terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Resenha: "Arlindo"

dezembro 20, 2022 0 Comments
ARLINDO
Autora:
 Luiza de Souza (@ilustralu) 
Editora: Seguinte
Número de páginas: 200
Nota: 4,8/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje eu trago a resenha de "Arlindo", livro que adquiri por meio do Dia do Quadrinho Grátis. Esse dia na verdade foi final de semana passada, nos datas10 e 11 de dezembro. Eis o que diz o site do evento: 

"Como o nome já diz, o Dia do Quadrinho Grátis é um dia em que as lojas especializadas participantes, espalhadas pelo país, distribuem quadrinhos gratuitamente para todo mundo que entrar na loja! Um evento, inspirado no “Free Comic Book Day” americano, que já está em sua quinta edição no Brasil! O Dia do Quadrinho Grátis acontecerá nos dias 10 e 11/12/2022, durante um evento, organizado pela Editora Devir, chamado: Virada Nerd.[...] A Amazon.com.br distribuirá gratuitamente a versão digital de uma seleção de quadrinhos, com exclusividade [...]"


Eu fiquei sabendo da iniciativa por causa do Instagram da Seguinte, editora que publicou "Arlindo", pois este era um dos livros disponíveis para serem baixados gratuitamente no site da Amazon. Como era um livro que eu já queria ler há bastante tempo, corri para adquirir o meu! Achei a iniciativa super bacana, porque facilita o acesso a esse tipo de literatura e ainda ajuda a divulgá-la, de forma legalizada. Mesmo que você não tenha um Kindle, você pode acessar o livro por meio do aplicativo do Kindle no celular ou pelo site https://ler.amazon.com.br. Eu, por exemplo, mesmo tendo o e-reader, preferi ler pelo meu celular porque no Kindle as imagens são preto e branco (e as cores em Arlindo são muito bem trabalhadas e lindas!!!). A forma como a autora utilizou as cores rosa, amarelo e azul também torna o livro visualmente ainda mais bonito, pois ela combinou perfeitamente as cores com a fofura que é a história e com seus traços dinâmicos e também bonitos. 


    Explosão de cores!!!!

A obra acompanha o adolescente Arlindo (ou "Lindo", para os mais íntimos) em uma pequena cidade conservadora do Rio Grande do Norte em meados dos anos 2000. Assim, podemos ver a sua relação com os colegas, amigos, familiares e também podemos perceber como a homofobia é bastante presente e limitante, não apenas em sua vida, mas na de qualquer pessoa LGBTQIA+. O protagonista precisa lidar com a falta de acolhimento do pai, extremamente homofóbico e machista, com as fofocas da cidade sobre a sua sexualidade, e, ainda, com as zoações na escola, pelo simples fato de ele ser quem ele é. Nesse aspecto, Arlindo encontra apoio em seus amigos, Mari, Lis, o novato Pedro e Luis Felipe, na sua tia, mãe, avó e também na figura de sua irmã caçula. A forma como essas relações são construídas é bastante convincente e fofa, fazendo com que o tema da amizade e família sejam bastante recorrentes e importantes na história. É muito bonito ver como a quadrinista retrata os sentimentos e as relações das personagens, de forma tão delicada e sutil que se torna encantador observar o mudinho de Arlindo, mesmo que por um breve momento, já que se trata de uma leitura bem rapidinha e gostosa de se fazer. As personagens são verdadeiramente cativantes! 


Além disso, "Arlindo", como consequência da época em que o enredo se passa, é recheado de referências aos anos 2000! Como eu não vivi essa época (quero dizer, em 2009, final da década, eu tinha apenas 3 aninhos. Não conta muito, conta?), foi muito legal poder vivenciar através dos quadrinhos coisas que eram super comuns naquela época e que hoje em dia não são mais recorrentes ou simplesmente não existem mais, como locadoras, troca de mensagens por MSN, DVDs e CDs (mas, no caso destes, eu usava bastante até 2016\2017, quando eu comecei a usar o streaming), etc. Existem também inúmeras referências musicais, com destaque para Pitty e para Sandy e Júnior. Elas estão presentes através dos CDs, das cantorias cotidianas, simples conversas e, até mesmo, em uma espécie de status do MSN, em que você podia escrever uma frase (muitas pessoas usavam para colocar trechos de música). Achei super legal que várias das músicas eu conhecia e gostava!! Teve também referência ao The Smiths e à música "Eu não sei dançar", da Marina Lima, que eu recomendei na penúltima postagem. Enfim, adorei isso!! Outro aspecto super legal é brasilidade fortemente presente na obra. É fácil se identificar com as personagens e com as falas delas, e achei engraçado como um monte de coisa que a mãe de Arlindo fala a minha também diz. Isso faz com que nos conectemos ainda mais com aquele universo, como se realmente fizéssemos parte da turminha do Arlindo e estivéssemos lá, torcendo por ele. 


MSN! 

"Arlindo" é uma obra belíssima, tanto visualmente como com relação à sua história, que fala, sobretudo, sobre amor, acolhimento e sobre ser quem se é, enquanto busca seu lugar no mundo. Vale super a pena a leitura, que dá gostinho de quero mais, aquece nosso coração e nos presenteia com esperança. Assim, fica bem claro que a beleza do livro não se restringe ao título: é lindo, lindo, lindo. 


