sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Sobre a minha visita à Casa de Fernando Pessoa!

novembro 29, 2024 0 Comments
A fachada do museu! Essa foto foi tirada por minha mãe, e os pontinhos-pessoas contidos nela são eu e meu pai.


Oi, pessoal! Recentemente, estive em Lisboa com meus pais, e, em nosso primeiro dia na cidade, visitamos a Casa de Fernando Pessoa, local em que ele viveu durante os 15  últimos anos de sua vida e onde podemos conhecer um pouco de sua trajetória e de sua obra. Nessa postagem, irei falar um pouco sobre a minha experiência!


Fomos à pé, no dia 16 de novembro, pois ficava bem pertinho do nosso hotel. Pudemos conhecer um pouco das ruas de Lisboa, com ares de antiguidade e charme. As ruas próximas da Casa possuem luzes amareladas, que são acesas à noite e tornam tudo ainda mais encantado. Vale a pena dar uma passeada pelos arredores também! Enfim, estou apaixonada pela cidade, e a Casa de Fernando Pessoa foi literalmente a primeira coisa que visitei lá. E devo dizer: fiquei completamente extasiada!


A exposição é dividida em 3 pisos, e ainda há o térreo. O térreo abriga a lojinha e a recepção, onde compramos os ingressos para fazer a visitação. Em seguida, entramos no elevador e fomos para o último andar. 

Depois de pagarmos os ingressos, cada um de nós pegou esse guia de visita, para nos ajudar a explorar melhor o museu. Foto tirada pela minha mãe.

Lá, podemos conhecer mais sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos: a história deles, suas poesias e biografias. São 3 heterônimos: Aberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, todos com características próprias que os distinguem uns dos outros e do próprio Fernando Pessoa. Lá, aprendi que os heterônimos propriamente ditos são apenas estes 3 pois possuem uma biografia completa, com local, data de nascimento e morte, e os outros (que também são citados e explicados) são criações de Fernando Pessoa, mas não chegam a ser completamente heterônimos por não possuírem biografia completa. Eu não fazia a mínima ideia dessa informação, pois ela não é difundida, e achei bastante interessante. Nesse andar também se encontra quadros de Fernando Pessoa e a sua máquina de escrever, além de um espaço com espelhos em todas as direções, em que possível ver vários "vocês" e, em uma parede, a indagação: "Quantos sou?". Além disso, há poltronas com headphones ligado a uma tela (parecida com um tablet) apoiada na poltrona, contendo textos de Fernando Pessoa e de seus heterônimos, para você poder ler e ouvir. Achei muito massa! Eu escutei e li um texto do próprio pessoa sobre seus heterônimos e os belíssimos poemas "Apontamento" (que já conhecia e gostava), de Álvaro de Campos, e "Quando eu não te tinha", que eu ainda não conhecia e de autoria de Alberto Caeiro.


"Não me arrependo do que fui outrora / Porque ainda o sou. / Só  me arrependo de outrora não ter te amado" - Trecho de Quando eu não te tinha

 


 

No segundo andar, entramos em contato com alguns livros da biblioteca pessoal de Fernando Pessoa e com variadas edições de suas obras, publicadas em diversos países e línguas diferentes. 

Foto tirada pela minha mãe


No primeiro andar, mergulhamos ainda mais na biografia pessoal do escritor. Conhecemos um pouco de sua família, entramos em contato com objetos pessoais (como cadernos, seus famosos óculos, entre outros) e vemos retratos seus tirados ao longo da vida (desde que ele era um bebê até as fotografias tiradas em seus últimos dias de vida). Há, ainda, uma recriação como era seu quarto naquela casa e também podemos assistir, em uma tela e usando headphones, à uma entrevista com uma sobrinha de Fernando Pessoa, que morou com ele naquela casa. Ela conta como o era o local na época, como era sua convivência com o tio e qual era a sua perspectiva sobre ele, a partir de um relato permeado por suas memórias. Vale muito a pena parar para assistir, pois podemos conhecer uma perspectiva subjetiva do escritor que é também muito interessante e curiosa. 


