das minhas músicas favoritas da vida), "Cornerstone", do Arctic Monkeys (que ouvia loucamente quando tinha 14/15 anos e que tive a felicíssima oportunidade de ver ao vivo aos 16), "Anjo", do Roupa Nova (que cantei em um asilo daqui de Aracaju, em uma tarde muito agradável), "Um dia, Um Adeus", de Guilherme Arantes (que me lembra de quando era viciada em um CD dele, aos 9/10 anos de idade), entre tantas outras canções... 


É um exercício bom este de relembrar nossas melodias, que revelam um pouco de nós mesmos e de nossas memórias, assim como feito no documentário simples - e muito bonito em sua singeleza - de Eduardo Coutinho. "As Canções" está escondido no catálogo da Netflix, e feliz daqueles que puderem encontrá-lo por lá. Vale a pena. Os minutos passam, os créditos sobem... e as histórias? Ah, estas ficam. 

Assim como As Canções. 

Resenha: "O Auto da Compadecida"

junho 29, 2025 2 Comments
O AUTO DA COMPADECIDA
Autor:
 Ariano Suassuna
Editora: Nova Fronteira
Número de páginas: 207
Nota: 3,7/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha da obra "O Auto da Compadecida", peça escrita por Ariano Suassuna em 1955 e encenada pela primeira vez em 1957, tendo sido adaptada para o cinema três vezes (a adaptação mais famosa - e também a única que assisti - é a de 1999, do diretor Guel Arraes e contando com Selton Mello e Matheus Nachtergaele nos papeis principais). Peguei o livro emprestado na biblioteca da minha faculdade, a BICEN da UFS. Achei bem legal que lá tem várias obras literárias, para além das leituras acadêmicas e técnicas, e fiquei feliz quando encontrei "O Auto da Compadecida" por lá, pois era uma obra que pensava em ler já há algum tempo!


A peça, dividida em três atos, inicia com João Grilo e Chicó tentando convencer o padre João a benzer o cachorro do padeiro e da mulher dele, patrões da dupla. O padre inicialmente se recusa a tal ato, e, então, João Grilo inventa que o cachorro é, na verdade, do Major Antônio Moraes, coronel da cidadezinha sertaneja Taperoá. Rapidamente o padre muda de ideia e decide benzer o cachorro, que, no entanto, morre antes de receber a benção. Assim, o padeiro e a mulher decidem pedir que o animal seja enterrado com uma cerimônia em latim, o que também desagrada o padre. Entretanto, João Grilo inventa mais uma mentira, afirmando que o cachorro deixou um testamento a ser dividido entre os membros da Igreja, o que faz com que o padre e o bispo atendam ao pedido dos donos do cão. Logo depois, inesperadamente, chega Severino de Aracaju (sim, minha cidade!) e outro cangaceiro para roubarem a cidade e matar os personagens da peça. No fim das contas, quase todos morrem (com exceção de Chicó), tendo que enfrentar um Julgamento para saberem se irão para o paraíso, o inferno ou o purgatório, deparando-se com as figuras do Encouraçado - ou seja, o demônio -, de Manuel (Jesus) e da Compadecida, que irá interceder pelas almas daquelas pessoas. 



Através de uma história dinâmica, leve e divertida, Ariano Suassuna celebra o Nordeste e a sua cultura, inspirando-se em livretos de cordel para escrever a peça. Além disso, as peripécias de João Grilo, com sua esperteza e malandragens já bem conhecidas pelo público brasileiro, e as histórias mirabolantes do ingênuo e frouxo Chicó encantam e deixam a obra ainda mais engraçada. A adaptação cinematográfica, que inclusive pretendo reassistir, conseguiu capturar bem a essência da peça e expandir o universo desenvolvido por Suassuna (até li com as vozes dos atores!). 


A edição que li, da Nova Fronteira, ainda conta com um prefácio, escrito por Henrique Oscar. Por meio dele podemos entender melhor o contexto em que a peça foi escrita e as críticas sutis levantadas por Suassuna, como a corrupção do clero, a Justiça brasileira, entre outras. Há também, ao final do livro, um texto de Braulio Tavares relacionando o "Auto da Compadecida" às tradições e à memória nordestina e outro texto, dessa vez escrito por Carlos Newton Junior, narrando um pouco sobre a vida do autor. Tais escritos enriquecem e ampliam a experiência de leitura, tornando-a mais rica e nos fazendo compreendê-la melhor. Por fim, a edição ainda conta com ilustrações de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano Suassuna.


Ler "O Auto da Compadecida" foi uma experiência agradável, boa e divertida, sendo a segunda peça que leio em minha vida (a primeira foi "Lisbela e o Prisioneiro", já resenhada aqui no Sementes Literárias: clique aqui para acessá-la). Recomendo para quem busca uma leitura leve, engraçada e bem dinâmica! 


domingo, 1 de junho de 2025

Resenha: "Joy" (Primeiro volume)

junho 01, 2025 0 Comments
JOY
Autora:
 Etsuko
Editora: New Pop
Número de páginas: 216
Nota: 3,6/5 ⭐


Oi, pessoal! Na sexta-feira, 30 de maio, fui a um sebo com minha mãe e compramos vários livros por lá. Trata-se do "Cantinho Sempre Viva" e foi a primeira vez que visitei o local, que me deixou encantada com a variedade de livros e com o carinho nítido com que o dono do lugar organiza, cuida de tudo e recebe as pessoas! Uma das obras que adquiri foi o mangá "Joy", que não conhecia, mas me chamou atenção pela capa, pois achei muito bonita (sim!). Li a sinopse, achei interessante e decidi adquirir! 


"Joy" acompanha Go Okasaki e seu assistente, Yusuke Akune. Ambos são mangakás (ou seja: trabalham desenhando e publicando mangás) e começam a trabalhar em uma nova história após uma proposta da editora de Go: um mangá BL (sigla para boys love, gay). Go aceita a proposta e, pensando em criar uma história melhor e mais realista, decide fingir que sente uma paixão platônica por seu assistente, que é abertamente homossexual. O que ele não esperava (mas eu sim) era que iria começar a se apaixonar por Akune de verdade, precisando lidar com seus próprios sentimentos e com a criação de seu novo mangá.  Além disso, ao final da obra, há ainda um mini capítulo extra em que podemos ver mais um pouquinho dos protagonistas.



Como é possível perceber, a premissa é bem clichê. De qualquer modo, a forma como a história é narrada é bastante leve e fofa, o que faz com que realmente torçamos pelo casal. A leitura é dinâmica e divertida, com alguns momentos dramáticos. Gostei da maneira como a relação entre os protagonistas é apresentada de forma natural, assim como a descoberta de Go de que está apaixonado por Akune e as questões pessoais de cada um (como o sentimento de solidão de Go). 


Recomendo "Joy" para quem está em busca de uma leitura agradável, rápida e fofa, e também para quem gosta de BL (foi o primeiro mangá do gênero que li, e foi uma experiência positiva). Além desse volume, existe uma continuação, Joy Second, que acompanha Go e Yusuke vivendo como casal, então penso em adquiri-lo em breve! ❤