<3

domingo, 18 de dezembro de 2022

Resenha: "Romance Real"

dezembro 18, 2022 0 Comments
ROMANCE REAL
Autora:
 Clara Alves
Editora: Seguinte
Número de páginas: 262
Nota: 3/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Romance Real", livro que estava na minha lista e que ganhei de presenta de uma amiga minha num amigo secreto. Ele foi escrito por Clara Alves, autora de Conectadas, e me lembro de ter gostado do livro na época que li. A proposta básica de "Romance Real" era que esta fosse uma história tipo os contos de fadas, porém sáfica, ou seja, retratando o relacionamento entre duas mulheres, não necessariamente lésbicas. A proposta é interessante, mas a leitura não me prendeu de verdade em nenhum momento. De qualquer forma, foi boa para passar o tempo. 


Primeiramente, "Romance Real" vai acompanhar a trajetória de Dayana depois que ela se muda para Londres para morar com o pai, Roberto, já que a sua mãe havia falecido há pouco tempo. No entanto, ela não via o pai há dez anos, desde que ele se mudou para a Inglaterra para tentar ganhar mais dinheiro, tivera seus planos frustados, e conhecera outra mulher lá. Então, acabou permanecendo e nunca mais voltou ao Brasil. Com a morte da mãe, Dayana propõe aos avós (com quem ela inicialmente passou a morar) que ela vá para Londres para viver com o pai, e os avós acabam aceitando, para a surpresa da protagonista, que não pensava que os avós fossem levar o pedido a sério. Essa mudança se mostra um grande desafio para ela, pois precisaria conviver com o homem que a abandonou quando ela ainda era uma criança, além de ter que lidar com a madrasta, Lauren, e a sua filha, Georgia. Mesmo que Londres fosse um sonho que compartilhava com a mãe, Dayana não se sentia bem naquela cidade, naquela casa, e a falta da figura materna era um vazio dentro de si. 


Nos seus primeiros dias na capital inglesa, Dayana vai passear pela cidade e passa pelo Palácio de Buckingham. Enquanto admirava a faixada do lugar, uma garota de cabelos ruivos (que também se chamava Diana) escala as grades do Palácio e cai em cima de Dayana. Ela estava fugindo, desesperada, e Dayana acaba se juntando à menina, mesmo sem entender a razão de sua fuga. Ambas as garotas acabam se aproximando, e a companhia de Diana torna aquela cidade mas suportável na concepção da protagonista. 


Assim, com o passar do tempo, segredos são revelados, por parte de todos. 


Ela tinha uma voz rouca, meio grave, daquelas que vão no fundo da alma e reverberam dentro da gente

 

Como disse no começo desta resenha, o livro não me prendeu tanto. Dayana é uma personagem  irritante em diversos momentos: impulsiva, imatura, grossa. A gente compreende as suas dores, a sua raivas e as suas revoltas, mas isso não justifica a forma como ela trata as personagens do livro (e eu não estou nem falando apenas do núcleo familiar de Londres).  Vi algumas pessoas reclamando que o romance entre Dayana e Diana tinha sido "do nada" porque foi quase como um amor à primeira vista, mas isso não me incomodou porque, tendo em vista a premissa da história de se assemelhar a um conto de fadas, é algo que faz sentido e funciona nesse contexto. No entanto, o livro é mais focado na vida de Dayana e nas relações que ela constrói com sua nova família do que no romance de fato. Apesar disso, o romance tem um papel de destaque e de grande importância na história. 


Marcadores que vieram para recortar no livro


Um bom livro para passar o tempo, mas nada além disso. Não senti conexão com a história, nem com as personagens. De qualquer forma, a que eu mais gostei foi Lauren. Enfim. Outro aspecto que eu não curti muito foi que a resolução de alguns conflitos também foi pouco convincente... Sobre os pontos positivos, cito as várias referências a Londres, seja descrevendo a própria cidade, seja falando sobre filmes que a retratam, como Um lugar chamado Nothing Hill. Aliás, há inúmeras referências a este filme por aqui, o que me agradou bastante! Preciso revê-lo, assisti há muitos anos e não me lembro direito de muitas coisas. Também tem várias referências à One Direction, pois este é o grupo favorito de Dayana. No começo de cada capítulo, por exemplo, há um trechinho de alguma música deles. Imagino que isso torne a experiência do livro mais legal pra quem é fã deles, então achei bacana também, mesmo sem escutá-los. No entanto, creio que a autora poderia ter colocado os trechos acompanhados de traduções, para tornar a leitura mais acessível. Também gostei da maneira como Clara retratou o luto de Dayana, mostrando como isso realmente a afetava, de forma natural. 


"Romance Real" é uma obra para quem está buscando algo mais levinho, mas que aborda temas importantes mesmo assim (como abandono parental, luto e representatividade LGBTQIA+, entre outros). No entanto, não é um livro que eu curti tanto assim, apenas o suficiente. 


Quando eu estava com Diana, não era exatamente como se me sentisse inteira; eu não seria tão clichê. Mas a gente se ajudava a juntar os caquinhos e se sentir normal, apesar dos remendos. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

10 músicas para ouvir enquanto lê (parte 2)

dezembro 15, 2022 0 Comments

Oi, pessoal! Uns meses atrás escrevi um post recomendando 10 músicas para ouvir enquanto lê, e disse que pretendia trazer mais listas do tipo por aqui. Então, aqui estamos! =) Eis o link para a primeira parte desse tipo de lista, caso você ainda não tenha conferido: clique aqui :) 


1: A DIFFERENT AGE -  CURRENT JOYS

Estou bem viciada nesta música ultimamente. Gosto das partes que são sutilmente "gritadas", porque não é o tipo de grito esgoelado, é uma coisa mais tímida e sofrida, e são as partes que passam mais emoção. Enfim. Não sei se posso chamar de "grito" exatamente, mas só ouvindo pra entender o que eu quero dizer aqui. É uma música bem calminha, pra ser sincera. Ah, e tem um trecho da letra que eu considero bastante inteligente e verdadeiro, que é: 

"Como uma vida sem amor
Deus, isso é simplesmente insano
Mas um amor sem vida
Bem, isso acontece todos os dias" 

Coloquei a tradução pra ser mais direta. Enfim!