"I know not what tomorrow will bring" ("Eu não sei o que o amanhã trará"), última frase escrita por Fernando Pessoa, no hospital em que ele foi antes de vir a falecer.

Para finalizar a nossa visita, descemos novamente para o térreo, onde fizemos outra festa com as lembrancinhas. Eu comprei uma lindíssima bolsa (tipo uma ecobag mais elaborada, embora tivesem ecobags "normais" também) com uma citação de Alberto Caeiro: "Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do mundo", um caderno da cor preta com a citação "Tenho escrito mais versos que verdade.", de Álvaro de Campos, (mas existem váááárias opções) e o livro "Poetas de Lisboa", obra que reúne algumas poesias de escritores portugueses em edições bilíngue (eu escolhi a espanhol-português, porque, mesmo que não fale a língua espanhola, lembra o português, e eu nem reparei se tinha em inglês). Enfim! Tem diversos livros, bonequinhos de Fernando Pessoa (minha mãe comprou um muito fofo!), imãs, bolsas, cadernos, canetas, canecas, etc. 


A Casa também conta com uma biblioteca, em que é possível alugar os mas variados livros, mas quando eu fui tava fechada. Tudo bem, fica para a próxima! 

Se você estiver indo à Lisboa, recomendo muito que passe pela Case de Fernando Pessoa. Há também a Fundação José Saramago e a Livraria Bertrand (uma das mais antigas do mundo!), lugares que também visitei e amei. Aliás, em todo canto da cidade, você encontra livrarias, sebos e referências à literatura. Para os amantes dessa expressão, a visita à cidade é realmente uma pedida excelente! Recomendo demais!!


MAIS FOTOS!! 🌸📚

Lendo e ouvindo atentamente os textos de Pessoa! Flagra feito pela minha mãe.
 

Retratos de Fernando Pessoa! Foto tirada pela minha mãe. 





Foto tirada pela minha mãe ;)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Resenha: "Poesia Que Transforma"

novembro 13, 2024 0 Comments
POESIA QUE TRANSFORMA
AUTOR:
 Bráulio Bessa
EDITORA: Sextante
NÚMERO DE PÁGINAS: 192
NOTA: 4,5/5 ⭐


Recentemente, ganhei de aniversário o livro "Poesia Que Transforma", de Bráulio Bessa, e foi uma leitura que me acompanhou durante o final de setembro e o mês de outubro! Já tinha entrado em contato com alguns dos cordéis do Bráulio, através do programa Encontro, - quando ainda era apresentado por Fátima Bernardes - mas nunca cheguei a acompanhá-lo de fato. Então, receber este livro foi uma ótima oportunidade de poder conhecer mais de suas poesias! E devo dizer que foi um presente que chegou em boa hora, uma vez que a preparação para o ENEM (especialmente no último mês) é uma loucura, e as palavras de Bráulio Bessa são cheias de compreensão, reflexão e de uma bonita simplicidade que acalenta a alma. 


Gosto de comparar a poesia a um abraço, que consegue  fazer um carinho na alma sem nem saber qual é a dor que você está sentindo. A poesia se adapta à sua dor. É um abraço cego e despretensioso, como quem diz: "Venha! Tá doendo? Pois deixe eu dar um arrocho, que vai lhe fazer bem.". 

 

Por meio de pouco menos que 200 páginas, podemos mergulhar em uma série de cordéis e ilustrações sobre os mais variados temas: família, amor, recomeço, sonhos, desigualdades, entre tantos outros. Além disso, Bráulio também escreve alguns textos contando um pouco de sua vida, como alcançou a fama, sua relação com sua cidade (Alto Santo, no interior do Ceará), sua família, etc, permitindo que conheçamos uma parte de sua trajetória, o que é bastante interessante. Ao final da obra, também foi disponibilizado alguns depoimentos de leitores que contam como a poesia de Bráulio Bessa impactou a vida deles, e acho que deve ser muito gratificante para um escritor ter acesso a esse tipo de coisa! Como já sugere o título, a poesia realmente transforma ❤ 


