Resenha: "Demian"
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| DEMIAN Autor: Hermann Hesse Editora: Record Número de páginas: 192 Nota: 4/5 ⭐ |
A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidades e cascas de ovo de um mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens e continuam sendo rãs, esquilos ou formigas. Outros que são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas, cada um deles é um impulso em direção ao ser.
Dessa forma, somos apesentados a uma série de reflexões que se debruçam sobre a dualidade do mundo e do nosso interior, sobre a religião e sobre a essência de nós mesmos. Assim como Sinclair, somos levados a nos questionar se estamos no caminho de nosso destino, se estamos, de fato, caminhando em direção a sermos verdadeiramente nós. Porém, quem somos, afinal? E "Demian" narra - entre outras questões abordadas, claro - justamente isso, essa nossa constante e eterna descoberta de nosso ser, e também a coragem necessária para nos descobrirmos e sermos nós mesmos, além da necessidade de aceitar-se nesse processo. Tal atmosfera introspectiva perdura durante toda a leitura, e me lembrou em certos momentos de Evangelion. Há uma metáfora marcante no livro, por exemplo, que diz o seguinte: "A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo." - antigas crenças, antigos comportamentos, antigos ciclos, etc. Tal passagem me lembrou bastante o apresentado em "The End of Evangelion" e uma das falas do longa: "O destino da destruição é também a alegria do renascimento". Além disso, toda a discussão em torno do "ser" e da busca por nossa identidade e suas facetas - sombria e luminosa - também me lembrou demais o anime! Outra coisa que achei bem interessante diz respeito ao nome do próprio protagonista, algo que não tinha percebido enquanto fazia a leitura, mas que só notei graças a um vídeo (excelente, por sinal!) que vi do canal "Ler Antes de Morrer". Nesse sentido, a ambiguidade entre aquilo que é "iluminado" e aquilo que é "sombrio" está expressa no nome Sinclair também, pois "Sin" é "pecado" em inglês e "Clair" significa "claro" em francês, o que demonstra como tal antítese está profundamente presente em sua vida - em seus anseios, descobertas, pensamentos, alegrias...
Esse Deus da antiga e da nova Aliança é, antes de tudo, uma figura extraordinária, mas não o que realmente deveria ser. Representa o bom, o nobre, o paternal, o belo e também o elevado e o sentimental... está bem! Mas o mundo se compõe também de outras coisas. E toda essa parte do mundo, toda essa outra metade é encoberta e silenciada. Glorifica-se a Deus como Pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando-a pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar e santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada.
Ademais, a narrativa de "Demian" foi bastante influenciada pelos eventos da Primeira Guerra Mundial (a obra foi lançada em 1919, e a guerra teve seu fim em 1918) e pelo trabalho do psicanalista Carl Jung, características expressas nas metáforas apresentadas (como a já citada nesta resenha) e no mergulho psicológico do personagem.
Enfimm! Foi uma leitura instigante e eu recomendo :)
Quando odiamos um homem, odiamos em sua imagem algo que trazemos em nós mesmos.





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