2: NEM LUXO, NEM LIXO - RITA LEE

Eu tinha recomendo "Mania de Você" na outra lista, e cá estamos novamente com a minha xará. As músicas da Rita Lee passam uma tranquilidade tão grande, e um pouco de nostalgia também. Não sei explicar ao certo, apenas fazem com que eu me sinta bem. Escolhi "Nem Luxo, Nem lixo" porque desde ontem estou escutando ela com mais frequência, me passando a sensação que descrevi aqui. Enfim, super calminha também, e vale a pena conferir! Talvez você já conheça, porque é bem famosa (assim como "Mania de Você"), mas, ainda assim, continua valendo a minha recomendação :)



3: WELL I WONDER - THE SMITHS

Fui dar uma recapitulada na primeira lista, e fiquei chocada quando não vi nenhuma música do The Smiths. Eu achava que tinha colocado! Pois bem, sendo assim, aqui está. "Well I wonder" é a minha música favorita deles, e a considero tão linda e melancólica (bom, as músicas da banda são). Gosto muito da melodia e da letra, especialmente nas partes que dizem "Please, keep me in mind" ("Por favor, me mantenha na mente"). É um pedido sincero, dolorido. Vale conferir canção toda!



4: CRIANÇA - TERNO REI 

Essa música é maravilhosamente boa, e eu estou completamente viciada! Sério. Já perdi as contas de quantas vezes eu já ouvi a canção desde que a descobri, por causa de uma matéria no site Tenho Mais Discos que Amigos. 
A melodia é tranquila e contagiante e a letra também é interessante. Com certeza vale a pena escutar e conferir o clipe ;)



5: WHAT ONCE WAS - HER'S 

Conheci esta música por causa de um vídeo que apareceu pra mim no Instagram, e desde então, não paro de escutá-la! Muito boa, e passa a sensação de leveza. Ótima para acompanhar os momentos de leitura!



6: BARBOSA - CIDADE DORMITÓRIO

Já havia ouvido falar da banda, mas estou escutando desde que o Spotify recomendou uma música deles pra mim. Eu ia pular a música, porque não tinha curtido tanto, mas antes, fui no perfil deles e descobri que são sergipanos, assim como eu! Eu achei isso super legal, e, assim, resolvi dar mais uma chance, ouvindo outras canções. E, sério, que eu bom que eu fiz isso! Acabei descobrindo muita coisa legal, e "Barbosa" foi uma dessas coisas. Não sai da minha cabeça, coloco pra tocar o tempo inteiro e cantarolo por aí. "Quando chegar a hora de me esquecer, esqueça", é meu trecho favorito, o que talvez seja um pouco engraçado, quando você compara com meu trecho favorito de "Well I Wonder". Enfim, fica a aqui a recomendação!



7: ONLY IN MY DREAMS - THE MARÍAS

Essa música é realmente um sonho (desculpa o trocadilho ruim)! Ela soa muito leve, muito relaxante, e colocá-la no repeat é quase inevitável. Enfim, recomendo bastante. Eu uso muito a palavra transcendental para descrever as coisas, mas eu não encontro uma palavra melhor para descrever esta música. 



8: TENTA ACREDITAR - ANAVITÓRIA 

Lançada no álbum mais recente da dupla, adoro a sonoridade contagiante da música. Quando chega ao refrão, é muito difícil não se empolgar e cantar junto! De qualquer forma, a canção adiciona mais emoção à leitura, e vale bastante a pena. 



9: SOMETIMES - MY BLOODY VALENTINE

Apesar do som alto das guitarras distorcidas, "Sometimes" é uma música que eu considero calma. Ela também é, inegavelmente, melancólica, e gosto dela desde a primeira vez que a escutei. A primeira frase da música, "Close my eyes, feel me now" ("Feche meus olhos, sinta-me agora") é muito bacana, e a considero bem poética. Simplesmente amo essa música!  



10: NÃO SEI DANÇAR - MARINA LIMA 

Esta aqui é bem tristinha. A letra e o ritmo são bastante melancólicos e combinam perfeitamente um com o outro, e gosto bastante do refrão, que diz: "Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar" 💔. É o tipo de música que eu imagino na cena de algum filme, algo do tipo. Enfim, muito boa.


POR HOJE É SÓ, PESSOAL! 🌸

Obrigada por terem lido até aqui, e espero que tenham gostado das minhas recomendações. Caso vocês gostem de alguma música que citei, ou queiram recomendar alguma outra, fiquem à vontade para escrever nos comentários! Eu adoraria ler o que vocês têm a dizer :)
Assim como ocorreu com a "parte 1", deixei muitas músicas de fora, o que me dá margem para escrever uma parte 3 no futuro. Veremos, veremos. Até lá, boas leituras e boas músicas para escutar!

sábado, 10 de dezembro de 2022

Resenha: "Se a casa 8 falasse"

dezembro 10, 2022 0 Comments
SE A CASA 8 FALASSE
Autor:
 Vitor Martins
Número de páginas: 336
Editora: Globo Alt
Nota: 4,8/5 ⭐


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Se a casa 8 falasse", terceiro livro do Vitor Martins que eu leio. Sou fã dele, sério! Ganhei este livro de presente de aniversário do meu tio, em Setembro, e o li em outubro. Eu disse, estou atrasada com as resenhas por aqui... mas devagar a gente vai tirando o atraso. Ai, ai... perdão, galerinha. 