Foi uma boa leitura., leve e agradável! Recomendo!! 🥰❤




ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS ⭐

"Nem sempre engatar a ré
significa voltar" - Recomece, página 17    

"Acredite que sonhar
também é compreender   
que nem sempre o que se sonha
é o melhor pra você
e que não realizar
nem sempre será sofrer" - Sonhar, página 31

"O tempo é um segredo,
acredite, é muito cedo
pra dizer: Tarde demais" - Nunca é tarde, página 40

"talvez fosse o meu destino
nascido pra escrever
aquilo que faz bater
um coração nordestino"  - Coração Nordestino, página 49 

"Por ser inteira em pedaços,
por ser lar e por se lida,
por ser mil em uma só,
por ser sempre repartida,
por ser um pedaço de Deus
me dando um pedaço de vida" - Mãe, página 103

"O tempo não muda os olhos
mas mudou o meu olhar [...]" - Pai: de desconhecido à eterno, página 162

MORREU MARIA PREÁ          


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Sobre "Ainda Estou Aqui", novo filme de Walter Salles

novembro 11, 2024 0 Comments
AINDA ESTOU AQUI
Diretor:
 Walter Salles
Elenco principal: Fernanda Torres, Selton Mello, Valentina Herszage, Bárbara Luz, Guilherme Silveira, Luiza Kosovski, Cora Mora, Antonio Saboia, Maria Monoella, Marjorie Estiano, Gabriela Carneiro da Cunha, Olivia Torres, Fernanda Montenegro
Nota: 5/5 ⭐


Sábado fui ao cinema com meus pais para ver o novo filme de Walter Salles (que dirigiu Central do Brasil, um dos meus filmes favoritos, Terra Estrangeira, e tantas outras obras), "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Saí da sala de cinema chorando e estou completamente impactada! O longa é baseado em livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva - ainda não li, mas quero muito! Enfim. 

Antes de tudo, gostaria de salientar que a resenha que aqui publico é uma adaptação do que escrevi lá no Letterboxd (rede social focada em filmes, que já comentei tantas vezes por aqui), com uns pensamentos a mais.


O longa retrata a família Paiva em plena Ditadura Militar. Nos primeiros minutos do filme, podemos acompanhar um pouco de seu cotidiano: as brincadeiras, as festas com os amigos, as idas à praia... No entanto, o tom do filme muda quando Rubens Paiva (Selton Mello), pai e marido amoroso, ex-deputado e engenheiro, é sequestrado por militares, para, logo em seguida, ser torturado e assassinado. Após isso, vemos a luta de Eunice Paiva (interpretada brilhantemente por Fernanda Torres) em busca de justiça e em busca de se reerguer, mostrando-se uma figura muito resiliente. Assim, "Ainda Estou Aqui" é um retrato da Ditadura Militar, um retrato de tantas famílias brasileiras que vivenciaram os horrores daquele período, um retrato do Brasil, que ressoa de forma poderosa em todos nós. É a nossa própria história em tela. História esta negada vergonhosamente pelo próprio país. 


Em vários momentos do longa, questionei-me como há tantas pessoas que negam as atrocidades da Ditadura, que desejam o seu retorno e como há tantos militares que saíram impunes dos horrores cometidos e seguem assim até os dias de hoje. É lamentável e vergonhoso o quanto o Brasil empurra para debaixo do tapete as questões relacionadas à Ditadura Militar, amenizando-as e ignorando-as, portando-se como um país sem memória. Quase como se não tivesse ocorrido nada, como se o que ocorreu não tivesse importância, como se tivéssemos que esquecer aqueles tempos sombrios. Mas o esquecimento é condenar o país à alienação e ao retrocesso. Esquecer é dar voz a quem minimiza e enaltece tais horrores, como um tal presidente eleito que fazia arminhas com as mãos e adorava fazer piadas com as vítimas da Ditadura, com as torturas e com os assassinatos. Esquecer é retroceder eternamente. Então, é simplesmente urgente manter a memória do país acessa, para não repetir os horrores do passado e para honrar aqueles que lutaram por um Brasil justo e digno. E "Ainda Estou Aqui" faz isso com maestria. 




