SE A CASA 8 FALASSE Autor: Vitor Martins Número de páginas: 336 Editora: Globo Alt Nota: 4,8/5 ⭐ |
Oi, pessoal! Hoje trago a resenha de "Se a casa 8 falasse", terceiro livro do Vitor Martins que eu leio. Sou fã dele, sério! Ganhei este livro de presente de aniversário do meu tio, em Setembro, e o li em outubro. Eu disse, estou atrasada com as resenhas por aqui... mas devagar a gente vai tirando o atraso. Ai, ai... perdão, galerinha.
O título do livro é bastante autoexplicativo... Vitor Martins escreveu a história durante a pandemia, em que tivemos que ficar trancados dentro de casa. Assim, em um momento em que a casa era o único lugar em que podíamos estar, ele usou toda a sua criatividade para dar vida ao lar e às suas vivências, partindo da seguinte premissa: como seria se a nossa casa pudesse contar a história de seus moradores? Ouvir, sentir e presenciar de fato tudo o que ocorre dentro dela? Uma proposta muito interessante, e, ao concluir o livro, nos pegamos com o mesmo questionamento. Qual seria a história que a nossa casa contaria da gente? Vitor Martins concretiza isso a partir da ficção, e amo como a literatura torna possíveis contextos como este. Dessa forma, a Casa 8, da Rua Girassol, conta para nós a história de seus moradores em 3 décadas diferentes: 2000, 2010 e 2020.
Ana, nos anos 2000, vai se mudar de cidade por conta de uma proposta de emprego recebida pelo pai, e a história gira em torno de o que essa mudança significa para ela, ao mesmo tempo em que vamos conhecendo mais de seu cotidiano e de seus sentimentos. Seu pai a cria sozinha porque a mãe dela faleceu durante o parto, e Ana precisa lidar com o fato de nunca ter conhecido a mãe, além de ela ser lésbica, ter uma namorada e ainda não ter se assumido para o pai. Agora que ela está indo para outra cidade, o futuro é um enigma, e Ana precisa lidar com as incertezas e com as mudanças que a vida impõe, descobrindo mais sobre si mesma e sobre como as coisas serão dali para a frente.
Nos anos 2010, nós somos introduzidos a Greg, que vai passar um tempo com a sua tia (com quem ele não tem nenhuma intimidade) na cidadezinha de Lagoa Pequena, na casa 8, enquanto seus pais resolvem questões do próprio divórcio. Como a sua tia é dona de uma locadora, ele passa a trabalhar lá, mesmo que locadoras estejam em decadência. Com o passar do tempo, ele vai se acostumando com a sua residência temporária, fazendo novos amigos e amadurecendo. Além disso, a sua tia é obcecada por Keanu Reeves e tem um cachorrinho com o nome dele, o que eu achei bem bacana. Não julgo. Se eu tivesse um animalzinho, ele se chamaria Alex Turner!
Já em 2020, acompanhamos Beto tendo que lidar com a pandemia e com todos os desafios que ela impôs, como a quarentena e medo constante de pegar o coronavírus. Somado a isso, ele também teve que adiar o seu sonho de ir a São Paulo para perseguir a carreira de fotógrafo, o que o deixa bastante frustrado e inseguro. Sua irmã, que havia se mudado para estudar, retorna para passar a quarentena com Beto e a mãe, e o protagonista vai descobrir que os conceitos que tinha estabelecido sobre a irmã estavam equivocados. Assim, Beto passará a conhecer mais sobre si mesmo, terá que lidar com as suas frustações e limitações e aprenderá mais sobre as pessoas que ama.
É muito interessante a forma como Vitor Martins escolheu contar as histórias, através de diferentes gerações e pela ótica da casa. Podemos acompanhar as mudanças que ocorrem com o tempo e o crescimento das personagens, o que é gratificante. O autor tem uma forma tão delicada de contar suas histórias, é encantador! Em muitos momentos, acabamos nos identificando com as personagens e com seus dilemas sobre si mesmos, sobre o futuro e sobre a realidade que os cerca, o que torna a obra ainda melhor. Além disso, todos os protagonistas são LGBTs , e o tema é abordado com naturalidade e leveza pelo escritor.
A história de Beto, particularmente, era uma história que eu estava receosa de ler, porque foi um período muito difícil que é complicado relembrar, mas o Vitor abordou esse contexto complicado sob uma perspectiva mais leve (afinal, leveza era tudo que precisávamos naqueles dias, e lembre-se de que foi durante aquele período em que o livro foi escrito) e traduziu os anseios de todos nós de forma verossímil e delicada. Aliás, todas as histórias carregam essa característica, e, sempre alternando entre as 3 gerações, ficava complicado definir uma favorita! Isto porque eu sempre achava que a história de uma personagem era a minha favorita até eu adentrar na próxima, e o ciclo se repetir, uma vez que as histórias são alternadas (o que em nenhum momento faz o enredo perder o fôlego e se tornar confuso). O relacionamento de Ana com o pai e com a sua namorada, Letícia, é adorável, assim como as relações que Greg constrói com a sua tia e com as pessoas de Lagoa Pequena. E, claro, não podemos deixar de citar a aproximação que Beto desenvolve com a sua família.
Adoro a maneira como Vitor conseguiu captar momentos cotidianos e aparentemente banais e mostrar o quanto eles são especiais e bonitos, pois assim é a vida. Não é um livro com acontecimentos mirabolantes, é um livro de visão introspectiva sobre acontecimentos da vida das personagens. A narrativa se limita à visão da casa de fato, ou seja, não temos acesso ao que ocorre fora dela, apenas dentro ou em seus arredores, mas isso não é incômodo em nenhum momento. A obra foi, inclusive, finalista do prêmio Jabuti na categoria recém-criada "Romance de Entretenimento", e a indicação ocorreu logo depois de eu ter terminado a leitura! Fiquei bem feliz com a notícia. Enfim, Recomendo bastante a leitura! Afinal, "nossa casa é a gente", e o livro nos mostra exatamente isso.
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