O título do livro é bastante autoexplicativo... Vitor Martins escreveu a história durante a pandemia, em que tivemos que ficar trancados dentro de casa. Assim, em um momento em que a casa era o único lugar em que podíamos estar, ele usou toda a sua criatividade para dar vida ao lar e às suas vivências, partindo da seguinte premissa: como seria se a nossa casa pudesse contar a história de seus moradores? Ouvir, sentir e presenciar de fato tudo o que ocorre dentro dela? Uma proposta muito interessante, e, ao concluir o livro, nos pegamos com o mesmo questionamento. Qual seria a história que a nossa casa contaria da gente? Vitor Martins concretiza isso a partir da ficção, e amo como a literatura torna possíveis contextos como este. Dessa forma, a Casa 8, da Rua Girassol, conta para nós a história de seus moradores em 3 décadas diferentes: 2000, 2010 e 2020. 


Ana, nos anos 2000, vai se mudar de cidade por conta de uma proposta de emprego recebida pelo pai, e a história gira em torno de o que essa mudança significa para ela, ao mesmo tempo em que vamos conhecendo mais de seu cotidiano e de seus sentimentos. Seu pai a cria sozinha porque a mãe dela faleceu durante o parto, e Ana precisa lidar com o fato de nunca ter conhecido a mãe, além de ela ser lésbica, ter uma namorada e ainda não ter se assumido para o pai. Agora que ela está indo para outra cidade, o futuro é um enigma, e Ana precisa lidar com as incertezas e com as mudanças que a vida impõe, descobrindo mais sobre si mesma e sobre como as coisas serão dali para a frente. 



Nos anos 2010, nós somos introduzidos a Greg, que vai passar um tempo com a sua tia (com quem ele não tem nenhuma intimidade) na cidadezinha de Lagoa Pequena, na casa 8, enquanto seus pais resolvem questões do próprio divórcio. Como a sua tia é dona de uma locadora, ele passa a trabalhar lá, mesmo que locadoras estejam em decadência. Com o passar do tempo, ele vai se acostumando com a sua residência temporária, fazendo novos amigos e amadurecendo. Além disso, a sua tia é obcecada por Keanu Reeves e tem um cachorrinho com o nome dele, o que eu achei bem bacana. Não julgo. Se eu tivesse um animalzinho, ele se chamaria Alex Turner! 


Já em 2020, acompanhamos Beto tendo que lidar com a pandemia e com todos os desafios que ela impôs, como a quarentena e medo constante de pegar o coronavírus. Somado a isso, ele também teve que adiar o seu sonho de ir a São Paulo para perseguir a carreira de fotógrafo, o que o deixa bastante frustrado e inseguro. Sua irmã, que havia se mudado para estudar, retorna para passar a quarentena com Beto e a mãe, e o protagonista vai descobrir que os conceitos que tinha estabelecido sobre a irmã estavam equivocados. Assim, Beto passará a conhecer mais sobre si mesmo, terá que lidar com as suas frustações e limitações e aprenderá mais sobre as pessoas que ama. 


É muito interessante a forma como Vitor Martins escolheu contar as histórias, através de diferentes gerações e pela ótica da casa. Podemos acompanhar as mudanças que ocorrem com o tempo e o crescimento das personagens, o que é gratificante. O autor tem uma forma tão delicada de contar suas histórias, é encantador! Em muitos momentos, acabamos nos identificando com as personagens e com seus dilemas sobre si mesmos, sobre o futuro e sobre a realidade que os cerca, o que torna a obra ainda melhor. Além disso, todos os protagonistas são LGBTs , e o tema é abordado com naturalidade e leveza pelo escritor. 


A história de Beto, particularmente, era uma história que eu estava receosa de ler, porque foi um período muito difícil que é complicado relembrar, mas o Vitor abordou esse contexto complicado sob uma perspectiva mais leve (afinal, leveza era tudo que precisávamos naqueles dias, e lembre-se de que foi durante aquele período em que o livro foi escrito) e traduziu os anseios de todos nós de forma verossímil e delicada. Aliás, todas as histórias carregam essa característica, e, sempre alternando entre as 3 gerações, ficava complicado definir uma favorita! Isto porque eu sempre achava que a história de uma personagem era a minha favorita até eu adentrar na próxima, e o ciclo se repetir, uma vez que as histórias são alternadas (o que em nenhum momento faz o enredo perder o fôlego e se tornar confuso). O relacionamento de Ana com o pai e com a sua namorada, Letícia, é adorável, assim como as relações que Greg constrói com a sua tia e com as pessoas de Lagoa Pequena. E, claro, não podemos deixar de citar a aproximação que Beto desenvolve com a sua família. 


Adoro a maneira como Vitor conseguiu captar momentos cotidianos e aparentemente banais e mostrar o quanto eles são especiais e bonitos, pois assim é a vida. Não é um livro com acontecimentos mirabolantes, é um livro de visão introspectiva sobre acontecimentos da vida das personagens. A narrativa se limita à visão da casa de fato, ou seja, não temos acesso ao que ocorre fora dela, apenas dentro ou em seus arredores, mas isso não é incômodo em nenhum momento. A obra foi, inclusive, finalista do prêmio Jabuti na categoria recém-criada "Romance de Entretenimento", e a indicação ocorreu logo depois de eu ter terminado a leitura! Fiquei bem feliz com a notícia. Enfim, Recomendo bastante a leitura! Afinal, "nossa casa é a gente", e o livro nos mostra exatamente isso. 