Além disso, as atuações de todo o elenco são impecáveis, e aqui destaco a de Fernanda Torres. Impossível não se comover com a jornada de Eunice em sua luta por justiça e com o cuidado que demonstra com os filhos e com o marido. A atriz transparece tão bem os sentimentos de Eunice que parece que estamos vendo a própria em tela: sua angústia, sua tristeza, sua força e seu amor. Também é perceptível a dedicação na produção do filme, que está presente até nos detalhes, como nas fotografias da família Paiva, fielmente recriadas pelo elenco, nas ótimas atuações, na trilha sonora setentista que muito combinou com o filme, entre outras coisas...


Muito se fala de "Ainda Estou Aqui" pelas premiações que levou e pelo potencial de ganhar o Oscar. No entanto, independentemente de qualquer premiação, este é um filme que merece ser visto. É a nossa história. É o cinema como uma ferramenta potente de arte que desperta nossos sentidos e que mantém viva nossas memórias. É o cinema brasileiro vivíssimo e brilhando. É preciso recordar para não esquecer, recordar para não repetir. Porque, parafraseando outro filme brasileiro, Uma História de Amor e Fúria, "O que a gente vive é resultado do que aconteceu no passado. Viver sem conhecer no passado é viver no escuro.".


quinta-feira, 27 de junho de 2024

Resenha: "A Vida Submarina", de Ana Martins Marques

junho 27, 2024 0 Comments
A VIDA SUBMARINA
Autora:
 Ana Martins Marques
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 144
Nota: 4/5⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de um livro de poesia que li recentemente: "A Vida Submarina", de Ana Martins Marques. A primeira vez que ouvi falar na autora foi graças a uma questão do ENEM do ano passado, cujo texto-base era uma poesia de sua autoria, "Migalhas". O poema chamou a minha atenção pela forma como ele foi construído, aparentemente simples, um tanto cru, e que conseguia capturar gestos e atitudes do cotidiano de modo a mostrar a significância presente na situação narrada. Desde então, o poema não saiu da minha cabeça, e já o reli várias vezes! Um tempo depois, tive a oportunidade de ler outra poesia da autora, desta vez através do Instagram - novamente, tive a minha atenção capturada. E  me lembrei de seu outro poema que havia lido. Pesquisei, então, a origem de "Migalhas", e foi assim que fui parar no livro "A Vida Submarina", sua obra de estreia na literatura.  


O poema que me trouxe até aqui!


O livro é dividido em sete partes, e por meio delas Ana aborda temas como o fazer poético, amor, entre outros, de forma criativa. Por exemplo: na segunda parte do livro, "Arquitetura de Interiores", a autora usa itens e cômodos da casa de forma poética, construindo a poesia em torno de palavras que remetem ao lar. Além disso, a obra é bem curtinha e pode ser lida rapidamente, sendo preenchida com poemas sensíveis e belos. Foi uma ótima oportunidade de conhecer poesias novas da autora e, através delas, refletir sobre a vida, o mundo ao redor e o mundo interior também. Inclusive, essa é uma das coisas que mais me fascinam na poesia: como ela coloca em evidência o aparentemente banal, dando uma maior dimensão àquilo que nos cerca. 


"A Vida Submarina" é um bom livro, que vale a pena conferir! Recomendo ;) 

P.S: Acho muito massa como eu vou conhecendo autores e obras através do ENEM! Sabe, tem muita coisa bacana naquele monte de questão e textos embaralhados. 


🌸 ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸


"A confusão é sempre
enredar-se em si mesmo" - Caixa de Costura

"Quem me dera fazer com o poema
uma fogueira que ardesse só para ti" - Fogueira

"neste mesmo quarto
há muito tempo
você me ensinou 
novamente a nudez
e então chamamos isso de amor
mas era exagero" - Quarto

"seu vestido de verão
sem você dentro
não é um vestido de verão
porque no vestido o verão
era você" - Guarda-roupa

"Quem me queimou assim
foi o sol
ou o desejo?" - Casa de Praia

"sentamos lado a lado e de repente 
estamos rindo entregues de novo
ao hábito feliz das palavras" - Diário (verão de 2007): dia 20