🌸 CITAÇÕES FAVORITAS 🌸

" - Aquele seu CD. Ele ainda está comigo - ela diz, finalmente
- Pode ficar com ele por quanto tempo precisar" - Página 77 (Contexto: esse é o código entre Ana e Letícia para dizerem que se amam durante as ligações que realizam). 

"Esqueça o esbarrão no corredor da escola, vizinhos com interesses em comum ou funcionários de cafeterias que puxam assunto com clientes. Ninguém se conhece desse jeito na vida real" - Página 116 /referência a "Um milhão de finais felizes" na parte sublinhada? :)

"Todos os dias parecem uma cópia ruim do dia anterior" - Página 123 

"Registrar os fracassos faz parte da jornada. 
Amanhã eles podem tentar algo novo" - Página 137

"Tudo o que temos é o agora." - Página 148

"Mudanças externas podem ser gatilhos para mudanças internas. Se enxergar de um jeito novo pode ajudar a ver seus problemas por outra perspectiva e trazer um pouquinho de estabilidade emocional" - Página 186

"BETO: uau, que específico. quem AMA terças-feiras?
NICO: minha mãe tem uma coleção com todos os dias da semana. Sei que dia é hoje só por causa das canecas. A pandemia já me tirou completamente a noção realidade. 
BETO: nicolas, hoje é sexta
NICO: meu deus????" - Página 194

"Talvez família seja mesmo uma coisa só do coração" - Página 297

"- [...] Tenho saudades de morar aqui, mas me dei conta de que a casa não é só um lugar. Nossa casa é a gente. [...] Às vezes a gente fica olhando a casa dos outros e pensando 'nossa, se morasse ali eu seria mais feliz', mas, no fim das contas, essa sensação de lar não vem de um lugar. Vem de dentro." - Página 331

Resenha: "Vejo você no espaço"

dezembro 10, 2022 0 Comments
VEJO VOCÊ NO ESPAÇO
Autor:
 Jack Cheng 
Editora: Intrínseca 
Número de páginas: 288
Nota: 4,7/5 ⭐️


Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Vejo você no espaço", que ganhei de uma amiga minha. A ideia, de uma professora, era fazer um amigo secreto com a turma com coisas que tínhamos em casa e não usamos mais, mas que estão em bom estado. Uma coisa sustentável e tal. Eu, minhas amigas e algumas outras pessoas participaram, e eu acabei ganhando "Extraordinário" de um colega meu. No entanto, como já li, troquei com meu colega que tinha pegado "Vejo você no espaço" , que, por sua vez, trocou com a minha amiga, pois ela estava ansiosa pra ler "Extraordinário". Soou meio confuso, mas eu espero que tenha dado pra entender. Enfim!


"Vejo você no espaço" é um livro adorável e que eu recomendo bastante! Lembro-me de que por volta de 2017 e 2018 sempre o via sendo vendido em uma livraria aqui da minha cidade, e achava a capa a coisa mais linda, mas nunca cheguei a comprá-lo de fato. Essa foi a oportunidade perfeita para finalmente lê-lo! E digo que não somente a sua capa é bonita, mas a história também é.


O enredo acompanha um garotinho de 11 anos chamado Alexander (Alex), que é bastante inteligente, curioso e que ama astronomia. Seu herói é o famoso cientista Carl Sagan, que gravou os sons da Terra em um disco de ouro para enviá-lo ao espaço para que os seres extraterrestres pudessem saber quais sons podem ser encontrados no nosso planeta. Inspirado por isso, Alex decide fazer o mesmo, mas gravando os sons em um Ipod dourado (ou seja: seu Ipod de ouro). Assim, ele constrói um foguete para enviar seu Ipod ao espaço, e tenta lançá-lo em um evento de lançamento de foguetes. Pelo que li, eu achava que o evento só ia ocorrer no final do livro, mas ele ocorre logo no começo! Isto porque o livro não gira em torno do lançamento do foguete, mas em torno da jornada de autodescoberta de Alex. 


O pai do garoto faleceu quando ele tinha apenas 3 anos, seu irmão mais velho mora em outro estado e é bastante ausente em sua vida e a sua mãe precisa lidar com problemas psiquiátricos (isso é algo que fica claro durante toda a leitura, mas só é realmente explicado no final). Dessa forma, Alex é uma criança autossuficiente e um tanto negligenciada, e a situação dele dá bastante pena. Ele viaja para o evento acompanhado apenas de seu cachorro, Carl Sagan (em homenagem ao seu herói). Quando o lançamento de seu foguete falha, Alex decide viajar com 2 amigos que conheceu no evento de foguetes, Zed e Steve, em busca de respostas sobre o seu pai, pois recebeu um e-mail de um site sobre genealogia que dizia que seu pai havia se casado em outro estado muito tempo atrás (e não era com a mãe dele). Acreditando que ele ainda poderia estar vivo, pois tanto a mãe de Alex como o seu irmão falavam pouco dele, Alex está disposto a reencontrá-lo, reunir a sua família e obter as respostas que tanto deseja. Durante toda a sua trajetória, conhece novas pessoas e faz vários amigos, como uma menina chamada Terra, que tem bastante importância no enredo. 