"foi neste momento então que eu 
deveria ter dito
o que hoje
porém
seria ridículo dizer" - Nirvana


"Também 
a quem fica
cabe uma paisagem nova
e a travessia insone do desconhecido
e a alegria difícil da descoberta" - A Viagem

"a boca ascende-se como um coração,
como um coração as mãos se armam de incêndios." - Novembro

"Num dia
em que não havia nada
no teu corpo me deste
abrigo" - Memória (II)

"O relógio na parede
marca as horas que não vivi" - Papel de Escritório 

"Dançando
desenho
o desejo
da dança" - Dez Desenhos Escritos

"o seu corpo é um país desconhecido
que não sei como visitar" - Hospitalidade

"Sorrimos e acrescentamos palavras à paisagem,
no entanto ninguém percebe o meu coração
ardendo
por baixo das flores do vestido" - Figo


terça-feira, 30 de abril de 2024

Resenha: "Fernando Pessoa: Poesias"

abril 30, 2024 2 Comments
FERNANDO PESSOA: POESIAS
Autor:
 Fernando Pessoa
Número de páginas: 144
Editora: L&PM
Nota: 4,7/5 ⭐


Oi, pessoal! Faz tempo que não apareço por aqui... é porque agora estou no terceiro ano do Ensino Médio, então minha vida está bem corrida e meu tempo, consequentemente, um tanto escasso. De qualquer forma, cá estou eu novamente! :) 

Hoje irei falar sobre uma coletânea de poesias de Fernando Pessoa que peguei emprestada da minha mãe. Em apenas 144 páginas, o livro reúne vários poemas, incluindo os lançados sob alguns dos heterônimos do autor português. 


Já havia lido alguns poemas de Fernando Pessoa ao longo da vida, mas  nunca havia parado para lê-los com mais afinco. Interessei-me mais quando vi este livro no consultório da minha médica e li alguns textos, que chamaram a minha atenção pela maneira como Fernando Pessoa fala sobre os sentimentos, sobre vivências e sobre a morte, com certo pessimismo e com bastante honestidade. Passado um tempinho, notei que a minha mãe tinha o mesmo livro que vi no consultório da minha médica, então peguei emprestado e, durante 1 mês, as poesias me fizeram companhia - mas algumas, sei bem, continuarão a ressoar dentro de mim. 


Além dos temas já citados, Pessoa também fala bastante sobre as navegações portuguesas, como em um de seus poemas mais famosos, "Mar Português". Outros famosos poemas também estão presentes na coletânea, como "Tabacaria" (um de meus favoritos) e "Poema em Linha Reta" (que também se enquadra nessa categoria). Mas gostei de vários, como "O Menino Da Sua Mãe", "Apontamento" e outros sem título! Ficava sempre relendo meus versos favoritos, e alguns ainda ecoam em minha mente, de tão bonitos que são. Também é fácil se identificar com as palavras de Fernando Pessoa, pois são bastante sinceras, e acho muito bonita essa sinceridade e essa ousadia em expor a própria alma.


Enfim! Gostei bastante da experiência. Se você for ler, vai lendo aos pouquinhos, pra apreciar. Recomendo muito a leitura! ❤ 


🌸 ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸


"Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto" - Página 29

"Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido" - Página 35

"E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta, 
porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta" - A Casa Branca Nau Preta, página 58

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?" - Tabacaria, página 64

"Tenho sonhado mais do que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais
humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre 'o que não nasceu pra isso' " - Tabacaria, página 65

"Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu" - Apontamento, página 76

"Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida" - Aniversário, Página 78

"Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado" - Realidade, página 82

"E os meus pensamentos são todos sensações" - Página 93


"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão - 
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados 
Como para os que não o são.
Sentir é estar distraído" - Página 101

"Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim. 
[...]
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
[...]
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é" - Página 102

"Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre" - Página 105

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui. Põe quanto és
No mínimo que fazes
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive." - Página 117


domingo, 18 de fevereiro de 2024

Dica de série: "Carole e Tuesday"

fevereiro 18, 2024 0 Comments

CAROLE E TUESDAY
Criador: Shinichiro Watanabe
Elenco principal:  Miyuri Shimabukuro, Kana Ichinose, Celeina Ann, Nai Br.XX, Akio Otsuka, Sumire Uesaka,  Mamoru Miyano, Miyu Irino, Hiroshi Kamiya
Nota: 5/5 ⭐
Onde assistir: Netflix

Oi, pessoal! Hoje irei indicar um anime que assisti recentemente (terminei ontem), chamado "Carole e Tuesday", na Netflix. Dividida em 2 partes, a série tem apenas 24 episódios de cerca de 20 minutinhos cada, dando para assistir bem rápido. Ah, o título original de cada episódio é o nome de uma música, o que eu achei bem criativo e legal! O primeiro episódio, por exemplo, se chama "True Colors", música da Cyndi Lauper. Outros episódios recebem o nome de canções do The Cure, Led Zeppelin, U2, Carole King, The Beach Boys e vários outros artistas! O anime é do mesmo criador de Cowboy Bebop, que já está na minha lista e que assistirei em breve :)


"Carole e Tuesday" acompanha duas jovens de 17 anos em busca do sonho produzirem e lançarem músicas, tendo reconhecimento. Carole conhece Tuesday quando, após perder o emprego, ela decide tocar seu teclado em uma ponte e Tuesday é a única pessoa que para para escutá-la. Tuesday, por sua vez, havia acabado de fugir de casa em busca de liberdade e em buscar de realizar seu sonho de tocar violão. Ambas logo desenvolvem uma amizade e formam uma dupla musical. 


Ambientada em um cenário futurista, a série se passa em Marte, pois os humanos haviam conseguido colonizar o planeta e se alternavam entre a Terra e o planeta vermelho. A presença de inteligência artificial é onipresente no anime, que aborda a sua utilização na indústria musical e o seu impacto na arte. É mostrado, por exemplo, que muitos cantores foram substituídos por IAs que simulam a voz humana, o que não é algo muito distante de nossa realidade atual. Basta abrir a internet e você provavelmente irá se deparar com algum cover falso feito por Inteligência Artificial que imita a voz de um cantor real. Existe uma enorme discursão sobre o papel da IA na contemporaneidade e quais o malefícios e benefícios que ela representa, e em "Carole e Tuesday" podemos acompanhar um pouquinho essa questão. Uma cena que achei muito interessante é quando, ao procurar emprego, Carole comenta com Tuesday que é muito difícil encontrar um trabalho porque a maioria das tarefas é executada por inteligência artificial.




A obra também aborda temas como xenofobia, discursos de ódio e liberdade de expressão, especialmente em uma sua segunda parte, quando acompanhamos a eleição presidencial de Marte. Uma das candidatas é justamente a mãe de Tuesday, Valerie, que representa a extrema-direita e que profere discursos contra a arte de protesto e contra os refugiados da Terra e imigrantes ilegais (pessoas que viajaram da Terra para Marte em decorrência de condições ruins no planeta mãe), fomentando o ódio ao outro. Também vemos Marte imerso em censura e perseguição política, o certamente conversa com a realidade mundial e com a nossa História. 


Outro mérito do anime são as suas personagens extremamente cativantes. As protagonistas são adoráveis, e a dinâmica entre elas é muito linda de se acompanhar! Carole é uma refugiada da Terra, orfã, e que mora sozinha alternando entre empregos para conseguir pagar as contas. Tuesday, como já mencionado, é filha da candidata à presidência e tem origem rica, mas não concorda com a postura da mãe. É uma garota extremamente tímida e que encontra abrigo na música. Juntas, Carole e Tuesday formam uma linda amizade e produzem belíssimas músicas, sempre apoiando uma a outra.

A dupla, diferentemente de outros artistas de seu tempo, compunham as próprias músicas, o que representava um refresco no cenário retratado pela série. Elas tocavam e escreviam as suas canções, colocando seus corações na arte produzida. Em tempos onde tudo era produzido artificialmente, é bonito acompanhar a ousadia e a originalidade de duas garotas que resolvem romper com esse padrão e fazer a própria arte. 