É o tipo de história em que acontece muitas coisas, e em nenhum momento ela fica cansativa ou entediante. Alex é uma personagem cativante, e sua ingenuidade infantil realmente encanta. Torcemos por ele durante todo o livro, e é ótimo poder acompanhá-lo enquanto ele descobre mais sobre si mesmo e continua registrando sua jornada no Ipod de ouro. Aliás, algo bastante interessante sobre o livro é que os capítulos são os áudios que Alex grava! Assim, nos conectamos ainda mais com a história, e as pessoas falam muito bem da experiência com o audiobook. Enfim! As outras personagens também encantam, e todos parecem pessoas reais, entende? Outra coisa muito legal é que Alex não desiste após a queda de seu foguete, e continua planejando próximos lançamentos, sempre mantendo a esperança viva. Não apenas com relação ao seu sonho, mas Alex também tem esperança nas pessoas, de forma genuína. É lindo. O livro também é cheio de piadinhas de tiozão com astronomia, pois Alex tem fascínio por elas, o que eu adorei! Por exemplo: "Por que o gato mia para a Lua, mas a lua não mia para o gato? [...] Porque astronomia!"


"Vejo você no espaço" é o tipo de história que eu gostaria que virasse filme, e que parece ser sobre algo mais simples e superficial, mas que, no final, se mostra ser sobre algo muito maior. Surpreendente, leve e adorável! Lembrou-me do meu priminho que também ama astronomia... Recomendo muito! Uma obra sobre amor, família e, também, sobre manter a esperança e ser forte. 


✿ CITAÇÕES FAVORITAS ✿


"MÃE DA LACEY: Lacey, quando a gente não tem nada legal a dizer sobre uma pessoa, a gente...?

LACEY: ...

MÃE DA LACEY: A gente faz o quê, Lacey?

Lacey: A gente não diz nada." - Página 32 


"Um dia, ele me perguntou se eu ficava triste por não ter um pai, e eu perguntei Você fica triste por não ter um dinossauro? O Benji disse que não sabia, porque nunca tinha tido um, e eu respondi que sentia a mesma coisa sobre não ter um pai." - Página 19


"Mas meu herói sempre dizia que o conhecimento é melhor que a ignorância, que é melhor descobrir e aceitar a verdade, mesmo que ela não seja agradável" - Página 67


"Não adianta ser forte só quando se está feliz. Isso não é ser forte." - Página 100

domingo, 4 de dezembro de 2022

Resenha: "Téo & o Mini Mundo: Quentinho no coração"

dezembro 04, 2022 0 Comments

TÉO & O MINI MUNDO: QUENTINHO NO CORAÇÃO
Autor:
 Caetano Cury
Editora: Publicação Independente
Número de páginas: 120
Nota: 4,5/5 ⭐


Oi, pessoal! Estou oficialmente de férias, desde o dia primeiro de dezembro. Ainda estou devendo umas resenhas, mas uma hora vou sentar pra escrevê-las. Sério, gente. Desde o último post, muita coisa aconteceu. "As semanas mais tranquilas na escola" que eu falei na última postagem passaram voando (e eu não escrevi as resenhas, desculpaa), eu viajei pro Rio de Janeiro e assisti ao show do Arctic Monkeys (belíssimo, magistral, perfeito, perfeito), e, quando voltei pra minha cidade, a escola me entupiu rapidinho de provas e trabalhos. Ao longo de novembro eu tive que segurar o fôlego pra dar conta de tudo! Aí agora finalmente posso respirar tranquilamente e fazer o que há de pendente! Sentia falta daqui, galerinha. Ensino Médio não é fácil. Mas vamos lá!


Minha primeira leitura das férias foi "Téo & o Mini Mundo: quentinho no coração", que eu peguei emprestado da minha madrinha. Já li outro livro do Téo: este aqui (clique pra ser redirecionado à resenha), e acompanho as tirinhas no Instagram.

 

Eulália: O monjolo não é aqui. Acho que você errou o caminho.

Téo: Não errei! Não errei!

Eulália: Quando você assume que não tem razão você passa a ter razão!

Téo: Tá bom, eu errei o caminho...

Eulália: Esse é o caminho. Parabéns.

     

Téo & o Mini Mundo é uma webcomic (série de tirinhas\histórias em quadrinhos publicadas na internet) que acompanha o protagonista Téo e a borboletinha Eulália em uma série de diálogos inteligentes sobre diversos aspectos da vida. Assim, as tirinhas propõe reflexões, quentinhos no coração (como sugere o subtítulo do livro), bom humor e críticas, tudo com extrema sensibilidade. A obra conta com produções dos últimos 2 anos, e possui diversas tirinhas ao longo de 120 páginas. Os desenhos são fofos e belíssimos, além de combinarem perfeitamente com a sutiliza dos diálogos e reflexões propostas. 


Uma leitura bem rápida, para você admirar e pensar, recheada de tirinhas delicadas para desacelerarmos. Recomendo! Link para comprar o livro: https://www.lojinhadoteo.com.br/livro-teo-e-o-mini-mundo-vol.-3-quentinho-no-coracao

Para finalizar, eis minha tirinha favorita:

Minha tirinha favorita do livro.

sábado, 22 de outubro de 2022

Minha opinião sobre o "The Car", novo álbum do Arctic Monkeys

outubro 22, 2022 0 Comments
THE CAR
Banda:
 Arctic Monkeys
Duração: 37 minutos
Data de lançamento: 21 de outubro de 2022
Nota: 4,5 ⭐
Ouça aqui: Spotify * YouTube * Apple Music * Amazon Music



Oi, galerinha! Sei que andei sumida, mas é por causa da escola. Tenho algumas resenhas pra fazer, de livros que li recentemente, mas, como essas semanas serão mais tranquilas, vou escrever em breve ;) Nunca fiz a resenha de um álbum, mas pra tudo tem uma primeira vez, não é mesmo?  Hoje, portanto, vamos ao que achei do "The Car", sétimo e mais novo álbum de estúdio do Arctic Monkeys! <3 Foi lançado ontem, dia 21 de outubro, e já dei várias escutadas!