A trilha sonora do anime, aliás, é espetacular. As letras são intimistas e cativantes, e as melodias encantam igualmente. "Carole e Tuesday" é uma produção imperdível para quem ama música!


 



Há também Gus, o empresário delas, Roddy, assistente de Gus e desenvolvedor de IAs, Ertegun, um DJ famoso e egocêntrico que gera vários momentos cômicos, entre tantos outros personagens marcantes! Não poderia deixar de falar sobre Angela, mas irei dedicar um parágrafo especialmente a ela. 


Paralelo à história de Carole e Tuesday, acompanhamos Angela, que, na minha humilde opinião, divide o protagonismo da série com as garotas que a nomeiam. Angela é uma ex-atriz mirim que busca uma carreira musical, sonho de sua mãe e empresária, Dahlia. Para alcançar o estrelato, Angela contará com a ajuda de Tao, um gênio desenvolvedor de IAs que trabalha no ramo da música. No entanto, toda a jornada na indústria da música se mostrará bastante exaustiva, assim como a pressão para corresponder às expectativas criadas pela mãe. Angela terá que lidar com muitas coisas enquanto busca compreender quem ela é no mundo e o que ela realmente gosta e quer. É uma personagem muito complexa e é bastante instigante acompanhar a sua jornada.




Ademais, é realmente muito interessante como o anime aborda temas complexos e completamente relevantes sob uma ótica mais leve e futurista, e como esse futuro retratado se assemelha tanto à nossa realidade. "Carole e Tuesday" é uma obra bastante pertinente, que aquece seu coração, levanta reflexões e emociona com tamanha sensibilidade. Além disso, o visual é estonteante! Uma série completa! Estou constantemente ouvindo a trilha sonora, especialmente as canções "Day By Day", "Give You The World" e "Lay It All On Me". 


Encontro-me em estado de completo encanto. Recomendo intensamente!



sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Resenha: "Aos Dezessete Anos"

janeiro 12, 2024 0 Comments
AOS DEZESSETE ANOS
Autora:
 Ava Dellaira
Editora: Seguinte
Número de páginas: 448
Nota: 4,5/5 ⭐

Oi, pessoal! Hoje trago a resenha da minha primeira leitura de 2024: "Aos Dezessete Anos", de Ava Dellaira. Ganhei de presente de Natal da minha tia e do meu tio, e comecei a ler assim que ganhei (ou seja, no ano passado, mas terminei apenas esse ano - falando assim, parece que levou um século pra lê-lo, mas foi só um pouco mais de 2 semanas hahaha). Assim como os outros livros da editora Seguinte, este aqui acompanha um marcador de páginas na orelha do livro :) 


Já tinha lido outro livro da Ava, lá em 2018: "Cartas de Amor Aos Mortos", cuja resenha você encontra aqui no blog (inclusive, é a segunda postagem com mais acessos em toda a história do Sementes Literárias!). 

Eis o link, caso queira conferir: https://sementesliterariasbooks.blogspot.com/2018/12/resenha-cartas-de-amor-aos-mortos.html.  Acho bem bacana e engraçado como fui mudando, evoluindo minha escrita ao longo dos anos, então é uma experiência interessante revisitar resenhas antigas. Enfim.


"Aos Dezessete Anos" trata de Marilyn e Angie, mãe e filha, quando ambas possuem 17 anos. Assim, o livro em alguns momentos alterna a narrativa entre a década de 90, quando acompanhamos a adolescência de Marilyn, e os dias atuais, quando acompanhamos Angie. 


Na final da década de 90, Marilyn se muda para Los Angeles com a mãe, e as duas passam a morar com o tio da menina, alcóolatra e extremamente abusivo. A mãe de Marilyn sempre quis que a filha se tornasse uma atriz de sucesso, sonho que ela própria tinha e não conseguiu realizar. Assim, quando Marilyn passa anos sem conseguir papéis, Sylvie, a mãe dela, decide que elas deveriam ir para Los Angeles tentar a sorte - mais uma vez, pois ambas passaram parte da infância de Marilyn morando lá com o tio. Em contrapartida, a menina sonha em ir para a faculdade e tomar as rédeas da própria vida, fazendo testes de atriz e modelo somente para agradar a mãe e para conseguir algum dinheiro para ir à faculdade e para dar à mãe. Sylvie deposita muitas expectativas em Marilyn para que a filha seja atriz e siga seu sonho e para que elas passem a ter uma condição de vida alta, e a menina sofre muito com isso. O nome dela, inclusive, é uma referência a Marilyn Monroe. No entanto, a garota se agarra à ideia de que falta pouco tempo para conquistar seu sonho de ir para a faculdade, alcançar a independência e se tornar fotógrafa. Dessa maneira, ela se sente motivada e consegue seguir seus dias, levando, infeliz, uma vida que não deseja. 


Tudo muda, entretanto, quando conhece James, seu vizinho do andar de baixo. Assim como ela, James é bastante estudioso e sonha em ir para a faculdade. Seus dias, antes nublados e monótonos, tornam-se mais coloridos e felizes, e ela pode vivenciar um grande amor. Com James, Marilyn se sente segura e confortável para compartilhar seus pensamentos e sentimentos, e ela também se torna uma pessoa melhor, assim como ocorre com o rapaz quando ele está com ela. Ambos evoluem e despertam coisas boas um no outro, e é bonito acompanhar o relacionamento deles. 



Já no presente, cerca de 17 anos depois, Angie, filha de Marilyn e James, está partindo em uma verdadeira jornada em busca das suas origens. Marilyn sempre disse à filha que o pai e o tio dela haviam morrido em um acidente de carro antes que ela tivesse nascido. No entanto, ao descobrir que seu tio, Justin, estava vivo, Angie decide viajar para Los Angeles com o seu ex-namorado para encontrá-lo e - quem sabe - poder encontrar James também. 


"Aos Dezessete Anos" é uma história de amor (em suas variadas formas) e autoconhecimento, sobre buscar nosso lugar no mundo, sobre nossa história e nossas origens, sobre o impacto que temos na vida do outro, sobre escolhas e coisas que não escolhemos, sobre perdoar, sobre seguir em frente. Em suma, é um livro sobre a vida. Sobre viver, com seus altos e baixos, suas diversas direções e curvas fora do caminho. O título em português combina com o livro, pois o enredo de Marilyn e Angie se passa quando ambas possuem 17 anos, mas creio que o título original combine ainda mais: "In Search Of Us" ("Em busca de Nós"). Além disso, Ava Dellaira tem uma escrita cativante e poética, que encanta e nos desperta reflexão por meio da bela história que criou e pela maneira como usa as palavras para contá-la. 


Recomendo demais a leitura! É uma obra interessante, bonita e delicada, que certamente vale a pena e que vai te encantar também :)



ALGUMAS CITAÇÕES FAVORITAS 🌸

"[...] - Como você sabia... o que queria fazer? Ou tipo, como virar adulta.
Cherry ri.
- Acho que ainda não sei. - Ela manobra o carro e desliga o motor. - Acho que crescer é algo que continua acontecendo, que está sempre acontecendo, pelo menos quando se tem uma vida honesta. E você já está no caminho. Escolheu vir aqui procurar seu pai. Não sei se foi uma decisão boa ou não, mas fez o que achava que devia. Alguém me disse uma fez para fazer a próxima coisa certa. Acho reconfortante pensar desse jeito." - Página 252

" - Acho que acredito em fantasmas - ela diz. - Não tipo assombrações, mas a ideia de que todos os que morreram ainda fazem parte de nosso mundo, quase como uma onda de energia. Quer dizer, herdamos tudo. A linguagem, o país, até o DNA... Mas também falo das coisas mais difíceis de nomear. Acho que todos carregamos os fantasmas das pessoas que vieram antes de nós." - Página 378

"Quando ela sai para a rua e volta para o hotel, vê as montanhas brilhando num rosa impossível, as cores do pôr do sol mais brandas, mas ainda lá, uma luz quente piscando à frente. O ar parece elétrico e cheio de promessas. Ela faz um desejo: que o bebê dela e de James tenha uma vida cheia de belezas daquele tipo." - Página 442

Dedicatória no meu livrinho e o marcador de páginas que o acompanha