Ah, já adianto que gostei do álbum, que segue a linha do "Tranquility Base Hotel & Cassino", mas, como Alex Turner bem disse, o "The Car" seria um retorno à Terra, se distanciando da sonoridade de ficção científica e espacial de seu antecessor. Talvez por isso seja mais fácil gostar dele "de cara" do que do Tranquility Base (pelo menos foi assim pra mim), embora eu acredite que ambos valham a pena. Isso não significa que eu goste mais do "The Car", até porque eu acho que ainda tá cedo pra eu sair definindo isso. Enfim.


Primeiramente, eu gostaria que as pessoas entendessem que o Arctic Monkeys está tomando novos rumos e que é bom que eles se aventurem em experimentações e saiam da zona de conforto que insistem em inseri-los. Ok, os primeiros álbuns realmente são maravilhosos e eu amo, e tá tudo bem não gostar do novo som deles, mas eles não são mais os meninos de 20 anos que eram quando o álbum de estreia deles foi lançado. As músicas deles atualmente refletem quem eles são hoje, e prender-se ao passado é injusto com os caras. Reclamar das mudanças deles e desmerecer toda a trajetória da banda em prol de um passado que não existe mais é realmente injusto. O importante é que eles seguem fazendo o que gostam, e, pelo que falaram em entrevistas, eles realmente se divertiram no processo de gravação do "The Car". E essa é uma das coisas que mais gosto no Arctic Monkeys: eles se mantêm fiéis à própria essência, ao que eles gostam de fazer, e buscam sempre experimentar e inovar dentro de seu próprio som, mesmo que isso acabe desagradando alguns. Se o interesse deles fosse puramente comercial, eles já teriam feito um "AM parte 2" há muito tempo. E bem que eles tentaram "retornar às origens",  mas os resultados não estavam agradando, e, como afirmou Alex Turner, eles estavam soando como uma paródia de si mesmos. Eu, sinceramente, acho incrível que eles fujam desse conceito de se repetirem. Como disse, está tudo bem não gostar e dizer que não gosta. Afinal, gosto é gosto e não se discute, mas desmerecê-los pelo álbum é claramente incompreensão da trajetória deles.


Dito isso, vamos ao que eu achei. Quando eles estrearam "I Ain't Quite Where I Think I Am" em um dos primeiros shows dessa nova era, bem antes do lançamento do álbum, eu admito que não curti muito e fiquei com um forte pé atrás. Mas então, um tempinho depois, eles lançam o primeiro single: "There'd Better Be a Mirrorball", e, como falei em um post daqui, eu chorei um pouquinho com a música, porque eles realmente estavam de volta e porque eu achei a música linda. Pronto, já estava mais animada! E, tendo escutado todas as 10 músicas, posso dizer que é a minha favorita! Aliás, todas as canções parecem ter saído da trilha sonora de algum filme, o que eu achei bem massa e me faz ficar imaginando cenas que combinariam com elas :)

Mas vamos falar faixa por faixa, pela ordem que aparece no álbum.



There'd Better Be a Mirrorball é melancólica, tanto em sua letra ( que, na minha opinião, fala sobre término) como em sua sonoridade, e eu amo músicas nesse estilo, então foi bem fácil gostar dela. O clipe também está bem massa, e foi dirigido por Alex Turner! Gostei muito da abertura, que mostra o Alex tocando piano com uma luz refletindo em seus cabelos, o que deixa o vídeo ainda mais bonito. Além disso, gostei bastante da fonte usada para anunciar o nome da canção, pois combinou bastante. É um clipe bonito, em vemos vários takes da banda e que e combinou muito com a melancolia da música. 


I Ain't Quite Where I Think I Am foi o terceiro single, lançado pouco antes do álbum. Achei chatinha nas primeiras vezes em que escutei (antes do lançamento oficial), mas, à medida que eu ia ouvindo, eu ia me acostumando ao som e achando mais legalzinha.  Quando eu descrevi a canção na postagem que eu fiz sobre o anúncio do álbum, eu usei exatamente esse termo (legalzinha) como um eufemismo, porque eu não sabia se aquela seria a sonoridade do álbum todo e porque eu também queria ouvir a versão de estúdio pra formular melhor minha opinião.  De qualquer forma, estou dando mais chances a ela, pois sempre tem alguma música que não gosto de primeira e que depois de um tempo passo a gostar. Ainda não acho tudo isso, mas tem umas partes interessantes (o começo, antes de Alex começar a cantar, por exemplo). Apesar disso, essa bendita ficou na minha cabeça durante uma manhã inteira, feito chiclete. Vai entender. De qualquer forma, é bacana que o Arctic Monkeys esteja se propondo a explorar novos sons, mesmo que, nesse caso em específico, não tenha me agradado tanto. 


Sculptures of Anything Goes era a canção que eu estava mais animada pra ouvir. Antes de sair aqui no Brasil, o álbum já tinha sido lançado em vários lugares por causa da diferença de fuso-horário, e a maioria das pessoas estavam dizendo que essa era a melhor do álbum. Bom, eu humildemente discordo. Eu gostei, mas está longe de ser uma das minhas favoritas. O som bastante cinematográfico é bem massa e faz com que eu me sinta em um filme, mas não achei isso tudo que estavam falando.


Quando eu ouvi Jet Skis on The Moat pela primeira vez me veio logo a cena de um casal dançando lentamente pela sala. Ok, bastante específico, mas foi exatamente isso. Eu adorei! Bem calminha, tranquila, bonita. Me passa a sensação de poesia, de olhar para o céu em uma noite estrelada e apreciar. Na verdade, não é a única música no álbum que me passa essa sensação. Falando de uma forma geral, creio que o "The Car" como um todo tenha essa energia. 


Body Paint foi o segundo single, e ouvi pela primeira vez em um vídeo com o áudio vazado de um show que eles fizeram, antes mesmo do lançamento oficial. Depois, eles também tocaram naquele talk show famoso dos Estados Unidos, o programa de Jimmy Fallon. E, sério, a versão ao vivo é ainda melhor, vale super a pena conferir. Enfim. Eu gostei muito! Na minha visão, a letra fala sobre o fim de um relacionamento (talvez eu esteja enganada, mas é dessa forma que eu interpreto). Há um trecho que, particularmente, achei interessante e melancólico (tendo em vista a minha interpretação da música como um todo é claro), que é: "And if you're thinking of me, I'm probably thinking of you" ("E se você está pensando em mim, eu provavelmente estou pensando em você"). Outro trecho que eu gostei, é um que se repete bastante: "There's still a trace of body paint on your legs and on your arms, and on your face" ("Ainda há um rastro de pintura corporal, nas suas pernas e nos seus braços e no seu rosto"). Eu interpreto essa parte sobre as marcas desse relacionamento, que foram deixadas na outra pessoa. Talvez eu esteja viajando? Provavelmente, mas pra mim sentido. Ah, e o clipe é bem top, vale a pena conferir. Achei melhor do que o de There'd Better Be a Mirrorball, tendo estilo de filme mesmo!


The Car (a música) tem um começo muito bonito, que passa sensação de infinito, sabe? Depois, a canção prossegue com um som instigante, cinematográfico e melancólico, palavras que, vocês já devem ter percebido, descrevem bem o álbum como um todo. Merece um clipe, ia ficar bem massa! 


Big Ideas soa autobiográfica, como vi algumas pessoas apontando e como fica notório no seguinte trecho (vou colocar logo a tradução porque é longuinho): "Eu tive grandes ideias, a banda estava tão animada/ O tipo que você prefere não compartilhar por telefone / Mas agora a orquestra tem todos nós cercados". O som do The Car é certamente mais orquestral do que o dos álbuns anteriores, algo que fica evidente em praticamente todas as faixas e pela presença constante de violinos, então eu realmente acredito que Big Ideas seja sobre a própria banda. No entanto, meu trecho favorito é: "The ballad of what could have been" ("A balada do que poderia ter sido"), porque se aplica a outras situações fora, inclusive, do contexto da banda. Eu achei uma frase bem legal!


O começo de Hello You me lembrou bastante o AM, especificamente Knee Socks. Mas de uma forma diferente, realmente mais orquestrada. É como se Knee Socks e o Everything You've Come To Expect (segundo álbum do The Last Shadow Puppets, banda paralela de Alex Turner) tivessem tido um filho, e esse filho é Hello You. Pra ser sincera, esse é o álbum do Arctic Monkeys que mais lembra o TLSP, e esta poderia ser facilmente uma música lançada pelo projeto paralelo do Alex, que vale muito a pena ser conferido. Gostei!


Mr. Schawartz é linda. Tem uma sonoridade romântica, e, assim como Jet Skis on The Moat, é o tipo de música que é fácil imaginar um casal dançando ao som dela. É o tipo de música pra se sentir, pra parar para apreciar. Sério, me pergunto o porquê de as pessoas não estarem falando tanto dela. É incrível!


O álbum fecha com chave de ouro. Perfect Sense é linda, contagiante, tristinha, lenta. Do jeitinho que eu gosto. Tem um trecho que eu achei bem interessante:  "Continue me lembrando que não é uma corrida/ Quando minha sequência invencível se transforma na reta final" e na hora que eu vi essa parte da música eu pensei em questões sobre comparação. Provavelmente nem é sobre isso, mas foi o que me veio à cabeça. Acho muito legal essas interpretações diversas que podemos ter sobre as coisas (quando elas permitem isso, é claro).


Em ordem de preferência, fica assim (provavelmente vai mudar, porque é o que sempre acontece, mas, nessas primeiras ouvidas, deu nisso):

1. There'd Better Be a Mirrorball

2. Body Paint

3. Mr. Schwartz

4. Perfect Sense

5. The Car

6. Jet Skis On The Moat

7. Hello You

8. Big Ideas

9. Sculptures of Anything Goes

10. I Ain't Quite Where I Think I Am


Se vocês forem no site do Letras (Letras.mus.br), pesquisarem por There'd Better Be a Mirrorball e  descerem a página, vocês vão encontrar meu nome e perfil lá, porque a canção foi enviada por mim hehehe ;) também enviei a tradução de The Car e a legenda de algumas músicas, como Body Paint. É realmente divertido contribuir por lá :) Enfimm


Vale a pena escutar o álbum, com a mente e com o coração abertos. "The Car" é um convite à introspecção, tão presente nas músicas, então, por que não? As mudanças são bem-vindas, e é interessante acompanhar a evolução do Arctic como banda. Recomendo! <3